Eis
um tema do qual se ocupou Sêneca em De Brevitate vitae. Nesta obra, ele
se dirige a Paulino. Todos se queixam de que a natureza não nos foi favorável
dando-nos uma vida tão curta. E assim se amaldiçoa o rigor da natureza. Esta
queixa é muito mais recorrente atualmente, em que temos inumeráveis recursos
médicos, procedimentos e fármacos.
A
pandemia no Brasil já ceifou muitas vidas e não vai parar por aí. Há lamentos
dos que perderam seus entes queridos e com razão, pois muitos deixam o nosso
convívio prematuramente, apesar do esforços e mercê de muito descaso das
autoridades incompetentes, que aproveitam desta desgraça para ganhos políticos
e, por que não o dizer, para aproveitar-se do desvio dos recursos públicos, o
que é mais lastimável e reprovável.
Mas,
o que nos adverte Sêneca em sua obra é “Não temos muito pouco tempo, mas
perdemos muito. A vida é bastante longa; ela bastaria, e além, para a
realização dos maiores empreendimentos, se todos os momentos fossem bem
empregados”.
E
de um modo rude, pede aos idosos, aos que chegaram aos 100 anos, para num exame
de consciência examinar e calcular como usaram o tempo de sua vida, ocupada em
tarefas e preocupações inúteis ou prejudiciais. Enumera ele o tempo perdido em
correr atrás de empréstimos, de pagar dívidas contraídas para comprar
inutilidades ou supérfluos. Em vez de se dedicar à família correu atrás de
amantes e ficou em intrigas com sua esposa e familiares. Acrescentemos no
momento, o tempo em preencher formulários burocráticos em vez de estar
procurando atingir objetivos mais significativos e importantes. Correm atrás de
bens que em vez de louro são apenas coisas de brilho lantejoulesco.
A
burocracia é uma fonte inesgotável de consumo de tempo, se computarmos com
sinceridade conosco mesmos. Insisto em ser sincero, porque Jaime Balmes
(1810-1848), filósofo espanhol dizia que o homem tem a incrível capacidade de
se enganar a si mesmo, veremos os que estão muito ocupados, ocupamo-nos com
muitas inutilidades e futilidades, que nos ocupam em demasia. E todos concordam
que um homem muito ocupado não pode fazer nada de bom, ele só se preocupa em
viver executando maquinal e rotineiramente tarefas, muitas vezes sem razão de
ser, apenas para “cumprir tabela”. Tarefas que não entusiasmam e não tem outro
apelo senão o fato de serem impostas; tarefas que não são realmente assumidas
julgadas como merecedoras de esforços a serem dispendidos, merecedores da
dedicação de precioso tempo de vida.
Há
mestres em todas as ciências, mas não para a ciência e a arte da vida, pois é a
mais difícil, a arte de viver, a ciência de saber viver e requer o aprendizado
de toda a vida; como também é muito difícil aprender a morrer.
Geralmente,
as pessoas evitam o tema da morte pensando que o presente seja perene ou eterno: porém, fugit
irreparibile tempus. É preciso dar ao instante seu pleno
sentido e fazer do instante, o beijo da Eternidade no tempo. Pois a vida é
constituída de momentos, eles fluem e a vida passa, sendo o instante um fluir
ou escoar-se no passado abrindo-se ao futuro e ao que há de vir, instantes e
momentos que não nos pertencem senão como um lampejo, um brilho lantejoulesco
irrepetível, e esse evanescer em constante fuga do presente, no mesmo instante,
para o passado que já se foi; assim é e se esvai, se escoa a vida. Se apenas
considerarmos o fluir, a vida é muito breve.
Em
vez de queixar-se da brevidade da vida, necessário é pensar como se esquece de
viver correndo atrás de ouropéis, com uma alegria tola e uma cupidez voraz.
Quanto tempo se desperdiça em redes sociais, sereia de nosso tempo, que a
muitos encanta, mas que subtrai preciosos momentos na distração fútil e em
conversas fátuas e vãs.
Muitos
esquecem de viver, pois morrem a conta gotas, e não compreendem que estão
morrendo prematuramente. “Pois viver mal, não refletida, sábia
e piedosamente, dizia Demócrito, não é viver mal, mas ir morrendo durante muito
tempo”.
Autor:
Dr. Alvino Moser é decano e professor do Programa de Mestrado em Educação e
Novas Tecnologias; leciona Fundamentos Epistemológicos da Mediação Tecnológica,
e faz parte da Escola Superior de Educação do Centro Universitário
Internacional Uninter.
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