Caminhão de Histórias "estaciona" em São José dos Pinhais com exposição inspirada na obra infantojuvenil de Clarice Lispector
"A Casa que anda. Que mistérios tem Clarice?" traz interações e atividades criadas especialmente para o projeto, retratando temas como a casa, a natureza, o amor e os mistérios da vida emocional
Com
sua personalidade enigmática e uma linguagem poética e inovadora, Clarice
Lispector (1920-1977) é, merecidamente, cultuada em todo o mundo como um dos
maiores nomes da nossa literatura. Inspirado por suas obras, o Caminhão de
Histórias, um caminhão-baú de 15 metros, adaptado para receber mostras
culturais interativas, apresenta a exposição “A Casa que anda. Que mistérios tem Clarice?”
baseada nos livros ‘A vida
íntima de Laura’, ‘O
mistério do coelho pensante’ e ‘A mulher que matou os peixes’. O projeto
fica no Núcleo de Esporte
e Lazer Quississana, entre
os dias 29 de agosto e 02 de setembro, com entrada gratuita, e
visa a atender ao público circulante, bem como um amplo programa para escolas
públicas e privadas do Estado.
Com
curadoria de Eucanaã
Ferraz, poeta, consultor de literatura do Instituto Moreira
Salles (IMS) e professor de literatura brasileira na Faculdade de Letras da
UFRJ, e com direção artística e cenografia de Daniela Thomas, cineasta, diretora teatral,
dramaturga e cenógrafa, e intervenções artísticas dos artistas plásticos Maria Klabin, Marcela Cantuária, Raul
Mourão e
Mariana Valente, “A Casa que anda” apresentará atividades e
reflexões sobre o universo infantojuvenil da criação de Clarice de Lispector a
partir de histórias que dialogam com seus jovens leitores, despertando
curiosidades sobre sentimentos e emoções, que evocam inúmeras reflexões.
Segundo
Eucanaã Ferraz, “a obra de Clarice Lispector tem um raro poder de atração, não
importando a idade e outros traços particulares de quem a lê. Sua palavra é,
nesse sentido, universal. Não há dúvida de que associar a escrita com a
materialidade das artes visuais e as experiências propriamente lúdicas será
impactante para todos que passarem pela ‘Casa que anda’. Também é importante
observar que a maior parte das narrativas de Clarice se passa nos ambientes
domésticos e, desse modo, criar um ambiente de experiências sensoriais e
estéticas numa ‘casa’ trará para mais perto do público o mundo mágico e
atraente da autora”, ressalta o curador.
O encantamento começa com o próprio baú do caminhão, totalmente adesivado com primorosas ilustrações de autoria de Mariana Valente, neta de Clarice, que abordam vários aspectos de sua vida, com imagens de cidades e países que visitou ou onde viveu, como Recife, Rio de Janeiro, Pisa, Genebra, e Washington, intercaladas com imagens da escritora cercada de crianças, jardins e animais.
Instalações artísticas e interativas apresentam dois ambientes da casa: interno e externo. Quem guia o visitante por esse universo é a “própria” Clarice, com mediadoras caracterizadas que incorporam a personagem, dando a ideia de que a autora os recebe em sua própria casa.
Daniela Thomas, que recriou o espaço interno da casa de
Clarice a partir de fotos da residência da autora, reflete sobre como conduziu
essa experiência: "Clarice tem a capacidade de revelar a profundidade da
experiência humana nas situações mais banais e corriqueiras da vida. Com isso,
nos desperta da alienação diária e somos tomados de uma hipersensibilidade para
a nossa própria vida. Nosso objetivo é que os visitantes possam ter a
experiência de olhar as mesmas coisas que sempre olham, só que agora com a sensibilidade
renovada, surpreendendo-se com o que a literatura pode oferecer para a ampliar
nossas perspectivas e nossa própria vida".
Do
lado externo, as três histórias se unem com diversas atividades de referência
aos animais retratados, como o cercado do coelho – que dá algumas pistas para
que as pessoas tentem descobrir como sua fuga ocorreu. A Casa do Coelho,
projeto do artista Raul
Mourão, é representada por uma pequena casa de aço criada para
retratar o misterioso desaparecimento do coelho da ficção de Clarice. Segundo o
artista, “uma gaiola/escultura sobre confinamento e fuga, confeccionada com o
mesmo material das grades de segurança que nos acompanham nas grandes cidades
brasileiras.”
Um
lindo tapete, desenhado pela artista plástica Maria Klabin, transmite a sensação do piso
de um quintal, com caracóis, tatus-bola, folhas, restos de comida, que podem
ser explorados com o auxílio de lupas de aumento. “Esses três livros fazem
parte das minhas melhores lembranças com meus filhos crianças”, conta Maria.
“Líamos os três em série. É nítida a memória do momento em que eu abria a capa
de ‘A mulher que matou os peixes’. A capa era dura, como um pequeno portão. E
éramos conduzidos dos risos, gargalhadas à confusão, tristeza, ternura,
apreensão, e algumas emoções cuja existência só descobrimos pelos livros da
Clarice. É um privilégio visitar esse quintal pelo qual já devo ter
passado muitas vezes, dessa vez, olhando para o chão que deu origem a tantos
voos”, completa a artista, sobre a experiência de criar o piso.
Ainda
no quintal, o ovo da Galinha Laura, criado por Marcela Cantuária, leva os visitantes a uma
reflexão sobre o mistério da vida e a promessa de futuro, "simbolizando de
maneira lúdica a gestação e as inúmeras possibilidades que a existência nos
traz", explica Marcela. "Me senti honrada com o convite para participar
da exposição, pois admiro imensamente o legado de Clarice. Uma mostra de arte
circulante e interativa, como é o caso do Caminhão de Histórias, reforça o
compromisso da arte com o coletivo, além de ser um movimento interessante e
inovador", completa a artista.
Sobre os livros infantojuvenis de Clarice Lispector
‘A vida íntima de Laura’: conta a história de
Laura, a galinha que mais bota ovos em todo o galinheiro. Compondo uma
personalidade cheia de nuances para sua personagem, Clarice diverte os pequenos
sem subestimar sua inteligência.
‘O mistério do coelho pensante’:
o sumiço de um simples coelhinho branco – quem diria! – inspira uma
das mais instigantes histórias infantojuvenis de Clarice Lispector. Nesse
livro a escritora discorre sobre profundas questões existenciais, na dose certa
para a apreciação dos pequenos leitores. Qual a diferença entre "natureza
humana" e "natureza de coelho"? Como a gente sai do terreno da
necessidade para o da vontade e da criatividade? É possível um pensamento que
seja também um sentimento e uma sensação?
‘A mulher que matou os peixes’:
aqui a sintonia com os leitores é obtida a partir do endereçamento direto, e o
texto anuncia-se como uma confissão da narradora (“Essa mulher que matou os
peixes, infelizmente sou eu”) e um pedido de perdão à humanidade. Suspenses são
encontrados a partir de pequenas tramas, em que perdão e culpa se sucedem.
SERVIÇO
Caminhão das Histórias em São Paulo
“A Casa que anda. Que mistérios tem Clarice?”
Núcleo de Esporte e Lazer Quississana (R. Giocondo Dall
Stela, 631-721 - Quissisana, São José dos Pinhais – PR)
Datas e horário: de 29 de agosto a 02 de setembro, das 9h
às 17h
*Entrada gratuita
Canais:
www.busaodasartes.com.br | @busaodasartes
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