Vista da obra de Fernando Velázquez, Górgona 01, série Outras Naturezas, (2023), no lago do Parque Ibirapuera. Foto: Luís Felipe Abbud
Foi prorrogada até o dia 28 de janeiro a exposição de realidade aumenta do Museu de Arte Moderna de São Paulo,
Realidades e Simulacros.
Com obras espalhadas por várias regiões do Parque Ibirapuera, a mostra explorar
o diálogo entre o virtual e o físico, perceber a realidade ao redor de
outra maneira e interagir com as dimensões de uma mesma experiência. A
iniciativa é realizada pelo MAM e conta com patrocínio da 3M por meio da Lei de
Incentivo à Cultura, apoio da Africa
Creative e parceria com a Urbia.
Com curadoria de Marcus
Bastos, artista e pesquisador na convergência entre
audiovisual, arte e novas mídias, e de Cauê
Alves, curador-chefe do MAM, a exposição reúne obras do Coletivo Coletores, Daniel Lima, Dudu Tsuda, Eder Santos, Fernando Velazquez, Giselle Beiguelman, Katia Maciel, Lucas Bambozzi, Regina Silveira e Paola Barreto. Cada
artista recebeu convite da curadoria para criar experiências digitais, obras
virtuais em realidade aumentada que integram o jogo de multiplicidades que é a
exposição.
Obra digital, experiência
presencial
No entorno do MAM, no Jardim de Esculturas, um disco voador paira sobre os
visitantes. Trata-se de Rasante
(2023), obra de Regina
Silveira. A artista dialoga com o imaginário da ficção
científica, muito presente em filmes e histórias em quadrinhos, e cria um disco
voador que se coloca em relação à arquitetura de Oscar Niemeyer, no Parque
Ibirapuera. “A sobreposição entre a realidade e a ficção ecoa a combinação
entre o radioteatro e a notícia jornalística. Em 1938, uma transmissão de rádio
do diretor de cinema norte-americano Orson Welles causou pânico ao dramatizar A Guerra dos Mundos, de
Herbert George Wells. Entretanto, no século XXI o trabalho de Regina Silveira
tende a gerar mais fascínio do que medo”, comentam os curadores.
Sombras pouco nítidas sugerem um percurso por uma floresta de sons plantada no
entorno da Praça da Paz. Em
RevoAR :: a Vida é uma Utopia (2023), Dudu Tsuda convida o
visitante a utilizar fones de ouvido para adentrar uma paisagem sonora que
mistura sons da Mata Atlântica originalmente existente na região do Ibirapuera
com sons de animais da região, de espíritos da floresta e de entidades
fantásticas criadas a partir das cosmovisões dos povos originários brasileiros.
Alinhadas entre o MAM São Paulo, a Oca e o Pavilhão da Bienal de São Paulo, uma
escultura digital do Coletivo
Coletores reúne corpos que representam três povos: latinos,
africanos e resistentes de outras partes do globo. Monumento à Resistência dos Povos
(2023) apresenta figuras brancas como o mármore em posição de defesa e aborda a
ideia de contra monumentos ao problematizar questões sobre a cidade, a memória
e a violência cotidiana sofrida pela população.
Em Rádio Detín (2023), Paola Barreto leva ao
entorno da Oca imagens de um manto branco que carrega sons gravados pela
artista em uma viagem ao Benim. A obra é um convite para interagir com as
árvores do Ibirapuera pelas lentes de uma experiência visual e sonora que
oscila entre o documental e o poético. O percurso permite refletir sobre um
espectro amplo de sentidos da ancestralidade. A natureza e as culturas que
antecederam o colonialismo são entendidas pela artista como vetores que
permitem pensar um tempo que está além da duração da vida humana.
Flutuando no Parque e refletindo seu entorno, entre o MAM e o pavilhão da
Bienal de São Paulo, a enorme Bolha
(2023), de Katia
Maciel, apresenta um aspecto lúdico. Em geral, as bolhas
duram pouco. Elas estouram quando a elasticidade que surge da junção das
moléculas de detergente e água se rompe com a evaporação. Mas na obra A Bolha, esse momento é
alargado, o instante em que a bolha estoura parece nunca chegar. Para os
curadores, “no sentido metafórico, estourar a bolha é também alargar nossos
horizontes, é nos relacionarmos com realidades diversas. A artista nos faz
pensar que talvez a bolha em que vivemos seja mais resistente do que
imaginamos, já que o dentro e o fora da bolha, o simulacro e a realidade,
permanecem”.
Lucas Bambozzi explora
processos de reconhecimento de padrões por meio de Incerteza artificial (2023),
obra realizada a partir de inteligência artificial que escaneia a região entre
a Ponte Metálica, a Praça da Paz e seu entorno no Ibirapuera, nomeando o que
encontra. Mas, para os algoritmos, as coisas nem sempre parecem ser o que
são. Neste processo, os equívocos geram instabilidades resultantes dos limites
da capacidade que as máquinas têm de identificar seres ou coisas.
