A mente por trás do monstro: autora explora a psicologia de um serial killer em "O Ceifador de Anjos"
Juliete
Vasconcelos subverte convenções do thriller ao revelar desde o início a mente
do assassino e mergulhar em suas origens, motivações e perversidades
Em O Ceifador de Anjos: A coleção de fetos, Juliete Vasconcelos conduz o leitor por um thriller psicológico intenso e
perturbador, onde o foco não está na descoberta de um assassino, mas em
compreender sua mente. Inspirada por séries como Dexter e You,
a autora opta por revelar logo nas primeiras páginas que Vincent Hughes é um
assassino em série — o que importa, aqui, é o “porquê” e não o “quem”. A
narrativa desafia julgamentos fáceis e propõe uma imersão desconfortável e
fascinante na complexidade da psicopatia, da manipulação e das múltiplas faces
da maldade.
Em vez de seguir a fórmula do suspense
policial, a trilogia se dedica a acompanhar o Ceifador em três fases distintas:
a glória invisível, os gatilhos da infância e o declínio inevitável. Na
entrevista abaixo, a autora comenta o processo criativo da obra, fala sobre a
construção do vilão e o compromisso de sua escrita com a complexidade humana.
1. “O Ceifador de
Anjos: A coleção de fetos” conta a história de Vincent Hughes, um homem
aparentemente comum, mas que esconde ser um serial
killer meticuloso e cruel.
Como foi a construção psicológica do protagonista?
Juliete Vasconcelos:
Acredito que por eu consumir conteúdos do gênero há tantos anos, a construção
se deu de forma bastante natural. Conseguia ver no Ceifador traços muito
similares aos vilões/anti-heróis dos livros e da TV. Inclusive, tive ótimos
feedbacks no que se refere à construção psicológica do Ceifador vindos de
psicólogos e psiquiatras. Soube por uma leitora, que também é psicóloga, que
ela o indicou para o Conselho de Psicologia do qual fazia parte, sob a
justificativa de que eu soube, enquanto autora, apresentar um psicopata “tal
qual é de verdade”, o que me deixou muito feliz.
2. O livro lida com
temas como psicopatia, manipulação e assassinatos brutais. Como foi o processo
de pesquisa e preparação emocional para escrever cenas tão intensas?
J.V.:
Como consumidora aficionada por conteúdos do gênero
(livros, filmes, séries, documentários etc.), no que se refere à preparação
emocional, não tive dificuldade para escrever a maior parte das cenas. Para
mim, diferentemente do que ocorre quando leio outros gêneros, quando se trata
de um thriller/criminal, consigo visualizar as cenas perfeitamente em minha
mente, como se estivesse assistindo um filme.
3. A escolha de revelar a identidade do assassino logo no
início é incomum em thrillers. O que te motivou a subverter essa expectativa
clássica do gênero?
J.V.:
Partindo da premissa de que produzimos aquilo que gostamos de consumir, sempre
me senti mais instigada quando consigo (como leitora e telespectadora)
mergulhar na mente do vilão/anti-herói, porque me permite despir-me de
preconceitos e de fazer julgamentos, forçando-me a buscar as razões, obviamente
não justificáveis, dos atos cometidos. Escancarar que a mente humana é complexa
e que há variadas leituras e interpretações da realidade por “N” motivos, assim
como diversas reações a elas - das mais brandas às mais perversas -, é o
compromisso que assumi com minha escrita.
4. Quais foram as referências para a construção da
narrativa?
J.V.:
Documentários que partem da vida do criminoso, seja ele um assassino psicopata
ou um serial killer; livros e séries como “Dexter” (Jeff Lindsay), “Perfume: a
história de um assassino” (Patrick Süskind), “Bates Motel” (Robert Bloch) e
“You” (Caroline Kepnes), que assim como na trilogia “O Ceifador de Anjos”
acompanhamos o dia a dia do vilão/anti-herói, ficando as investigações sempre
em segundo plano.
5. O que os leitores
podem esperar da trilogia “O Ceifador de Anjos” nos próximos volumes?
J.V.:
Muito sangue, muitas descobertas e reviravoltas. A trilogia está dividida nas
três fases da vida do Ceifador. Neste primeiro volume (A coleção de fetos),
temos a melhor fase da sua vida: onde ele faz e acontece sem precisar lidar com
as consequências, é feliz e invisível no que se refere ao radar dos detetives;
no volume 2 (Antes da coleção), retornamos à sua infância e adolescência, além
de parte da sua vida adulta, quando dá início à coleção, de forma que o leitor
possa “compreender” o que o levou a cometer tamanhas atrocidades; e por fim, no
volume 3 (A última ceifa), deparamo-nos com a pior fase da vida do Ceifador,
onde ele começa a arcar com as consequências de seus atos. Costumo brincar que
no primeiro livro é fácil “amar” e até “torcer” pelo Ceifador, e que no
segundo, o leitor é capaz de o entender e até ter alguma empatia pelo
protagonista, enquanto, no livro três, quaisquer sentimentos são transformados
em ódio.
Sobre a autora: Nascida
em Itapeva, no interior de São Paulo, a escritora de suspenses, Juliete
Vasconcelos, reside atualmente em Sorocaba. Pós-graduada em Criminologia,
aborda em seus livros temas como psicopatia e outros transtornos. É autora de
“Quando os Pássaros Pousam”, vencedor das premiações Book Brasil 2020 e Ecos da
Literatura 2020, e de “Segredos de origami guardados em porcelana”, em
coautoria de Drico Araújo, finalista do Prêmio Ecos da Literatura 2021.
Também participou da antologia “Te
odeio, mãe! Com todo meu amor” com o conto “Nossa mãe, Maria”, no qual aborda
abuso infantil e narcisismo materno, recebendo o Troféu Cecília Meireles ao ser
eleita uma das mulheres notáveis da 23ª edição da premiação. Agora, presenteia
os fãs com uma nova edição da trilogia O Ceifador de Anjos, que foi finalista do Prêmio Ecos da Literatura 2019.
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