Em 28 de outubro, o Parque Geminiani Momesso, localizado em Ibiporã, no Paraná, inaugurará a obra “Espaço Arco-Íris”, de Yutaka Toyota. O artista nipo-brasileiro criou a obra para a comemoração do Centenário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão. O monumento alusivo a um arco-íris foi concebido para ser composto por duas partes iguais: uma foi implementada em 1995 na cidade de Yokohama e agora, 28 anos depois, a peça complementar é instalada no novo museu a céu aberto.
“Uma
metade está no Japão e a outra, aqui no Parque. A terra do sol nascente e as
terras vermelhas do norte do Paraná estarão conectadas. Esse marco simboliza o
que a humanidade tem de melhor: a união”, afirma Orandi Momesso,
empresário, colecionador, incentivador das artes e fundador do Parque
Geminiani Momesso. A inauguração da obra também marca a apresentação do
novo museu de arte a céu aberto fortalecendo a posição do estado no roteiro
cultural e artístico brasileiro.
A 25
km de Londrina, o parque é um paraíso ecológico formado por uma área 1.355
milhão metros quadrados, dos quais 121 mil são de mata virgem que encontram o
Rio Tibagi, um dos mais importantes da região. A área foi doada por Orandi
Momesso e está sendo paulatinamente transformada no centro cultural com o
projeto do importante paisagista Rodolfo Geiser.
Paisagismo do Parque Gemniani Momesso Foto: Divulgação
Com
um olhar aguçado, Orandi Momesso teceu uma das coleções de arte mais relevantes
do Brasil. O Parque carimba o legado deste trabalho de mais de cinco décadas ao
salvaguardar o acervo em acesso público e, além disso, dedicar um espaço
cultural e biodiverso à sua terra natal. O patrimônio de Momesso conta com
peças de grandes artistas como Angelo Venosa, Emanoel Araújo, Gilberto
Salvador, José Resende, Nicolas Vlavianos, Rubem Valentin e Victor Brecheret,
além de mobiliário colonial e moderno de Lina Bo Bardi e Rino Levi. A curadoria
do acervo é voltada para artistas brasileiros e aqueles que vivem no Brasil e
têm forte relação com o país, como Yutaka Toyota, naturalizado
brasileiro em 1971.
“É
um parque dedicado às artes brasileiras, acho que isso é o mais relevante, é o
diferencial. Ao mesmo tempo, há uma gama de artistas ali que vieram do
exterior, mas que fizeram sua história no Brasil e se tornaram parte desse
território. O parque tem esse valor em relação ao fortalecimento da arte
nacional”, afirma Gianni Toyota, filho do artista e diretor do projeto.
O
monumento “Espaço Arco-Íris” foi originalmente produzido para a comemoração do
Centenário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão em 1995,
quando a primeira parte foi instalada na cidade de Yokohama, desde então a obra
pressupunha uma metade correspondente no Brasil. Agora, o Parque Geminiani
Momesso foi o local escolhido para abrigar esse símbolo. “Completar essa obra é
um sonho que sempre tive, ela tem um significado muito importante para mim”,
diz Yutaka Toyota.
A
escultura remete à história destes países com trajetórias marcadas pela
imigração e intercâmbio cultural. A escolha da peça também busca valorizar o
Brasil como país que acolhe a maior população nipônica fora do Japão e o estado
do Paraná como segunda maior colônia japonesa em solo brasileiro.
O
artista conta, em seu ateliê, a emoção que inspirou a criação da obra. “Sempre
me interessei pelo espaço cósmico desde o início do meu trabalho. Quando eu
cheguei no Brasil, lembro que me encantei com a paisagem e as cores intensas da
natureza e o aço surgiu na minha obra como uma forma de espelhar esse novo
mundo”, declara. O monumento é resultado de um período da produção artística de
Toyota, que nas décadas de 80 e 90, explorou materiais industriais que se
tornaram populares no pós-guerra, como é o caso do metal. Segundo Yutaka, o
preconceito no Japão da época era muito grande com materiais não tradicionais e
a crítica sobre seu trabalho afirmava que aço era material de cozinha,
inaceitável em obras de arte. A crítica reforça o pioneirismo do artista em
expandir os cânones da arte e apresentar ao mundo novas formas do fazer
artístico.
Composta
por 10 blocos dourados – cada um representa uma década – e uma “alça” em aço
que remete ao casco do navio que transportou imigrantes japoneses para o
Brasil, a ponta da escultura instalada no Japão está direcionada para o sentido
geográfico do Brasil e a ponta da nova escultura a ser inaugurada em solo
brasileiro será direcionada para o país asiático. A peça tem 10 metros e pesa
cerca de três toneladas, duas toneladas a menos do que a original. Dado seu
peso e altura, a instalação ocorre em etapas, nas quais as partes de aço serão
transportadas separadamente e a pintura finalizada in loco. As duas bases da escultura são
firmadas no chão a partir de blocos de concreto cobertos por terra, invisíveis
ao observador.
