Entre
passado, presente e futuro, o multiartista Thiago Prado celebra o cotidiano,
reflete sobre as mudanças e entende sobre si após diagnóstico tardio de autismo
no livro "Que será, será"
Mudar
um RG pode ser apenas uma burocracia. Trocam-se a foto, o ano, o modelo e o
órgão emissor. Mas esse documento tão habitual também registra as
transformações de uma vida. No caso do multiartista Thiago Prado, de uma atualização para a outra, ele deixou de ser um
adolescente do Realengo que sofria bullying na escola e ainda aprendia a
desenhar, para se tornar um artista de quase 40 anos, com diversos projetos
internacionais, uma moradia no Leme e um detalhe a mais na carteira que o
define como neurodivergente. Tornou-se quem sempre sonhou ser.
Estas transformações que passam de
maneira quase imperceptível diante das atribulações do cotidiano são
registradas pelo escritor em Que será, será. Referência à clássica música do filme “O homem que sabia
demais” (1934), de Hitchcock, a obra une passado, presente e futuro para retratar as
experiências de um homem constantemente impactado pelos confrontos de existir
no mundo.
Com textos curtos, a publicação mescla
os formatos de poemas, cartas e frases para retratar experiências comuns, mas
intensas. O sentimento de inadequação, o medo de falhar, as dificuldades dos
relacionamentos, a beleza das amizades, a desesperança acerca do futuro, as
inseguranças sobre a identidade e até a raiva de perder o ônibus na parada são
alguns dos temas abordados.
Não entendo o que as
pessoas dizem e não consigo dizer. Me parece que é sobre o que elas sentem, por
dentro de suas palavras, suas motivações, seus lugares. Tampouco consigo dizer
o que eu sinto. Não encontro forças para argumentar, para me defender, que dirá
para atacar. Tenho me esforçado em correr na praia. Preciso insistir em cuidar
de mim. Parece bobagem, tens razão. (Que será,
será, p. 69)
Essas vivências compartilhadas em Que será,
será são entrelaçadas a
reflexões intimistas do narrador. Nas páginas, ele atravessa o diagnóstico
tardio de autismo, questiona as classificações relacionadas à sexualidade,
registra conversas com amigos e escreve sobre os desafios da profissão
artística.
Entre relatos biográficos, o livro
salienta o poder de aceitar a si mesmo, com seus erros e acertos, para seguir
em frente apesar dos conflitos do dia a dia. Acima de tudo, a obra reforça a
importância dos sonhos mesmo com as frustrações e a inevitabilidade da morte,
porque, assim como o início da leitura já indica: "todo mundo tem um sonho
buzinado".
FICHA TÉCNICA
Título:
Que será, será
Autor:
Thiago Prado
Editora:
Opera
ISBN: 978-65-6081-282-6
Páginas:
140
Preço:
R$ 56
Onde comprar: Opera
Editorial
Sobre o autor: Thiago
Prado é escritor, artista visual e cineasta.
Publicitário por formação e pós-graduado em Cinema, ele nasceu em Realengo, no
subúrbio do Rio de Janeiro, e morou em São Paulo, onde fez as primeiras
exposições. Com um ateliê no Flamengo, na capital carioca, dedica-se há mais de
duas décadas ao trabalho artístico. Ganhou prêmios e expôs em diversas cidades
do mundo, além de ter recebido menções por projetos no audiovisual. Na
literatura, publicou “Mal Secreto” (2023) durante a Feira Literária
Internacional de Paraty (FLIP), e agora lança Que será, será, um livro sobre o ser e o sentir no mundo contemporâneo.
Redes sociais do autor:
Instagram: @iamthiagoprado
Facebook: /iamthiagoprado
Site do autor: www.thiago-prado.com
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