A
edição comemorativa de 20 anos da SP–Arte, que aconteceu entre os dias 3 e 7 de
abril, reuniu no Pavilhão da Bienal mais de 190 expositores entre galerias de
arte nacionais e internacionais, estúdios de design, editoras, instituições
culturais e espaços independentes. Com sucesso de público e resultados que
superaram as expectativas de muitos dos expositores, a feira consolida sua
posição como evento que abre o calendário do mercado de arte no país e maior
feira de arte e design do Hemisfério Sul, alinhando-se às maiores do mundo.
Com
ingressos esgotados no terceiro dia de feira, o evento recebeu 32 mil
visitantes, e já tem data marcada para a edição de 2025: entre 2 e 6 de abril,
no Pavilhão da Bienal. Mas antes disso, ainda neste ano, acontece a terceira
edição de Rotas
Brasileiras, de 28 agosto a 1 setembro, na ARCA. A feira conta
com projetos curados especialmente para a ocasião por galerias de todo o país e
celebra a diversidade e a riqueza da arte brasileira. Na edição deste ano,
Rotas Brasileiras contará com a direção artística do curador Rodrigo Moura,
atual curador chefe do Museu del Barrio, em NY, e com passagens pelo MASP e por
Inhotim, entre outras instituições.
A
SP–Arte reuniu colecionadores, curadores, artistas, designers, arquitetos,
estudantes e público interessado em arte e design de forma geral, reafirmando
sua relevância e reputação no cenário nacional. Entre os aspectos positivos
destacados pelos próprios expositores estão o alto nível dos trabalhos
apresentados no evento e o perfil qualificado de compradores, muitos deles
jovens bem- informados e interessados em consumir arte e design.
Destaques
A
diversidade de linguagens artísticas e a alta qualidade das obras exibidas no
setor Arte surpreenderam
tanto o público especializado quanto os curiosos por arte.
No
primeiro piso, verdadeiras raridades de artistas modernos como Di Cavalcanti (Pinakotheke),
Victor Brecheret (Paulo
Kuczynski) e Ismael Nery (Fólio),
além de pioneiras como Judith Lauand (Berenice
Arvani), Tereza D’Amico (MaPa)
e Ione Saldanha. Destaque para a presença de nomes internacionais como o
italiano Lucio Fontana e o mexicano Gabriel Orozco (Almeida
& Dale).
Entre
as galerias contemporâneas, no segundo piso, artistas consagrados estiveram
presentes, como Anna Maria Maiolino (Luisa
Strina), Sérgio Camargo, José Resende (Marcelo
Guarnieri), Adriana Varejão e Artur Barrio (Central)
– estes dois últimos também participaram de Talks pela feira. Entre outras
gerações, brilharam Ana Elisa Egreja (Leme),
J. Cunha (Paulo
Darzé), Vivian Caccuri (Millan),
Thiago Martins de Melo (Lima),
Yuli Yamagata (FDAG),
Eduardo Berliner (Casa
Triângulo) – indicado ao prêmio da ArtNexus – e o coletivo indígena MAHKU (Carmo
Johnson Projects). Artistas internacionais estreladas como a argentina
Marta Minujín (Herlitzka
& Co.) e a norte-americana Lynda Benglis (Mendes
Wood DM) atraíram os cliques do público.
Jovens
artistas também ganharam destaque na feira, como Froiid (Albuquerque
Contemporânea), Diambe (Simões
de Assis), Gustavo Diógenes (Leonardo
Leal) e Tadáskía (FDAG).
E nas instituições, trabalhos de Yael Bartana (Casa
do Povo) – representante do Pavilhão da Alemanha na Bienal de Veneza,
múltiplo inédito de Paulo Nazareth (Pivô)
e aquarelas de Marina Rheingantz (Solar
dos Abacaxis).
O
setor Design
teve cinco dias vibrantes, com 67 expositores sendo 18 estreantes, dividindo-se
entre moderno e contemporâneo, móveis raros e coleções inéditas, e com uma
exposição sobre a diversidade de materiais no design atual.
