Em
autoficção, Jeder Janotti Júnior aborda a masculinidade paterna imposta aos
homens e os ritos de passagens que transformam dinâmicas familiares
Inspirado na figura
paterna — homem de rotinas rígidas, afeito aos bares, às amizades masculinas e
à distância emocional com a família — o escritor e doutor
em Ciências da Comunicação, Jeder Janotti
Júnior, traduz no livro Mãe, o pai não vai chorar? a inquietação diante dos rigores da masculinidade paterna.
Com sensibilidade, aborda a lenta decadência física e psicológica do pai até
sua morte — momento que dispara uma intensa rememoração de vivências e palavras
não ditas.
Nos últimos encontros com o progenitor,
o autor se lembra que o pai não conseguia mais
caminhar, mas também não aceitava as próprias fragilidades apesar de depender
do filho para tarefas simples. Ao revisitar outras lembranças marcantes — as
viagens e afazeres durante a infância, a construção da casa da família e os
lutos ao longo da vida —, Jeder confronta os ritos de passagem e as heranças
emocionais transmitidas através das gerações, como a falta de aproximação
física e afetiva entre os homens.
Muita gente pensa que o
lento e implacável processo de definhamento, ao invés de uma morte súbita,
prepara os que ficam para a morte do outro, quiçá para nosso próprio fim. Mas
não existe isso, a lentidão só traz a insegurança de que após a transubstanciação
do pai em avô, o próximo a estar diante do inexorável é o primogênito. (Mãe, o pai não
vai chorar?, p. 12)
Por meio de uma linguagem imagética e
lírica, Jeder
Janotti Júnior destaca a mãe
como arrimo familiar, uma vez que ela desempenhou múltiplos papéis para
preencher as lacunas deixadas pela ausência emocional e falta de carinho do
pai. Com uma prosa rica em detalhes, o escritor transcende a experiência
pessoal para abordar questões cotidianas sobre identidade, conexões de afeto e
as sensações que moldam a subjetividade de cada pessoa.
Mãe, o pai não vai
chorar?
é para todos aqueles que buscam fazer as pazes com a
criança interior, por meio de reflexões sobre temas como o machismo, a
desigualdade social e o medo de envelhecer. “Ao invés de pensar a narrativa
memorialista como catarse ou como remédio, o livro é uma espécie de phármakon — termo grego que se refere à escrita como forma de ampliar
o conhecimento. Mostra a potência da narrativa e seus limites para refletir
sobre o existir”, conclui o escritor.
FICHA TÉCNICA
Título: Mãe,
o pai não vai chorar?
Autor:
Jeder Janotti Júnior
Editora: Ipê da Letras
ISBN:
978-65-5239-237-4
Páginas:
73
Preço:
R$42,00
Onde comprar: Amazon | Livraria Ipê da Letras
Sobre o autor: Doutor em Ciências da
Comunicação pela Unisinos RS, Jeder Janotti Júnior é professor titular da Universidade Federal de Pernambuco,
onde coordena o Laboratório de Análise de Música e Audiovisual no Programa de
Pós-Graduação em Comunicação. Além de autor de ensaios e livros de ficção, ele
conta com um apanhado de publicações acadêmicas, dentre as quais destacam-se
“Heavy Metal com Dendê”, “Aumenta Que Isso Aí É Rock and Roll”, “Rock me Like
The Devil: a assinatura das cenas e das identidades metálicas” e “Gêneros
Musicais em Ambiências Comunicacionais”.
Em 2018, lançou pela Titivillus Editora
seu primeiro romance “Levedação”, que narra as peripécias de um aluno de
doutorado brasileiro em Montreal. Em 2021, publicou pela Intermeios o livro
ensaio “Memorial de Antiajuda Acadêmica”. Mãe, o pai não vai chorar? é seu segundo romance, marcado por tons autoficcionais,
publicado pela Ipê da Letras.
Instagram do autor: @jederjanotti
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