Plataforma Cidade Floresta cria centro cultural para manter viva a memória do Povo Jupaú e resguardar seu território em RO
Projeto do Centro Cultural e de Mídia Jupaú é inspirado na oca tradicional do povo Uru-Eu-Wau-Wau. Espaço de 280 metros quadrados foi construído com apoio das lideranças locais e doação de madeira apreendida pelo Ministério Público
Em meio ao território de
quase dois milhões de hectares, em Rondônia, o Povo Jupaú passa a contar com o Centro Cultural
e de Mídia Jupaú, construído
para abrigar equipamentos como drones, computadores e ilhas de edição, para
documentar e preservar sua área e seus costumes. Projetado pela Plataforma
Cidade Floresta, fundado por
Anna
Julia Dietzsch, da Arquitetura
da Convivência, com Luis Octavio Farias e
Silva, Clarissa Morgenroth e Paulla Mattos, da Escola da Cidade, o desenho do espaço foi inspirado em uma oca tradicional
Jupaú, e seus 280 metros quadrados foram erguidos com madeira apreendida durante fiscalizações
do Ministério Público na região. A contribuição
para o Centro Cultural e de Mídia se soma à trajetória da ArC, que sempre busca valorizar a integração com o meio
ambiente. Também é um desdobramento da pesquisa de Dietzsch sobre a urbanização
da Amazônia com desenvolvimento ecológico integrado e valorização dos saberes
dos povos originários.
O
desenho arquitetônico do Centro Cultural e de
Mídia é uma iniciativa da Plataforma Cidade
Floresta, núcleo de projeto
e pesquisa aplicada para áreas urbanas ligadas à floresta e aos povos
originários. A partir do projeto da Cidade Floresta, a edificação foi
estruturada por um sistema de vigas recíprocas coberto com taubilhas (telhas de
madeira). A fachada é revestida com painéis de palha trançada pelo Povo Jupaú, mesclando os saberes tradicionais e a tecnologia moderna. O Centro Cultural e de Mídia
é uma realização da Documist com a Associação Kanindé e a Associação Jupaú. Atualmente, os envolvidos buscam arrecadar
fundos para completar a compra de equipamentos audiovisuais que serão usados
para a defesa das terras e costumes.
O
Centro Cultural e de Mídia tem espaços dedicados ao uso e guarda de tecnologias
de monitoramento usadas pelos indígenas para defender ativamente o território
contra as investidas de grileiros, madeireiros
ilegais e garimpeiros que invadem a área que já é demarcada. Foi desenhado para
também servir como ponto de encontro entre as diferentes aldeias Jupaús, outras
etnias e visitantes, com espaço multiuso para redário, reuniões e
apresentações.
A
resistência contra o desmatamento e a luta de indígenas como Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau e
Neidinha Suruí, mãe de Txai Suruí e integrante da equipe de coordenação da
Associação Kanindé, foram retratadas em “O
Território”, da National Geographic Documentary Films. O documentário foi
dirigido por Alex Pritz, fundador da Documist, e pelo documentarista Gabriel
Uchida, e com produção executiva da ativista Txai Suruí. Vencedor do Festival Internacional Sundence, o
longa-metragem reúne imagens reais capturadas ao longo de três anos.
Os
Uru-Eu-Wau-Wau, autodenominados Jupaú, constituem um povo indígena falante da
língua Kawahib e
presente no norte do estado
brasileiro de Rondônia. Trata-se de um grupo formado por indivíduos jovens, pois a
maior parte dos anciãos morreram assassinados na década de 1980 quando o
território foi invadido, ou ainda por contato com doenças trazidas por
não-indígenas, como a malária. A população agora se estabilizou e começa a se recuperar.
Sobre a Plataforma Cidade Floresta
A Plataforma Cidade Floresta é um núcleo de consultoria,
pesquisa e projetos de design, arquitetura e urbanismo para realizar trabalhos
que integrem a ação humana, a natureza e o conhecimento local comunitário.
A partir de soluções baseadas na natureza e ênfase na
sabedoria tradicional, a Plataforma Cidade Floresta busca mudar os paradigmas
de como se constroem cidades e edifícios, para ser possível co-habitar esse
mundo com todos os seres vivos que aqui estão e aqueles que ainda virão. Transformar
o processo de urbanização extensiva em um de naturalização extensiva tendo por
objetivos:
- A
preservação e recuperação das florestas e das paisagens naturais;
- A
construção de novas florestas;
- A
construção de edifícios e cidades com baixa pegada de carbono;
- O
fortalecimento de culturas tradicionais indígenas;
- O
fortalecimento de outras culturas marginalizadas pela lógica
moderno-industrial.
Os
associados da Plataforma Cidade Floresta são: Anna Julia Dietzsch (ArC) -
Arquitetura e Urbanismo; Clara Jaxuka - Arquitetura e Audio-Visual; Guilherme
Castagna (Fluxus) - Sistemas de Infraestrutura de Águas Baseados na
Natureza; Marius Lopez – Permacultura; Paulla Mattos – Arquitetura; Rodrigo
Rocha (Goya Arquitetos) -
Sistemas Construtivos em Terra Crua.
Sobre Arquitetura de Convivência
Há vinte anos Anna Julia Dietzsch trabalha entre São Paulo
e Nova York, desenhando edifícios e lugares que promovam uma arquitetura da
convivência e uma cidade que valorize o convívio entre as pessoas e a natureza.
Alguns dos projetos que participou incluem o design da Praça Victor Civita em
São Paulo, do 9/11 Museum em Nova York, o Parque Linear do Córrego Verde na
Vila Madalena e a reurbanização da terceira maior favela de São Paulo, o Jardim
São Francisco.
Atuante
no setor imobiliário, assim como em projetos culturais e comunitários, Anna
participou da iniciativa Rua Aberta, que veio depois a se configurar como lei
em São Paulo. Sua pesquisa sobre a urbanização da Amazônia busca soluções de
desenvolvimento integrado e ecológico, valorizando o conhecimento das populações
tradicionais. Anna é arquiteta e urbanista pela Universidade de São Paulo, com
mestrado em Desenho Urbano pela Escola de Design de Harvard. Atualmente é sócia
diretora do escritório Arquitetura da Convivência (ArC), leciona na Columbia
University (NY), e integra a Plataforma Habita-Cidade na Escola da Cidade, em
SP.
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