Conteúdos entretêm e estimulam a mobilização de novas gerações
Kaiala
é uma menina atenta aos pequenos detalhes ao seu redor: joaninhas, formigas
operárias, conchas do mar e grãos de areia. Sua mãe, Gigi, lhe ensinou que os
adultos são tão apressados que não conseguem reparar na aparente pequenez do
que faz parte da natureza e do que é invisível aos nossos olhos. Este é o
início de “Somos a Mãe Terra”, uma das histórias do podcast “Contos da
Capivara”, que tem como objetivo inspirar crianças e seus familiares a adotarem
práticas sustentáveis.
Escrita
pela educadora Kiusam de Oliveira, a história retrata a profunda conexão entre
os seres humanos e a natureza e conta com o apoio do grupo de pesquisa Laroyê.
“Você é filha da Terra e dela é matéria”, explica Gigi à filha, fazendo-a
refletir sobre outros elementos naturais, como o vento, a água e o fogo. Com
uma linguagem simples e envolvente, Kiusam mostra às crianças que todos esses
elementos e seres possuem uma função dentro do universo, incentivando os
pequenos a contemplá-los e valorizá-los.
Idealizado
pelo Verdes Marias, movimento de três irmãs que buscam inspirar pessoas a
ingressarem numa vida mais saudável, e pela produtora Poétika, o “Contos da
Capivara” possui oito histórias de autores brasileiros de livros infantis, como
Kiusam de Oliveira, Claudia Vasconcellos, Marcelo Maluf, Julia Medeiros, Carú
Ricardo e Ciro Campos e Thara Alves.
São
narrativas indicadas para crianças acima de quatro anos e que abordam aspectos
variados da temática da preservação ambiental: lixo, mudanças climáticas,
desmatamento e a importância do cuidado com a água estão entre elas. Todos os
episódios possuem o apoio técnico de organizações como o Greenpeace, Famílias
pelo Clima, Sea Shepherd, Instituto Ipê, Menos 1 lixo, entre outras, e contam
com a Clara, a Capivara, que traz dicas de microrrevoluções de como as famílias
podem levar uma vida mais sustentável.
Contação
de histórias potencializa aprendizado
De
acordo com uma pesquisa realizada pela plataforma Cupom Válido, com dados da
Statista e do IBOPE, o Brasil é o terceiro país que mais consome podcasts no
mundo e só fica atrás da Suécia e da Irlanda. Mais de 30 milhões de brasileiros
ouvem podcasts e o formato tem atraído um público em busca de conteúdos mais
diversos e qualificados. A ferramenta não chama a atenção apenas de adultos,
mas também do público infantil, já que a contação de histórias transmite
conteúdos educativos de uma maneira instigante, divertida e leve. As crianças
desenvolvem a imaginação e a escuta e retêm a atenção no momento presente
enquanto têm acesso a novos aprendizados importantes para sua formação.
“Dentro
de uma visão negro-referenciada e considerando a África como o berço da
humanidade, a narração de histórias foi a primeira via de acesso à informação e
às trocas. Era o momento de as pessoas estarem em roda, olho no olho, frente a
frente. Educar as crianças a partir da narração adequada aos temas desejados é essencial”,
afirma a escritora Kiusam.
A
ferramenta mantém as crianças distantes do excesso de exposição à televisão e a
outras telas, que podem causar uma série de prejuízos físicos, cognitivos e
comportamentais. Alguns deles são dificuldade de aprendizagem e de interação
social, baixa concentração, estímulo da agressividade e problemas oculares.
Outra questão refere-se à relação formada entre os dispositivos eletrônicos e
as crianças.
Enquanto
as telas colocam os menores em uma posição passiva - na qual eles clicam e
recebem conteúdos instantaneamente - o podcast faz o contrário e encoraja o
fortalecimento de suas habilidades. “Percebemos que esse poderia ser um caminho
muito interessante, as crianças absorvem o conteúdo de uma forma agradável. Na
televisão, a informação está totalmente pronta, isso distancia as pessoas de um
raciocínio, elas ficam hipnotizadas. No podcast, as crianças entram num nível
de concentração para visualizar as histórias nas suas mentes”, explica Flávio
Nina, sócio do “Contos da Capivara”.
