Livros escritos por pessoas com deficiência intelectual proporcionam autonomia, geram representatividade e desenvolvimento



Conheça projetos voltados ao público infantil elaborados por pessoas com deficiência que contam com o apoio do Instituto Serendipidade desde a organização até a distribuição ao público

De acordo com a última pesquisa “Retratos da Literatura no Brasil”, de 2019, realizada pelo Instituto Pró-Livro, o público infantil é o que mais lê no país. O estudo mostra que a faixa etária dos 5 aos 10 anos de idade é o perfil com maior frequência de consumo de livros de literatura. Essas crianças representam 23% de toda a população e costumam ler diariamente ou quase todos os dias por vontade própria.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) Contínua, o Brasil conta com 760 mil crianças de zero a nove anos de idade com algum tipo de deficiência. São poucas as obras que retratam o dia a dia dessa parcela da população e fazem as crianças se sentirem incluídas e se identificarem com os personagens.

Para mudar esta realidade, iniciativas estão colocando pessoas com síndrome de Down e outras deficiências no centro da elaboração de obras voltadas para o público infantil. Como é o caso do Instituto Serendipidade, em parceria com o Clube Leiturinha, que tem a inclusão como um de seus pilares, e com o Instituto Simbora Gente - ambas entidades que promovem a inclusão de pessoas com deficiência e suas famílias através de iniciativas próprias - lançou, em 2022, dois livros infantis para crianças de 4 a 8 anos. Um desses escritores é o Ariel Goldenberg, que também foi o coordenador editorial, em parceria com Marcelo Jucá o jornalista e escritor do Leiturinha. Além dos livros, ainda é Autodefensor e ator de cinema, com participação no filme “Colegas” e em campanhas publicitárias.

“Nos reunimos e fomos anotando várias ideias que surgiram durante o processo criativo do grupo. Adoramos todas e foi difícil escolher. Teve um dia que ficamos presos do lado de fora do instituto, a chave emperrou na fechadura. E acabamos partindo deste fato real para escrever um dos livros, nos inspiramos no dia a dia”, diz Ariel, dando detalhes sobre uma das histórias.

O livro “Vamos Montar uma Banda” é voltado para crianças de quatro a seis anos e conta como animais de diferentes espécies se reuniram para alegrar o mundo com seus instrumentos. Já o “Simbora, tá na hora!” é indicado para o público de seis a oito anos e conta uma história envolvendo uma turma que ficou trancada para fora de casa e tenta resolver o problema.

São 11 autores que participaram de oficinas de escrita criativa que deram origem aos livros. Eles são Autodefensores do Instituto Simbora Gente, ativistas com deficiência intelectual que estudam e praticam seus direitos e deveres como cidadãos.

“Fala-se muito de inclusão e oportunidades para pessoas com deficiência, mas é difícil, para quem não está inserido no dia a dia dessas pessoas, visualizar isso na prática. O lançamento desses livros é uma confirmação de que eles não são ‘diferentes’ de nós, eles podem fazer tudo o que estiver a seu alcance, basta que as pessoas acreditem e lhes dêem essas oportunidades”, diz Fabiana Duarte, consultora do Instituto Simbora Gente.

Joca e Dado - Uma Amizade Diferente

Fundador do Instituto Serendipidade, que trabalha com iniciativas próprias com o propósito de transformar a sociedade através da inclusão de pessoas com deficiência no Brasil, Henri Zylberstajn também já se aventurou no universo da literatura infantil.

Seu livro “Joca e Dado - Uma Amizade Diferente” conta a história de dois grandes amigos que, a princípio, parecem não ter muito em comum, já que possuem características muito diferentes. No entanto, o que os une é o respeito, a admiração e a vontade de aprender. O livro também foi uma parceria com o Clube Leiturinha e ilustrado por pessoas com deficiência intelectual e autismo do estúdio de design La Casa de Carlota.

“Eu não tinha pensado no Joca como um personagem negro. Os ilustradores da La Casa de Carlota, quem tiveram essa visão, a partir da trama, que se constrói organicamente através do convívio inclusivo.  As crianças vêm ao mundo sem preconceitos ou estigmas, que geralmente são ‘ensinados’ pela sociedade. Assim, a infância é o melhor momento para mostrar a importância da inclusão, e que cada um é único em suas diferenças, sem necessidade de comparação Além disso, os livros com personagens que apresentam necessidades específicas conferem pertencimento aos leitores com deficiência e ampliam o olhar plural dos adultos que serão transmissores dessa mensagem, na maior parte das vezes como contadores de histórias”, diz Henri.

Alunos de escolas públicas de São Paulo e do Rio de Janeiro tiveram acesso gratuito à "Simbora, tá na hora!”, ilustrado por Cris Eich, e a “Vamos Montar uma Banda”, com desenhos de Guilherme Lira. O Instituto Serendipidade já distribuiu gratuitamente os três livros a cerca de 6.500 colégios dos dois estados.

Os livros também são ferramentas de incentivar o tema da inclusão em empresas, seja por meio da entrega dos livros aos colaboradores, aquisição para biblioteca virtual ou via oficina lúdica que trabalha o protagonismo dos autores em uma roda de conversa interativa com eles. 

Segundo Gabriela Tofanelli, orientadora educacional da Escola Lumiar, ter os livros em sua biblioteca foi uma ótima oportunidade de trabalhar esta temática com os estudantes. “Recebemos os livros e distribuímos para as turmas infantis aqui da escola. Além disso, ainda enviamos os livros excedentes para outras unidades das nossas escolas. As crianças leram junto com as professoras e fizeram trocas de experiências e de informações. Todos eles adoraram e sempre revisitam as obras, que ficam disponíveis nas salas de aula e na biblioteca. É um livro muito gostoso de ler, com ilustrações lindas e com um ótimo assunto para ser trabalhado em sala de aula”, diz. A instituição é uma das que recebeu os livros a partir de uma ação em parceria com a KPMG, que audita as iniciativas do Instituto Serendipidade. 

 Atualmente, a entidade também distribui gratuitamente às instituições beneficentes e escolas públicas, a versão digital do livro Joca e Dado - Uma Amizade Diferente, acessando o site do Instituto Serendipidade. Como diz Dado, “as diferenças nos ajudam a trocar experiências. Permitem ensinar o que sabemos e aprender com os outros as muitas coisas que ainda não conhecemos”, comenta o autor, Henri Zylberstajn

Os livros fazem parte do projeto da Leiturinha de trazer diversidade e inclusão social para seus conteúdos.

Mais informações em www.serendipidade.org.br E nas mídias sociais @institutoserendipidade

Comentários