Outras armadilhas desejáveis tem poemas reflexivos sobre a vida cotidiana, a impermanência e a finitude
Compositor
com mais de quatrocentas canções gravadas por vozes consagradas como as de
Simone, Fagner, Zélia Duncan, Elba Ramalho, Filipe Catto e Amelinha, o
pernambucano Juliano Holanda – que alcançou visibilidade nacional ao compor a
elogiada trilha musical para a série Amorteamo,
de João Falcão, na TV Globo – estreia na literatura, pela Maralto Edições, com
o livro Outras armadilhas
desejáveis.
Com
uma vasta bagagem de referências literárias, que incluem influências de nomes
como Marco Polo, Lucila Nogueira, Philippe Wollney, Gleydson Nascimento, entre
outros, Holanda entrega em Outras
armadilhas desejáveis – que tem orelha da cantora Zélia Duncan –
uma coleção de poemas narrativos, com percursos ora tensos, ora reflexivos.
“Uma
canção geralmente surge de um suporte harmônico/melódico. É possível escrever
uma letra puramente para canção, mas daí há um certo acento rítmico específico
e uma tendência formal para que a canção soe desenhada”, explica o autor. “Um
poema não carece necessariamente de nenhuma amarra. E pode até se servir das
mesmas artimanhas da letra de uma música, porém também está livre para não se
servir. Para mim, no ato da escrita o próprio texto vai se encaminhando para
uma coisa ou outra. É uma manobra sutil.”
Outras
armadilhas desejáveis
abre com “Horas”, um texto que transporta o leitor para a casa da avó de
Holanda. É um talho de memória, de resignação, trata de entender os movimentos.
Agora
é a hora das moscas.
O
terraço é delas,
Minha
cabeça,
Meu
braço é delas.
O
bairro todo é delas.
Sinto
seu beijo leve,
Quase
toque,
Fino
rastejar.
Ainda
é dia e o mundo todo é delas.
Não
me aborreço
E
até entendo:
Mais
tarde será das muriçocas.
“Arqueologia”
é uma foto. Um post de rede social. Uma reelaboração da verdade. Talvez seja
uma montagem malfeita, ou uma mentira propagada. Mas também pode ser a mais absoluta verdade.
As
múmias em posição fetal
Achadas
no Peru
Liam
poesias
E
esculpiam em pedras.
Poesias
melhores que esta.
Pedras
mais leves que esta.
Poesia
e pedras iguais.
As
múmias achadas no Peru
Tinham
muita pressa.
Agora
não têm mais.
“Em
tese” é um jeito simples de dizer algo complexo. E cabem muitas vírgulas. É
mais como um começo de conversa em alguma mesa de bar. A ideia não é desmerecer
ninguém, é merecer.
Cultura
de massa
É
um espelho bonito
Que
ninguém desembaça.
Cultura
mesmo
É
o que fica na beira
Depois
que a onda passa.
Com
mais de duas décadas de trajetória artística, Juliano Holanda segue mais afiado
e criativo do que nunca, consolidando-se como um talento genuíno. Com a
musicalidade à flor da pele, ele não descarta totalmente a possibilidade de
algum poema da obra se tornar canção.
“Fico
me propondo armadilhas justamente para não cair em caminhos que já percorri”,
reflete Holanda. “Às vezes tenho que sabotar a canção do texto para que ele se
torne poema. Não quero musicar nenhum, mas a criação tem das suas. Talvez eu
precise de tempo e distância para esquecer que escrevi e só então consiga olhar
para esses poemas como se tivessem sido criados por outra pessoa. Por enquanto
são poemas aos meus ouvidos”, finaliza o autor.
Outras
armadilhas desejáveis
chega às livrarias e às plataformas digitais de vendas no mês de julho. A obra
fará parte do Programa de Formação Leitora Maralto, uma iniciativa direcionada
para escolas de todo o país.
Sobre
o autor: JULIANO
HOLANDA nasceu em 1977, na cidade de Goiana, Zona da Mata Norte de Pernambuco.
Compositor com mais de quatrocentas canções gravadas, é também instrumentista,
produtor e diretor musical com realizações no teatro, no cinema e na televisão.
Seu ofício na música sempre teve a palavra como ponto de partida. Leitor e
entusiasta da literatura pernambucana, Outras
armadilhas desejáveis é o primeiro livro de poesia do autor.
Outras
armadilhas desejáveis
Páginas:
85
Autor:
Juliano Holanda
Preço:
R$ 59,90
Vendas:
Amazon
Lançamento:
06/07/2024 às 16h
Livraria do Jardim
Av: Manoel Borba, 292. Boa Vista. Recife - PE
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