Em
"Travessias", o escritor Fábio Steinberg narra emoções, lutas e
dilemas de estrangeiros em busca de um futuro melhor
No
cenário entre as Grandes Guerras do século XX, as sacrificadas Travessias até o Brasil vinham carregadas de esperanças. Porém, assim
que colocavam os pés em terra firme, os imigrantes se deparavam com imensos
contrastes sociais. Esse prenúncio dos desafios que seriam enfrentados é
intensificado na visão de Natan, um dos narradores do livro escrito por Fábio
Steinberg, que desembarcou na Baía de Guanabara em pleno Carnaval. Enquanto
os cariocas dançavam e desfilavam com roupas coloridas, ele e os demais
recém-chegados pareciam deslocados por carregarem um semblante sério, com
roupas escuras e pesadas, inadequadas para o verão do Rio de Janeiro.
Além da perspectiva do garoto, a obra é
descrita a partir do ponto de vista de outras duas personagens que complementam
a epopeia sobre a imigração do povo judaico ao país. Hana é uma mulher
inteligente, que nasceu em uma família classe média de Varsóvia, mas enfrenta
pressões sociais e familiares até casar-se sem amor para escapar da situação.
Ela se muda para São Paulo com o marido e duas filhas – uma delas é a terceira
narradora, Rivka, que registra o cotidiano em um diário no qual relata a sua
experiência e de sua família em um mundo novo.
Vendedor por
necessidade, e não por vocação, papai conta mais histórias de suas andanças
pelos bairros. Não sei se são para rir ou chorar. Como o dia em que, sob forte
calor na rua, ele carrega duas pesadas malas e tem tanta sede, que sente que
vai desmaiar. Entra em um botequim, mas não sabe como dizer “água” em
português. Simula com a mão um copo em direção à boca. O balconista não
entende, ele repete o gesto, até que o atendente o serve com um copo cheio de
um líquido que papai engole em um único trago. Só que no copo há cachaça, e não
água. Papai dá um grito desesperado, o álcool queima a garganta e produz um
calorão por todo o corpo. Mal refeito do susto, suando e vertendo lágrimas,
foge dos frequentadores do bar, que riem do gringo bizarro. (Travessias, p. 175)
Personagens complexos, eles são
constantemente atravessados pelos contextos sociais, políticos, econômicos e
culturais que conhecem. Enquanto Hana é uma figura tradicional, resignada com
seu destino, mas preocupada com o comportamento e adaptação da família, Rivka é
mais moderna, apesar de ficar dividida entre conquistar o sonho da
independência e conservar as tradições. Já Natan cresce pobre e sem esperanças,
mas consegue superar seu destino ao traçar um caminho respeitado na advocacia e
de ajuda à própria comunidade.
Com capítulos curtos e linguagem leve, a
obra registra o heroísmo de pessoas anônimas que percorreram um caminho árduo
para estabelecer um melhor futuro às gerações seguintes. Entre medos,
preconceitos e desafios, o enredo reforça a importância de manter as
esperanças, celebrar a diversidade, construir laços, preservar memórias,
desenvolver a solidariedade e garantir a dignidade.
Fruto de extensa pesquisa bibliográfica,
a ficção é um retrato das vivências migratórias no Brasil. O livro do filho e
neto de imigrantes, Fábio Steinberg, simboliza a história de
todas as pessoas, independente de suas origens, que saíram de seus países para
encontrar um novo lugar de pertencimento. O autor comenta: “todo mundo de
alguma forma vive ou é fruto de travessias. Todo mundo é neto ou bisneto de imigrantes.
Por isso, homenageio os anônimos, aqueles que vieram em um navio em terríveis
condições. Muitos das novas gerações nem sabem quem foram, mas se estamos aqui
hoje, é porque estas pessoas se sacrificaram por nós no passado”.
FICHA TÉCNICA
Título:
Travessias
Subtítulo: Aventuras e desventuras de Famílias Imigrantes
Autor: Fábio Steinberg
Editora: Ipê das Letras
ISBN: 978-65-5239-163-6
Páginas: 413
Preço: R$ 67 (físico) | R$ 25
(e-book)
Onde comprar: Amazon | Livraria da Vila | Ipê das Letras
Sobre o autor: Fabio Steinberg é autor dos livros “Ficções reais”, “Viagem de negócios”,
“O maestro” e Travessias.
Formado em Administração e Jornalismo, teve uma extensa carreira como executivo
de comunicação em grandes empresas, foi colunista e colaborador de jornais,
além de consultor empresarial. Filho de imigrantes, nasceu no Rio de Janeiro e
atualmente vive em Itu, em São Paulo.
Redes sociais do autor:
Instagram: @fabiosteinberg
Facebook: /fabio.steinberg
LinkedIn: Fábio
Steinberg
Youtube: @fabio.steinberg
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