Em
livro, João Filipe da Mata retrata diferenças sociais e processo de
amadurecimento a partir do diálogo entre dois jovens de contextos distintos que
se conhecem em um enterro
Depois de anos vivendo
no exterior, o diplomata João Paulo retorna ao Brasil para o enterro de uma
pessoa especial: sua babá, Zila. Nascido em uma família de classe média alta de
Brasília, o jovem cresceu recebendo carinho e ensinamentos da cuidadora, quando
até a própria mãe dele parecia manter uma distância afetiva do filho. Por isso,
sempre se sentiu mais próximo da mulher contratada para trabalhar para ele do
que da pessoa responsável por trazê-lo ao mundo.
No livro Filho da Mãe, o escritor João Filipe da Mata propõe uma reflexão profunda sobre as consequências
psicológicas das diferenças de classe na sociedade. Essas feridas emocionais
são expostas quando o protagonista conhece Zilo, que acabou de se tornar órfão,
e os dois começam a conversar sobre as próprias experiências de vida. Juntos
partem em uma roadtrip até o
interior de Minas Gerais com o objetivo de conhecer mais sobre o passado de
Jezila, que há muitos anos tinha deixado a cidade-natal para trabalhar na
capital do país.
Escrita em diferentes vozes, a obra
utiliza diversos recursos estilísticos para representar os conflitos internos
vivenciados pelo personagem principal. Com dificuldade de falar sobre os
sentimentos, o narrador várias vezes interrompe abruptamente fluxos de
pensamento, mantém uma conexão contínua entre passado e presente, não
diferencia diálogo da narração, como ainda introduz perspectivas íntimas em
meio aos acontecimentos externos.
Eu não podia viver tão
longe e continuar a ler sempre os mesmos jornais. Eu não podia viver tão longe
e falar apenas com as mesmas pessoas. Eu não podia viver tão longe e comer
todos os dias a nossa comida. Eu não podia viver tão longe apenas. Havia vida
nova ao meu redor que eu precisava conhecer. Para viver tão longe eu precisava
aceitar que estava longe. (Filho da Mãe, p. 12)
Além de precisar compreender as emoções
de Zilo, que cresceu longe da mãe e sentia-se frustrado por essa falta de
atenção, o protagonista passa a olhar para dentro de si para compreender como
as memórias do passado moldam suas perspectivas de mundo. Por causa do
trabalho, morou em diferentes lugares: conheceu Abu Dhabi, Xangai e outras
cidades - de todos esses locais, sempre levou consigo uma maior bagagem
cultural e a solidão não somente inerente da profissão, mas também das
vivências como um homem gay na sociedade.
Filho da Mãe
é uma ficção com elementos de realidade, porque João Filipe da
Mata compartilha
características com o personagem que dá vida à trama. Assim como o jovem do
enredo, ele é vice-cônsul, já viveu em diferentes países, faz parte da
comunidade LGBTQIAP+ e é representante de uma das primeiras gerações nascidas
em Brasília. Com um olhar intimista para a trajetória do autor, a obra toca em
temas comuns aos contextos de muitos brasileiros que, em meio a uma juventude
atravessada por complexidades sociais, econômicas e políticas, buscam um lugar
para pertencer.
Ficha técnica
Título: Filho da Mãe
Autor: João Filipe da Mata
Editora: Much
ISBN:
978-65-86267-28-0
Páginas: 116
Preço: R$ 69,80 (físico)
Onde encontrar:
Much Editora
Sobre o autor: João Filipe da Mata é
representante de uma das primeiras gerações nascidas em Brasília. Graduado em
Direito, já morou em países como Eslovênia, Itália, Emirados Árabes e China,
onde trabalhou em embaixadas e consulados brasileiros. É servidor público do
Ministério das Relações Exteriores e atualmente vive em Sydney, na Austrália. Filho da Mãe é seu romance de estreia.
Redes sociais do autor
Instagram: @jfilipedamata
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