Artista
transporta seu ateliê para o espaço da galeria, com objetos e móveis do
cotidiano, e faz uma declaração de amor à fotografia por meio de obras com
técnica inédita criada por ele
Flores para Vilem Flusser 3 (2024) Platinum, sais de prata e tinta óleo sobre tela. 120 x 150 cm Foto: Zipper Galeria
Uma declaração de amor à fotografia. É com esse sentimento que André Feliciano criou
um método único - envolvendo diversas técnicas seculares de diferentes momentos
da história fotográfica - para recriar cenas do cotidiano, apresentadas em
exposição na Zipper
Galeria, em cartaz a partir do dia 25 de maio.
A mostra O Ateliê Fotográfico de André
Feliciano é um convite para adentrar à intimidade
criativa do artista: seu ateliê é transportado para o espaço da galeria. É como
se o visitante passeasse pelo universo de Feliciano, onde cada objeto, cada
móvel, cada rolo de filme, juntos, contam a história de um apaixonado pela
fotografia.
André apresenta, em mais de 20 obras inéditas, os resultados de
dois anos de pesquisa, que retratam a criação de um cotidiano fotográfico
lúdico. Em cada uma delas, ressuscita a história da fotografia, desde a
impressão salgada do século 19 – que é a primeira técnica de positivo e
negativo da história –, o banho de platinum, o filme analógico em chapa de
negativo e a impressão digital. Além disso, resgata uma tradição antiga da
fotografia pintada, com aplicação de tinta óleo sobre as fotos analógicas em
preto e branco.
O diferencial de Feliciano não reside apenas na técnica exímia que
emprega, combinando antigas práticas com tecnologias contemporâneas, mas também
na singularidade de sua abordagem. Em um campo onde poucos ousam aventurar-se,
ele se destaca como um visionário que desbrava territórios inexplorados, ao
criar flores, comidas e objetos como declarações de amor à fotografia.
“Cada imagem é resultado de um processo demorado, uma ligação
afetuosa entre o presente e o passado, de uma forma que arte e vida se
entrelaçam. Essa exposição é um retrato da minha relação de envolvimento com
esse universo. É uma troca. Eu fotografo o mundo, e o mundo me fotografa de
volta”, declara o artista.
Sobre André Feliciano
Pessoa cultivada é aquela que se interessa por arte. E a arte?
Pode ser cultivada? É certo que a arte aparece frequentemente nos terrenos
baldios, como erva-daninha, vai crescendo nas frestas, entre os outros campos
do conhecimento. Mas a semente precisa ser espalhada, colocada para voar, até
germinar em terreno novo, para que todos percebam.
Não basta só o especialista, jardineiro-de-arte, saber que em um
terreno há sementes dormindo: é preciso ver os brotos. Quando eles surgirem,
estaremos no Florescimento, vislumbra André Feliciano. "Da mesma forma que
uma plantação de tomates é cultivada, a natureza da arte está sendo cultivada.
Se na plantação de tomate todo o processo da preparação do terreno à
frutificação demora 3 meses, na arte, pode demorar uns 3 séculos. Hoje, a
semente da natureza da arte já foi plantada, mas ainda não brotou". Não se
sabe qual será o fruto, nem quando virá.
Quando chegar o Florescimento, que na teoria de André Feliciano é
uma espécie de enxerto entre Primavera e Renascimento, uma reconexão com a
natureza, uma mistura do tempo da natureza e do tempo da história da arte, a
arte não será alguma coisa inteligível só para os cultivados e cultivadores:
será algo vivo e fará parte da vida de todos. O termo mal ajambrado "arte
contemporânea" dará lugar então a um nome mais específico, e "arte
florescentista" é uma sugestão.
