Lei aprovada proíbe uso de celulares em sala de aula com o objetivo de resguardar a saúde mental e física das crianças e adolescentes
Em
janeiro, foi sancionada a lei que restringe o uso de celulares nas escolas
brasileiras, permitindo seu uso apenas para atividades pedagógicas. O objetivo
principal é proteger a saúde mental, física e emocional de crianças, jovens e
adolescentes, além de promover um ambiente escolar mais saudável e equilibrado.
A medida pode também ser útil no combate ao cyberbullying, que envolve ataques
realizados por meio da internet.
No
ano passado, os cartórios de notas do Brasil registraram um aumento de
aproximadamente 12% na média anual de casos de bullying e cyberbullying. Esse
aumento foi documentado por meio de solicitações de atas notariais, que
comprovam os ataques. Os casos podem variar de xingamentos e ofensas a
agressões físicas mais graves, podendo até evoluir para ataques a escolas,
homicídios e outros crimes.
“Na
escola, muitos adolescentes criam perfis no Instagram, chamados de ‘explana’,
para falar mal de alguém sem que a pessoa saiba quem é o autor. É uma forma de
contar segredos e expor a pessoa sem ser identificado. Tudo acaba sendo exposto
no ‘explana’”, contou um adolescente entrevistado pelo ChildFund Brasil durante
a realização da pesquisa intitulada Mapeamento
dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet.
Mais de oito mil estudantes das redes pública e privada foram entrevistados e
alguns relatos, coletados.
Outro
jovem participante da pesquisa acrescentou: “Isso pode gerar brigas entre
escolas, como aconteceu aqui no bairro. No ano passado, houve uma briga porque
uma pessoa descobriu que a outra falava mal dela no ‘explana’. Eles se
encontraram em um local e formaram uma gangue para agredir todos os
envolvidos”.
Vítimas de cyberbullying podem apresentar mudança de
comportamento
Crianças,
jovens e adolescentes expostos a estes casos, provavelmente, apresentam sinais.
Se o problema ocorrer no ambiente escolar, o jovem tende a se recusar a ir para
a escola; mas, os sinais de que algo está errado vão além disso. Os professores
conseguem identificar com maior facilidade, pois passam mais tempo juntos.
Quando ocorre no ambiente digital, os pais devem estar atentos à mudança de
comportamento, ansiedade, crises de pânico, tristeza, irritabilidade, perda de
apetite e até o afastamento social.
No
dia 11 de fevereiro, é comemorado o Dia da Internet Segura, uma campanha
internacional para chamar a atenção para o uso seguro e responsável da
tecnologia. A data é também uma oportunidade de lembrarmos a importância de
cuidar dos jovens enquanto acessam a internet. “"Bullying é o ato de
ameaçar, agredir e intimidar uma pessoa sistematicamente, por conta da sua
condição social, aparência física, entre outras características. O
cyberbullying, que é quando essa prática acontece na internet, potencializa esses
danos naquela pessoa que sofre bullying, especialmente, nas crianças e nos
adolescentes, que ainda não desenvolveram totalmente o seu arcabouço psíquico
para enfrentar tais questões. O cyberbullying é praticado, geralmente, por
pessoas conhecidas, mas, infelizmente, é a ponta de algo muito maior. Os riscos
de os adolescentes utilizarem a internet sem monitoramento de pessoas adultas
são bem maiores, com a possibilidade de serem vítimas de abusos e
violência sexual on-line”, explica Mauricio Cunha, diretor de país do ChildFund
Brasil, organização com mais de 58 anos de atuação no país em defesa dos
direitos da criança e do adolescente.
Entender o comportamento possibilita maior proteção
Compreender
os horários de maior insegurança na rede social, entender quais aplicativos
oferecem menos mecanismos de proteção e monitorar os adolescentes enquanto
utilizam a internet são formas de protegê-los. Nos jogos on-line, o cyberbullying é um
comportamento bastante comum, principalmente, por ser feito no tom de
brincadeira e em um local de distração. Mas, além disso, os perigos de abuso e
violência sexual também existem.
O
estudo realizado pelo ChildFund Brasil revelou que 5,6 milhões de
adolescentes podem ter sofrido violência sexual on-line, o que equivale a
população de países como Congo, Finlândia e Noruega. Outra informação revelada
pelo estudo é: adolescentes que mantêm um bom diálogo com a família e cujo
acesso à internet é supervisionado pelos pais, têm 40% menos chance de se
tornarem vítimas de violência sexual. “As informações destacadas pela
pesquisa são muito importantes, pois servirão como base para que nós, poder
público e organizações da sociedade civil consigamos mobilizar e criar
políticas públicas, a fim de criar mecanismos de proteção para crianças e
adolescentes no ambiente virtual”, destaca Mauricio Cunha.
Outra
entrevista realizada durante a pesquisa chamou a atenção. "Minha prima,
que tem sete anos, joga Free Fire, um jogo onde é permitido conversar
on-line. Durante uma partida, ela estava conversando com um rapaz de
quinze anos. Eu consegui o número do telefone dele, para que ela soubesse quem
era, já que não o conhecia. Mas, na verdade, esse rapaz era uma pessoa mais
velha, para quem a minha prima informou o endereço da casa. Ela e toda a
família tiveram que mudar [do bairro] porque corriam o risco de ele ir até lá e
fazer alguma coisa errada com a minha prima”, relembra a adolescente.
Para
que casos como esse não continuem ocorrendo, é necessário que os responsáveis
estejam de olho nos sites e jogos acessados, além de ativar o controle parental
e verificar sempre com quem os jovens estão conversando e quais conteúdos estão
sendo consumidos.
Os
primeiros resultados da pesquisa estão disponíveis no site do ChildFund Brasil,
neste link.
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