O
design internacional ganhou espaço nas galerias de mercado secundário. A
Apartamento 61 trouxe uma estante de George Nelson da década de 1950, de grande
porte e com luminárias de Tapio Wirkkala desenhadas sob medida, além do sofá
modular DS600, de 1972, com referências space age refletidas nas paredes
prateadas do estande. A Teo apresentou exposição da Forma, empresa que
licenciou clássicos da Knoll International no Brasil, a exemplo do conjunto de
Warren Platner. Na Artemobilia, destaque para a trajetória dos irmãos Hauner e
de Martin Eisler desde a Móveis Artesanal até a mesma Forma, com várias
cadeiras de estrutura metálica delgada, uma de suas marcas registradas. A
AMDMB, associação que reúne galerias especializadas no vintage moderno
brasileiro, recriou o hall do icônico edifício Lausanne, com seleção de móveis
raros do Branco&Preto. Na Passado Composto, mais raridades em jacarandá de
Joaquim Tenreiro, Geraldo de Barros e Jorge Zalszupin.
Já
a Novidário disponibilizou coletores de tampas de garrafas PET consumidas
durante a feira pelo pavilhão, para confeccionar mobiliários que serão lançados
e expostos em 2025 no evento; a matéria-prima também foi usada nos lançamentos
expostos pela marca nas Linhas Trilha, Tapetes Mapa e Cadeira Pipa.
Vendas
O
sucesso comercial da feira foi constatado por diversos galeristas. Thais Darzé,
diretora da Paulo Darzé
Galeria, de Salvador, disse: “O saldo da feira foi positivo em
todos os sentidos, fechamos quinze negócios. Ficamos felizes em difundir o
artista J. Cunha, ainda pouco conhecido do grande público. O mais positivo é
que dos negócios, 60% foram para novos clientes. Essa é uma resposta
sensacional pois é a construção de novas gerações de colecionadores, de novos
mercados”.
Ulisses
Cohn, um dos nomes à frente da DAN
Galeria, afirma que a 20ª edição foi excepcionalmente
boa. “Vendemos artistas de vários patamares de preço, idades e estilos,
foi uma feira que teve resultado bastante amplo para nós, com um saldo muito
positivo”.
André
Millan, da Millan,
afirmou: “Constatamos um crescimento nas vendas de 70% em relação à edição
passada. Interessante observar que comercializamos obras de artistas
consagrados e jovens talentos em início de carreira. Sinal de que o público e
os colecionadores da feira hoje têm um perfil mais diversificado que nas
edições anteriores. Em linhas gerais, a feira foi muito boa”. Um dos trabalhos
vendidos foi a instalação "Blue Tango", de Miguel Rio Branco,
composta por 16 peças e criada há 20 anos.
A
Gomide&Co
também comemorou o sucesso. A galeria vendeu, no total, 35 obras. De acordo com
o sócio-fundador Thiago Gomide, a feira deste ano foi muito positiva. O
galerista vendeu uma obra de Lorenzato, por R$ 1 milhão; uma de Chico da Silva,
avaliada em R$ 150 mil; outra da artista Lenora de Barros, por R$ 120 mil, além
de obras de Julia Isidrez, Nilda Neves e Maria Lira Marques, por R$ 20 mil, R$
60 mil e R$ 80 mil, respectivamente.
Isadora
Ganem, diretora da Mendes
Wood DM, afirmou estar muito satisfeita com a edição e os
resultados. Ela comentou que conseguiram posicionar muito bem os artistas,
principalmente os que irão participar do pavilhão brasileiro da Bienal de
Veneza neste ano, com ênfase para Lucas Sithole e Sonia Gomes. Para Antonia
Bergamin, da Galatea,
a feira foi ótima. Até o sábado (6), a galerista afirmou ter vendido em torno
de 18 obras, comentou que algumas outras estavam sendo negociadas e que
provavelmente as vendas se consolidariam no pós-feira.
Entre
os galeristas do mercado primário, o clima de satisfação também era evidente.
Carmo Johnson, da Carmo
Johnsons Projects, afirma ter vendido obras do Coletivo Mahku,
que será destaque na Bienal de Veneza deste ano. Segunda a galerista: “Foi a
melhor feira. Consideramos que cumpriu 100% o papel, que para nós é vender e
fazer boas negociações”.
Lucas
Cimino, da Zipper Galeria,
acredita que, cada vez mais, a tendência é que as feiras cumpram funções
institucionais. “Óbvio que todos esperam vender e nós vendemos bem, mas
acredito que a presença na feira é uma vitrine muito importante, e colabora
para a visitação na galeria ao longo do ano”. O galerista comercializou 29
trabalhos e ainda aposta no pós-feira. Entre eles, trabalhos de grandes
dimensões, como o de Janaina Mello Landini, da série “Ciclotrama”, de 2m x 4m.
Além de diversas obras da artista Flávia Junqueira; em torno de quatro da
artista Laura Villarosa (uma delas medindo 50cm x 2m), e obras de Daniel
Mullen. Segundo o galerista, em termos de quantidade de vendas, a edição deste
ano foi superior à anterior.