André Feliciano trabalha como jardineiro-de-arte e cultiva
coletivamente o Florescimento da arte. Mas também trabalha como artista e cria
um imaginário próprio. Cria flores em forma de câmeras, disseminadas pela
própria fotografia. Essa flor-câmera, como toda obra de arte, não é
simplesmente olhada, mas também nos olha e nos registra. Nos reconectamos com a
natureza através dela. Nas palavras do artista, "geralmente a fotografia
está relacionada à morte (Roland Barthes), pois é uma imagem que define um momento
que não vai mais voltar, é uma imagem que mostra um momento que 'morreu'.
Assim, cultivo uma vida para fotografia, criando relações de outra ordem com a
fotografia... como a ideia de que a flor pode nos fotografar sem
necessariamente gerar uma imagem, mas sim uma relação fotográfica mais viva e
poética."
Como artista, Feliciano cria no campo da fotografia e sua
filosofia. Também convida vaga-lumes para revelarem imagens, faz esculturas e
outros modos para celebrar a vida fotográfica. Como jardineiro-de-arte, por sua
vez, cultiva a transição entre a arte contemporânea e o que vem depois. Cultiva
flores coletivas do amanhã. Cultiva o Florescimento da arte.
Sobre a Zipper Galeria
Localizada no bairro Jardins em São Paulo, à rua Estados Unidos
1494, a Zipper Galeria é mais do que uma galeria de arte; é um espaço dinâmico
que se reinventa continuamente para acolher a multiplicidade de discursos da
arte contemporânea. Desde sua inauguração em 2010, a galeria tem sido uma
referência para artistas emergentes e uma plataforma inclusiva para nomes
estabelecidos.
A arquitetura acolhedora da Zipper Galeria, que foge do
tradicional cubo branco, com inspirações do brutalismo, é assinada por Marcelo
Rosenbaum. O espaço abraça a interseção entre arte e tecnologia, reunindo
diversas formas de expressão artística, desde a pintura e escultura até a
fotografia, vídeo, desenho e instalação.
A Zipper Galeria iniciou sua trajetória com foco nos talentos
emergentes da cena artística, sendo reconhecida como uma galeria que respira a
"linguagem jovem de São Paulo". Ao longo dos anos, no entanto, a
galeria expandiu suas representações, incorporando artistas representativos das
décadas de 1980 e 1990, além de testemunhar o amadurecimento das produções dos
artistas que acompanhou desde o início.
A palavra que melhor define a Zipper Galeria é
"pluralidade". A galeria se tornou um ponto de convergência para a
diversidade de estilos do cenário artístico brasileiro. Essa abertura à
pluralidade é evidenciada em projetos como o Zip’Up, lançado em 2011, que ocupa
o segundo andar da galeria, e o "Salão dos Artistas Sem Galeria",
realizado anualmente desde 2012, ambos dedicados a impulsionar artistas ainda
não inseridos no circuito comercial de São Paulo. Além disso, a Zipper Galeria
marca sua presença no cenário urbano com o projeto "Poesia de
Fachada", que transforma a fachada da galeria em uma tela para poemas
visuais.
A visão e paixão por arte de Fabio Cimino deram origem à Zipper
Galeria, e desde 2012, seu filho, Lucas Cimino, junto com o sócio Osmar Santos,
a partir de 2017, tem liderado a galeria, trazendo a combinação de experiência
e inovação para consolidar o compromisso da Zipper Galeria com a arte
contemporânea.
Em constante evolução, a Zipper Galeria continua a ocupar um
espaço essencial no panorama cultural brasileiro, impulsionando iniciativas
pautadas por criatividade artística e tecnológica.
https://www.zippergaleria.com.br/
https://www.instagram.com/zippergaleria/
Serviço:
O Ateliê Fotográfico de
André Feliciano
Abertura: 25 de maio, das 11h às 17h
Período expositivo: 25 de maio a 27 de julho
Endereço: Rua Estados Unidos, 1494 - Jardim América, São Paulo - SP
De segunda-feira a sexta-feira, das 10h às 19h, e sábado, das 11h às 17h
Entrada gratuita.
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