"O
amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim". Esta
afirmação do positivista francês Auguste Comte foi a inspiração para a frase
que, hoje, protagoniza o centro da bandeira do Brasil. Em alguns períodos da
história, pensadores e artistas sugeriram – em vão – que a palavra
"amor" fosse acrescentada à sentença. Agora, em um momento de
retomada das atividades e da agenda de shows, o cenário do país é de
destruição, no qual o triunfo do ódio dizimou famílias e colocou pessoas em
situação de miséria. Céu,
Criolo e Emicida três dos mais
relevantes nomes da música nacional, sobem ao palco do festival João Rock,no
dia 11 de junho,
em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, para reforçar a importância do
afeto, do respeito e do amor serem incluídos na bandeira (e no propósito de uma
nação). Juntos, eles apresentam o show-manifesto "Amor, Ordem e Progresso".
"'Amor' precisa entrar na bandeira do Brasil para que, lá no futuro, nos
lembremos que essa palavra está ali por um motivo: a ausência do amor como
política pública custou a vida de mais de 650 mil pessoas. Qual é a magnitude
dessa destruição?", afirmou Emicida em entrevista.
Partindo dessa premissa, o espetáculo "Amor, Ordem e Progresso"
tem o intuito de contaminar a sociedade com o desejo de construir uma
identidade nacional que abarque a diversidade e a pluralidade do povo
brasileiro. O show será uma verdadeira viagem no tempo, ressaltando como a
cultura popular brasileira sempre esteve à frente do seu tempo. A sociedade,
contudo, não segue tão diferente estruturalmente, então se faz necessário que
as novas gerações sigam se expressando de forma contundente, denunciando a
desigualdade social e reivindicando um contexto mais inclusivo e humano. Assim
como os movimentos abolicionistas, o modernismo e o tropicalismo foram contra a
censura e o retrocesso, esse espetáculo irá resgatar a essência e a força de
resistência presente na música e na cultura brasileira (em um ano marcado por
datas simbólicas, como 522 anos da Invasão Portuguesa, 134 anos da falsa
abolição da escravatura, 100 anos da semana de arte moderna e 46 anos do
movimento Tropicalismo).
O espetáculo inédito "Amor, Ordem e Progresso" será dividido em
três atos: "Sankofa", "A Nave" e "Ainda há
tempo?". Cada um destes blocos é responsável por conduzir a linha
narrativa e o sentimento desejados pelo trio. Além de músicas dos três
artistas, o repertório é costurado ainda por canções que são pilares da cultura
brasileira.
No ato "Sankofa", que leva o nome da filosofia africana que diz que é
importante retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o
futuro, a apresentação busca conexão com a herança ancestral. "Boa
Esperança" e "Convoque Seu Buda", de Emicida e Criolo,
respectivamente, estão entre as faixas preparadas para esse momento, assim como
"Vapor Barato". Esta última, conhecida na voz de Gal Costa, é de
autoria de Jards Macalé e Waly Salomão. Jards, inclusive, foi uma das pessoas
que já defendeu a alteração da frase da bandeira do Brasil, tendo lançado um
disco com o título Amor, Ordem
& Progresso (2003). O setlist do show preparado para o festival
João Rock é repleto desses achados e conexões.
O segundo ato, "A nave", tem como objetivo capturar o público pelo
sentimento. Da sua safra, Céu apresenta "A nave vai" e
"Malemolência"; Criolo entoa "Não Existe Amor em SP" e
"Duas de Cinco"; enquanto Emicida surge com "AmarElo" e
"Hoje Cedo".
"Ainda há tempo?" é o bloco final do espetáculo. Não à toa, o título
vem acompanhado por um ponto de interrogação. Nele, aparecem músicas que
questionam o atual estado de espírito do nosso povo, mas deixam uma mensagem de
fé e esperança para a sociedade. "Nada Será como Antes", do Clube da
Esquina; e "Carinhoso", de Pixinguinha, são pérolas resgatadas para
este grande finale, junto de "Varanda Suspensa" (Céu), "Menino
Mimado" (Criolo) e "Principia" (Emicida).
O espetáculo, que é produzido em parceria entre as empresas independentes LAB
Fantasma, Urban Jungle e OLoko Records, tem direção geral de Beatriz Berjeaut e
Evandro Fióti; direção artística de Evandro Fióti; direção musical de Júlio
Fejuca; além de uma banda afiada composta por DJ Nyack, nos toca-discos; Carlos
Café do Pandeiro (percussão); Mônica Agena (guitarra, cavaquinho e assistente
de produção musical); Rodrigo Digão (baixo, synths, violão e cavaquinho); e
Jhow Produz, na bateria.
Duas horas de show-manifesto é apenas a fagulha para que as pessoas saiam dali
diferentes do que chegaram, sabendo que existe um caminho para mudar a frase da
nossa bandeira, mas que já é possível impactar a própria comunidade e o entorno
no dia a dia com mais ações que projetem Amor, Ordem e Progresso.
Comentários
Postar um comentário