A jornada de Luiz Gama, homem escravizado que conservou no coração a força para lutar contra as injustiças.
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Por Tânia Lins
Revisitando
meu arquivo de memórias, lembrei-me do nome da rua em que morei na minha
infância até boa parte da juventude, em São Paulo. Aquela casa singela,
localizada à Rua Luiz Gama, no bairro da Mooca, acolheu-me desde meu terceiro
mês de vida, lá comemorei os primeiros aniversários, e a sensação de estar em
um verdadeiro lar se estendeu até a fase adulta.
Quantas
vezes li e reli na placa alta, fixada à esquina, Luiz Gama, que nomeava aquela
rua localizada em um bairro tradicional de São Paulo. Então, a dúvida se fez
presente e, somente anos depois, foi respondida. Quem foi aquele homem?
Hoje, um sentimento de esperança, pautado em demonstrações
universais de solidariedade, me impulsiona a falar um pouco sobre um homem que
foi escravizado, mas conservou no coração a força para lutar contra as
injustiças. Filho de um fidalgo português com uma escrava liberta, foi vendido
aos dez anos como escravo pelo próprio pai para pagar dívidas oriundas do jogo.
Conseguiu a alforria aos 18 anos, após fugir da casa de seu senhor e comprovar,
por meio de documentos, que era filho de uma negra liberta — sua primeira
vitória frente a um sistema opressor. A partir daí, iniciou seus estudos de
forma autodidata, e o ofício de jornalista garantiu que o pão nunca lhe
faltasse à mesa. Dedicou-se também ao Direito, libertando centenas de irmãos
mantidos injustamente em cativeiro — muitos acusados de crimes contra os senhores
—, e acabou especializando-se nessa área.
Alquimista
das letras, Luiz Gama escreveu, dentre tantos outros, o célebre poema Bodarrada, que ironizava
aqueles que se compraziam em negar a influência africana na formação da nossa
identidade nacional. Ao admitir no poema que também era bode — termo pejorativo
para designar os negros —, Gama foi alçado ao posto de primeiro escritor
brasileiro a assumir explicitamente sua identidade negra, tornando-se, assim, o
fundador da literatura de militância dos negros no Brasil.
A vida está repleta de homens e mulheres que almejam a
mudança alvissareira. São pessoas que sentem a dor do outro e, por meio de
ações humanitárias, transformam o cotidiano ao seu redor. Buscar nas pequenas coisas
inspiração para as grandes mudanças é a ideia propositiva para um mundo melhor.
Que
mais indivíduos conheçam e extraiam o melhor de tantas biografias inspiradoras,
pois, muitas vezes, nos olhos do nosso semelhante é possível ver refletida a
esperança de dias melhores.
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Tânia Lins é graduada em Administração de Empresas e pós-graduada em Língua
Portuguesa, Comunicação Empresarial e Institucional e Jornalismo Digital. Atua
há mais de dez anos na área editorial, com experiência profissional e acadêmica
voltada à edição, preparação e revisão de obras, ao gerenciamento de produção
editorial e à leitura crítica. Atualmente, é coordenadora editorial na Editora
Vida & Consciência e coach literária.
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