Entre
os expositores fora do eixo Rio x São Paulo, a Marco Zero, de Recife, também constatou uma
edição aquecida. Segundo Amanda Alencar, produtora executiva da galeria, a
feira foi ótima e melhor do que a de 2023. “A edição foi um bom caminho para
iniciar contatos e apresentar trabalhos de artistas que estamos representando.
Trouxemos um projeto focado em artistas da Paraíba e de Pernambuco, com
curadoria assinada por Jacopo Crivelli Visconti. Estar presente na feira é
sempre muito positivo para relacionamento”.
Para
Marco Antônio Lima, da galeria maranhense Lima, a feira foi muito boa do ponto de
vista institucional. “Tivemos uma repercussão muito grande junto aos curadores,
instituições e colecionadores, com nossos artistas se posicionando bem no
mercado”. Em relação às vendas, o galerista comenta que fizeram bons negócios e
estavam felizes com os resultados.
Entre
os galeristas internacionais, Mariano Ugalde, diretor da Salar Galería de Arte -
estreante na feira -, afirmou: “Para nós, a 20ª edição foi um sucesso. Na parte
comercial, tivemos êxito com a cobertura da imprensa especializada, com a
presença de colecionadores e de público especializado em arte contemporânea.
Pudemos mostrar um pouco mais do que fazemos, da nossa programação, então foi
sem dúvida um sucesso e esperamos voltar no próximo ano”.
Design
O
tema da exposição Tátil:
materiais no design contemporâneo, com curadoria de Livia
Debbane – que trouxe nomes experientes como Arthur Casas, Claudia Moreira
Salles e Domingos Tótora, e jovens como Lucas Recchia e Luiz Solano –
reverberou em muitas das apresentações. Não apenas nas várias pesquisas de materiais
sustentáveis, como na exploração de novas formas de trabalhar materiais,
permitida pelas edições limitadas. Gustavo Bittencourt combinou madeira com
folhas de alumínio martelado à mão. O metal deu atmosfera às criações de Cris
Bertolucci inspiradas por paisagens cósmicas. A luz também foi tema da ,ovo,
com série de luminárias únicas de base escultural de pedra e difusores de linho
tingido em degradês. Na estreia de Nydia Rocha e Studio de la Cruz, pendentes
de porcelana branca criaram uma instalação luminosa minimalista. E da Estar+
TomaziCabral, uma luz dourada emanou das cestarias esculturais em palha de
trigo.
“O
conceito da exposição ecoou no setor de Design como um todo, trazendo boas
reflexões para o público. Percebi também que a seleção trouxe descobertas mesmo
para quem é do meio. Outro comentário positivo foi para o projeto expográfico”,
comentou a curadora Livia Debbane.
Pablo
Casas, da Herança Cultural, comentou sobre um aumento grande de público
qualificado no design: “A SP–Arte é a maior feira do setor no país, não existe
comparação”.
Diogo
Matsui, da Superlimão, que realizou uma parceria de sucesso com a Trisoft, uma
das patrocinadoras master da feira, disse: “Participar da SP–Arte foi uma
realização tanto profissional quanto pessoal. As peças desenvolvidas
especialmente para a edição da feira foram um desafio técnico e conceitual, o
resultado encantou aos visitantes e compradores e marcou o início de um novo
momento para as nossas criações, expandindo mais nossos limites e trazendo
novas oportunidades”.
A
fachada da SP–Arte, na entrada do Pavilhão da Bienal, recebeu uma instalação de
50 m² feita com faixas de lã de 31.500 garrafas plásticas recicladas. O
projeto foi assinado pelo Superlimão, que estendeu a proposta sustentável ao
seu estande.
Os
arquitetos apresentaram a exposição “Reflexos”, formada por esculturas
luminosas. Painéis modulares de PET em formato de casulo, compostos por 9.016
garrafas, também fornecidos pela Trisoft.
20 anos de SP–Arte
O
clima é de comemoração e alegria para Fernanda
Feitosa, fundadora e diretora da SP–Arte. “Estamos extremamente
satisfeitos com o marco desta edição, que celebra 20 anos de um trabalho
intenso, rigoroso e construído coletivamente pela feira junto a galerias,
artistas, designers e apoiadores das artes. A altíssima qualidade dos trabalhos
apresentados pelas galerias de arte e design coloca a SP–Arte em pé de
igualdade com as feiras mais importantes do mundo.