Microrrevoluções
O
“Contos da Capivara” não se limita a denunciar os problemas socioambientais,
pelo contrário: seu intuito é oferecer soluções propositivas, incentivando o
desenvolvimento de hábitos mais saudáveis para o planeta. Ao final de cada episódio,
a Capivara cita pequenas ações que podem ser feitas no dia a dia e que fazem a
diferença para o meio ambiente. Elas são denominadas microrrevoluções e incluem
um vasto leque de opções como reciclar embalagens, reduzir o consumo e usar
produtos menos nocivos ao meio ambiente. No episódio “Somos a Mãe Terra”, os
ouvintes são convidados a tirar os sapatos e pisar no solo para se conectarem
mais à natureza. Em seguida, a Capivara propõe que as crianças brinquem com as
folhas que caem durante o outono e façam uma arte com elas para que se lembrem
que o meio ambiente é também o seu lar.
A
filha mais velha de Flávio é uma das ouvintes do podcast e sempre traz questões
relacionadas à preservação do planeta para a família: “Acabamos sempre nos
engajando nas pesquisas dela, como os brinquedos de sucata [referência ao
episódio Bricabraque]. Minha filha sempre pergunta sobre reciclagem e quer
transformar sucatas em brinquedos. As microrrevoluções podem parecer até
despretensiosas e ingênuas, mas a soma delas pode causar muito impacto e
inspirar as pessoas a ter atitudes parecidas. Elas são muito simples e podem
incluir brincar ao ar livre, ir a parques nacionais e a reservas. Ficamos tão
condicionados a ir ao shopping e comprar algo em uma loja, mas a experiência
para a criança pode ser algo como correr na grama, precisamos expandir o que é
o brincar”.
O
engajamento infantil no assunto é perceptível. Mariana Moraes, uma das irmãs do
Verdes Marias, conta sobre o retorno que recebe das crianças que acompanham o
“Contos da Capivara”: “recebemos relatos de crianças do Brasil todo, contando
como tem brincado com sucata, que adoraram a história da rafa garrafa (sobre
plástico no oceano), que tem feito as microrrevoluções em casa. Recebemos o
vídeo de uma criança de 3 anos cantando a música de abertura, a mãe nos contou
que ela quer aprender a tocar violão para tocar a música!”.
Para
Kiusam, os podcasts são ferramentas interessantes de escuta e calmaria que
permitem que o público infantil imagine cada ação e possibilidade trazidas pela
história. “Foi muito importante participar disso. ‘Somos a Mãe Terra’ é muito
visceral dentro do campo teórico que tenho trabalhado (a pedagogia eco
ancestral), que considera que somos seres ecológicos, que a natureza não está
fora de nós, mas dentro de nós. Compartilhar essa história que estava guardada
há algum tempo foi marcante”, conta.
Empoderamento
As
palavras utilizadas pela escritora não provocam apenas encantamento, mas também
empoderamento. “Uma característica da minha carreira é o empoderamento de
crianças, jovens e adultos. Para mim, as crianças precisam se sentir
protagonistas da vida, entendo que quando o bebê está no útero materno, esse
bebê já é capturado pelas questões sociais que envolvem a todos. Nossa
sociedade ainda enxerga a criança de uma forma muito atrasada, como se ela
fosse uma folha em branco, como pensavam nos séculos 17, 18 e 19. Rapidamente,
a criança acaba reproduzindo falas, posturas e comportamentos vistos e ouvidos
como exemplares dentro da própria casa e isso a gente acompanha em sala de
aula”, ressalta.
Durante
os 35 anos em que atuou como educadora, Kiusam notou que os bebês reproduzem
falas e comportamentos de pessoas próximas a eles. Por isso, o exemplo dentro
de casa é imprescindível para ensinar as novas gerações a serem mais
conscientes. “Nossa educação é pautada em modelos eurocêntricos e, nesse
sentido, o individualismo prevalece. As crianças aprendem a ser individualistas
desde muito cedo e isso em nada facilita a possibilidade que elas têm de construir
um mundo melhor. Para fazer isso, elas precisam entender o conceito de
coletividade e não de seletividade. Para que ocorra um empoderamento de
verdade, ele precisa ser associado a uma série de virtudes e valores que têm
sido desmerecidos pela sociedade brasileira como um todo. O podcast traz
questões fundamentais para a possibilidade de reconstrução das infâncias
brasileiras e para o empoderamento das crianças brasileiras”, conclui.
“Contos
da Capivara” está disponível no Spotify, Anchor e outros dispositivos
Quem
quiser acompanhar a série “Contos da Capivara”, pode acessar pelo Spotify (https://spoti.fi/3Lh0v4i) , pelo Anchor (Contos Da Capivara • Um podcast na Anchor)
ou pelo seu tocador preferido. O conteúdo é gratuito e pode ser escutado
diversas vezes, sem moderação. Mais informações, acesse www.verdesmarias.eco.br.
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