Legado será celebrado com a exposição Galeria Raquel Arnaud - 50 anos. Com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, mostra apresentará documentos e publicações raras entremeados com obras que serão alternadas durante período expositivo
A
mostra Galeria
Raquel Arnaud – 50 anos
marca meio século de existência da galeria paulistana. Com abertura em 22 de
fevereiro e curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, a exposição apresenta
momentos decisivos da arte contemporânea brasileira desde a década de 1970 e
revela como a marchand consolidou, de forma visionária, um projeto artístico
claro e coerente, ao promover grandes artistas como Amilcar de Castro, Mira
Schendel, Waltércio Caldas, Iole de Freitas, entre muitos outros.
A
história da galeria é apresentada ao público por meio de uma linha do tempo,
com destaque para documentos raros produzidos pela instituição ao longo dos
anos. Livros, convites elaborados por designers, folhetos e publicações podem
ser vistos pela primeira vez, além de mais de 40 obras de artistas que passaram
pela galeria, como Sérgio Camargo, Hercules Barsotti, Sérvulo Esmeraldo e Mira
Schendel - artista suíça que expôs a série ‘Sarrafos’ na instituição, pouco
antes de falecer em 1988.
Segundo
o curador, o papel da galeria no fortalecimento da arte contemporânea é o
centro da narrativa mostrada na exposição. “Quase se vislumbra uma contradição
ao destacar a trajetória de Raquel na exposição, dado que as obras de arte e os
artistas sempre ocuparam o posto mais significativo em sua vida. Contudo, ao
menos uma vez após meio século, desviar a atenção não para as obras em si, mas
sim para a história da galeria, torna-se o foco”, ressalta Visconti.
“A
primeira exposição que fizemos no Gabinete de Artes Gráficas foi de Arthur Luiz
Piza, com 70 gravuras, um sucesso, todas vendidas e algumas mais
encomendadas. O artista Arthur Piza foi o primeiro artista da minha vida
como galerista, e o acompanhei até sua morte em 2017”, destaca Raquel Arnaud.
No
início de sua trajetória como marchand, enquanto desenvolvia a carreira dos
artistas de belas artes, Raquel Arnaud dirigiu a galeria Arte Global, da Rede
Globo. Um experimento único no mercado de arte brasileiro, que levou ao horário
nobre da televisão obras de artistas plásticos através de peças publicitárias
elaboradas para a linguagem audiovisual. Uma experiência incomum no meio
artístico, mas importante na consolidação de uma instituição que tem em sua
base o diálogo.
Grandes
nomes do movimento neoconcreto fazem parte do DNA da galeria desde sua
formação. Willys de Castro, por exemplo, explorava as possibilidades no campo
da abstração geométrica e sempre teve espaço para exibir suas criações, tendo
realizado na instituição sua última individual, em 1986. No mesmo ano, a
veterana Lygia Clark participou de sua última coletiva na galeria. A escultora
chamava atenção pelas suas declarações a respeito de não ser artista. Nos
últimos anos de vida, próxima da psicanálise, a dama do neoconcretismo
incorporou trabalhos mais gestuais à sua obra.
E é
justamente na década de 1980 que a instituição entra em uma nova fase e passa a
se chamar Gabinete de Arte Raquel Arnaud. Novos nomes como Nuno Ramos e Tunga
ganham destaque na programação da galeria com suas técnicas inovadoras. Na
mesma época, foi exposta no Gabinete de Arte a série ‘Carimbos’, de Carmela
Gross, trabalho que criticava diretamente a censura do regime militar ao tratar
da reprodução em massa da imagem. Em um primeiro momento, houve uma baixa
adesão do público à exposição. Mas o reconhecimento veio anos depois, quando a
obra foi incorporada no acervo permanente do MoMA, em Nova York, confirmando o
olhar atento da galerista para novas tendências.
Já a
ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino expôs com Raquel Arnaud algumas de suas
obras mais ousadas. Conhecida por trabalhos que retrataram os perigos dos
regimes de exceção, com forte teor contestatório, Maiolino também explorou as
possibilidades das linhas, das dobras e formas em trabalhos com argila e
tecidos
“Continua
sendo um desafio, como sempre foi, dar continuidade à linha de trabalho na
galeria, contemplando por um lado os nomes consagrados que represento há muitos
anos assim como os mais jovens talentos que serão também consagrados, numa
conversa geracional investigativa e produtiva”, pontua Raquel.
Ao
destacar expoentes dos movimentos concreto, cinético, abstrato e geométrico, a
galeria Raquel Arnaud não deixou de abrir suas portas para artistas de outras
vertentes. Ao longo dos anos, o diálogo virou sinônimo da curadoria desta dama
das artes, que mostrou artistas muito distintos entre si, como Vik Muniz,
Regina Silveira e Lygia Pape. Alinhada às experimentações visuais e atenta a
tendências internacionais, a galerista foi uma das primeiras a trazer grandes
nomes da arte cinética, como Almandrade, Jesús Rafael Soto e Carlos Cruz-Diez.
Raquel
Arnaud também fundou o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) em 1997 para
documentar e catalogar obras de artistas do gênero, como Sergio Camargo e
Willys de Castro, os primeiros a terem seus acervos incorporados à instituição
graças ao papel da galerista. O projeto de reunir arquivos para pesquisa e
consulta pública exigiu tempo, dedicação e recursos próprios, uma vez que a
instituição se propunha a um papel pioneiro ao disponibilizar material até
então inédito para pesquisadores.
Galeria Raquel Arnaud – 50 anos ficará em cartaz entre fevereiro e maio e terá uma dinâmica inédita ao eleger uma expografia em transformação. “Vamos ter uma série de conversas com artistas de papel importante na galeria e, ao longo dos meses, vamos trazer obras marcantes para construir um diálogo contínuo e vivo. Assim, o público vai poder conhecer trabalhos de vários pintores e escultores que não teriam suas criações mostradas por conta do espaço”, destaca Visconti, sobre a rotatividade de alguns trabalhos. No final do semestre, a galeria lançará uma publicação sobre a comemoração, com textos de intelectuais, críticos e curadores que fizeram parte da história da instituição.
Serviço
Galeria Raquel
Arnaud – 50 anos
Local:
Galeria Raquel Arnaud. Rua Fidalga, 125 – Vila Madalena, São Paulo - SP.
Abertura:
22 de fevereiro
Período
expositivo: 22 de fevereiro a 24 de maio
Horários
de visitação: segunda a sexta, das 11h às 19h | sábado, das 11h às 15h
Entrada
gratuita.
Comentários
Postar um comentário