Me
orgulho e agradeço a todos que fazem a feira acontecer, começando pelas minhas
equipes extraordinárias de arquitetura, design, comunicação, produção,
curadoria, tecnologia, fotografia e vídeo, por termos realizado uma edição
histórica, com sucesso de alcance na mídia, tanto nacional como internacional.
Vida longa e que venham os próximos 20 anos”, declarou.
Um
dos grandes desafios do evento é a logística de acesso ao Parque Ibirapuera.
Mesmo não sendo uma responsabilidade apenas da organização da feira, a SP–Arte
sempre busca junto às autoridades e ao parque melhorar a questão. O acesso
viário e de estacionamento no parque e seu entorno são deficientes. É notável
que a infraestrutura disponível não suporta o fluxo de veículos e visitantes em
épocas de grandes eventos como a SP–Arte, a Bienal de São Paulo e o G20, por
exemplo, que aconteceram recentemente.
Outro
desafio da feira é a questão da tributação incidente sobre a comercialização de
obras de arte, em particular do ICMS e do imposto de importação. Reconhecidas
no mundo todo como bens de caráter cultural, obras de arte são sujeitas a
impostos que variam de 0 a 7%, cuja livre circulação deve ser fomentada. No
Brasil, o ICMS é de 18% e na importação a carga total alcança 58%. O alto valor
incide tanto na importação de obras de artistas estrangeiros vindas do exterior
quanto na repatriação de obras de nossos artistas. A organização da SP–Arte
acredita que o país perde ao deixar de ter essa circulação. A isenção do ICMS
para obras vendidas na feira, que esteve em vigor desde 2012 e neste ano foi
suspensa, possibilitou que o Brasil se inserisse de maneira menos desigual no
mercado de arte global, representando um ganho para o público que tem acesso a
obras internacionais de relevância, o mercado de arte brasileiro e, por
consequência, o país.
A
troca cultural que acontece, resultado da presença internacional, é fundamental
para a riqueza cultural da formação e educação de público no país. Ao não ter o
benefício da isenção, perde o público, que deixará de ver essas obras no país e
o consumidor que pagará mais caro. Perde o país, que se isola culturalmente. A
isenção é uma ferramenta de política pública tributária de promoção de um setor
frágil como as artes visuais, porém vital para a economia criativa, e de
impacto inegável na formação e educação do público.
Programação
Em
mais um ano, a SP–Arte proporcionou para os visitantes uma imersão no universo
artístico por meio de seus programas públicos. A programação dos Talks, realizado em
parceria com o Iguatemi, reuniu os artistas Vik Muniz, Paula Siebra, André
Namitala, André Namitala, Gervane de Paula, Adriana Varejão, Vinicius Gerheim,
Igi Lola Ayedun, Lidia Lisbôa e Tiago Sant’Ana em conversas com Catarina
Duncan, Fernanda Brenner, Maria Prata e Carollina Lauriano.
Os
audioguias,
como na edição anterior, seguem se consagrando em 2024: foram cerca de 1.000
audições na semana do evento, praticamente o dobro do ano passado. Para a 20ª
SP–Arte, os roteiros temáticos foram formulados e narrados por Victor Gorgulho,
Thais Rivitti, Renata Felinto, Giancarlo Hannud e Felipe Molitor.
Circuito SP–Arte
A
programação o Circuito
SP–Arte começou com a inauguração da exposição “Funil”, curada por Isay
Weinfeld e Lucas Jimeno na Casa SP–Arte e contou com diversas atividades
promovidas por galerias de arte e design: aberturas, visitas guiadas e ateliês
abertos, totalizando mais de 60 eventos pela cidade, agitando bairros como
Higienópolis, Vila Madalena, Pinheiros, Barra Funda e Jardins.
Doações
Todos
os anos, durante a SP–Arte, obras são doadas para coleções de importantes
museus. Logo no primeiro dia, em etiquetas coladas em seus estandes, as
galerias destacaram obras doadas para a Pinacoteca do Estado de São Paulo. São
elas:
- Makunaima conversa com o espírito do caxiri nos pés de
batata-doce, de Gustavo Caboco,
representado pela Millan.
- Ñamirĩ Bʉkhʉ Mahsʉ̃ Pahti kʉ̃, de Buu Kennedy, representado pela galeria Luiz Maluf.
- A obra da série Couro
Laminado, de Gê Viana, representada pela Superfície.
- Casa em Amarelu
(da série Quadrus
Negrus), de Marga Ledora, representada pela galeria
Janaína Torres.
Além dessas peças, um oratório em cruz, apresentado pela galeria Sandra & Márcio na feira, foi doado para o Museu do Oratório.
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