Apesar
de igual aparência, as versões adotam materiais diferentes. No Japão, o
monumento foi construído com aço inox, enquanto a nova obra no Brasil foi feita
em aço carbono. Ao final, ambas recebem pintura dourada com tinta em
poliuretano. O motivo para a mudança é estratégico: uma vez que o aço carbono é
mais poroso, há uma aderência maior da camada de tinta e a consequente garantia
de durabilidade da peça que ficará exposta a céu aberto suscetível a condições
climáticas diversas.
Toyota
também desenvolverá para o Parque uma nova versão da obra “Espaço Vibração 2000”, que foi comissionada
para a exposição coletiva “O Bardi dos Artistas”, realizada para homenagear
Pietro Maria Bardi, e doada para Pinacoteca de São Paulo.
Inauguração
da obra “Espaço Arco-Íris”
O evento de inauguração
da obra contará com cerimônia oficial com a presença do colecionador Orandi
Momesso, do artista Yutaka Toyota e de autoridades como o embaixador do Brasil
no Japão, Octavio Henrique Garcia Cortes; o consul Geral do Japão em São Paulo,
Ryosuke Kuwana; o governador do Estado do Paraná, Carlos Roberto Massa Junior;
o prefeito de Ibiporã, José Maria Ferreira, e representantes do Ministério das
Relações Exteriores e do Itamaraty.
A
programação inclui ainda uma performance de dança butô da artista Emilie Sugai;
o cenário será a casa recentemente construída em taipa ecológica feita a partir
do barro avermelhado da região.
Sobre
Yutaka Toyota
Nasceu em Tendo na
província de Yamagata ao norte do Japão. Em 1954, graduou-se na Universidade de
Artes de Tóquio. Imigra em 1958 ao Brasil após trabalhar no Instituto de
pesquisas industriais de Shizuoka. Faz as primeiras pinturas abstratas no
início da década de 60 no Brasil já com conceitos cosmológicos, ponto central
dos seus trabalhos até hoje.
Após receber o prêmio do I Salão Esso de Artistas Jovens - “II Prêmio” (de
pintura) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1965, resolve ir à
Itália. Aproxima-se da vanguarda europeia e seu trabalho bidimensional torna-se
tridimensional, fixando na Itália por 5 anos.
Retorna ao Brasil após ser convidado para participar, em 1969, da X Bienal
Internacional de Arte de São Paulo e recebe dois prêmios aquisição, o Itamaraty
e o Banco de Boston.
Participa de diversos salões de arte moderna e ganha outros importantes
prêmios, em seguida, fixa seu ateliê em São Paulo e naturaliza-se brasileiro no
dia 11 de janeiro de 1971.
Em 2016 monta um novo estúdio em São Paulo para criação e produção de obras
monumentais de alto padrão.
Yutaka Toyota está em contínua criação executando uma infinidade de projetos e
obras autorais a partir de seu ateliê em São Paulo para o mundo.
Sobre o Parque Geminiani
Momesso
Empresário, colecionador e incentivador das artes, Orandi Momesso,
fundou o Parque Geminiani
Momesso e a organização sem fins lucrativos Instituto Luciano Momesso, que
tem a responsabilidade de administrar o museu a céu aberto.
Construída ao longo de cinco décadas, a Coleção Orandi Momesso é um importante
acervo de arte brasileira, reunindo cerca de 5 mil obras, relevantes trabalhos
de uma grande diversidade de artistas, em praticamente todos os períodos da
arte brasileira, incluindo clássicos, pré-modernos, modernistas e
contemporâneos. Frequentemente, trabalhos integrantes desse conjunto são doados
para integrar o acervo de instituições brasileiras, como o MASP, a Pinacoteca
do Estado de São Paulo e MAM.
O
Parque Geminiani Momesso abrigará 80% da Coleção Orandi Momesso, contando os
últimos 500 anos de história da arte brasileira. O museu a céu aberto está
dividido em pavilhões, projetados pelo escritório Reinach Mendonça, para
abrigar diferentes segmentos e artistas. Entre os espaços confirmados estão os
destinados para urnas funerárias pré-cabralinas, objetos de engenho, arte
popular, sacra, de povos originários, mobiliário, carrancas, para obras do
escultor Angelo Venosa e um local para exposições temporárias que leva o nome e
homenageia o pintor Raphael Galvez.
Projeto de paisagístico de
Rodolfo Geiser
Paisagismo do Parque Gemniani Momesso Foto: Divulgação
A concepção eleva a experiência do público ao proporcionar um ambiente de relacionamento entre arte e natureza. Os maciços arbóreos abrigam surpresas visuais ao longo do trajeto e recebem, em seus intervalos, esculturas em grandes dimensões e pavilhões expositivos. Geiser destaca as experiências sensoriais vivenciadas no Parque: “O olfato, o tacto, a audição, a contemplação e o paladar. A beleza visual, o aroma das flores e dos frutos, as diferentes condições climáticas, o toque das plantas e a percepção de suas nuances de textura, a ação do vento sobre a vegetação e até o sabor de frutas silvestres”.
Pelo caminho o visitante também passará por decks de madeira, pontes e mirantes que foram pensados para proporcionar a fruição entre a paisagem, as esculturas e os pavilhões. Assim, a hidrografia e o relevo do museu a céu aberto também foram enaltecidos ao mesmo tempo que direcionam o público para momentos de apreciação da arte.
Comentários
Postar um comentário