Em Brejo das delícias
(2023), Giselle Beiguelman
faz uma incursão na história do Parque Ibirapuera, a partir de uma pesquisa das
espécies nativas, anteriores à sua urbanização. Com base em estudos botânicos
da flora paulistana, foram identificadas cerca de 50 espécies que habitavam sua
área originalmente alagadiça. Inspiradas em ilustrações botânicas, as
criaturas aqui apresentadas foram feitas com inteligência artificial, fundindo
as espécies originárias em novos seres vegetais, que ganham vida por meio de
recursos de realidade aumentada. Dessa forma, abordam também a diversidade das
imagens técnicas que povoam nossas noções de natureza e paisagem.
Logo em frente ao Planetário do Ibirapuera, Eder Santos posiciona a pirâmide nomeada Ouragualamalma (2023). A pirâmide é uma ligação
entre o céu e a terra, uma arquitetura que conecta ambos, é uma imagem
ancestral que se refere tanto a uma realidade anterior à colonização, quanto a
uma realidade decolonial.
Fernando Velázquez
leva ao Lago do Ibirapuera uma criatura feita de elementos orgânicos, vegetais
e minerais. Com Górgona
01 (2023), o artista reflete sobre um modo de viver em um planeta
reconfigurado por suas catástrofes. A aparição da criatura no Lago pode
surpreender tanto pelo caráter quimérico quanto pelo aspecto de porvir,
refletindo sobre os caminhos por onde o antropoceno pode levar a vida.
Em outro ponto do Lago, próximo ao Portão 09 do Ibirapuera, Daniel Lima apresenta
uma réplica da embarcação usada por Pedro Álvares Cabral na invasão da América
em 1500. Reconstruída pelo governo brasileiro para homenagear os 500 anos de
descobrimento do Brasil, por erros no projeto e problemas técnicos, ela
naufragou e não participou do evento oficial em Porto Seguro, no ano 2000. Com
seu Monumento à Colonização
(2023), o artista propõe, não sem ironia, um
"monumento inverso" que aponta para o modo como esse tipo de
celebração revela nossa mentalidade colonizada e incapaz de projetar um futuro
emancipado para o país.
A jornada de visitação pode ser realizada de diferentes formas e trajetos. É
possível fazer o percurso andando a pé, de bike ou com o Ibira Tour, um passeio
feito em carrinhos elétricos com guias da Urbia. Mais informações no site
da empresa.
Dentro do Parque, haverá, também, sinalizações físicas instaladas em locais
próximos às obras para otimizar o percurso do público.
Ainda que as obras sejam digitais, a exposição foi desenvolvida para ser vista
presencialmente no Parque, com o uso do celular, pelos mais de 55 mil
visitantes que transitam diariamente ali.
Nem site, nem aplicativo
O conjunto de obras em realidade aumentada foi instalado em diferentes
pontos do Ibirapuera por meio de georreferenciamento - um processo de sistema
de referência - e pode ser acessado pelo celular, através de uma plataforma
criada para a exposição.
A plataforma realizada para a mostra não é um site e nem um aplicativo, é
um meio que conecta o virtual ao físico. Não é necessário fazer download para
acessar, pois ela está integrada ao site do museu e também pode ser acessada
pelo celular direto no link mam.org.br/realidades.
O projeto expográfico digital foi pensado a partir do conceito do cubo branco e
concentra elementos que ajudam na jornada de visitação: a lente, uma espécie de
câmera pela qual o visitante pode ver e fotografar as obras; o mapa, que
apresenta a localização das obras no Parque e ajuda o visitante a chegar até os
pontos de visualização; o mapa,
que apresenta a localização das obras no Parque e ajuda o visitante a chegar
até os pontos; e a ficha
catalográfica, que concentra sinopses das obras, informações
sobre os artistas e referências utilizadas no processo de pesquisa e criação
dos trabalhos.
O desenvolvimento de Realidades
e Simulacros contou com uma equipe técnica formada por Luís Felipe Abbud, do Estúdio Hiper-Real,
responsável pelos modelos 3D e animações das obras; Bruno Favaretto e Renato de Almeida Prado,
do Museu.io,
que realizaram a programação da exposição, e Celso Longo e Daniel Trench, do cldt design, que assinam
a identidade visual.
Sobre a expografia digital, Bruno Favareto e Renato de Almeida Prado explicam:
“buscamos assim uma estética minimalista que auxiliasse os visitantes em seu
fluxo pelo Parque e no uso da tecnologia em si, mas que ao mesmo tempo
permitisse a experiência com a obra de forma isolada ou com o mínimo de
informação desejada”.
Para além das paredes do
museu
Realidades e Simulacros
é mais uma iniciativa do Museu de Arte Moderna de São Paulo para expandir suas
fronteiras físicas e proporcionar experiências que utilizem linguagens
contemporâneas para impactar públicos diversos, traduzindo poéticas artísticas
e cultura por meio da tecnologia digital.
A exposição dialoga conceitualmente e dá continuidade aos pensamentos das ações
realizadas em 2020 e 2021. No primeiro, o MAM levou obras emblemáticas de seu
acervo para as ruas de São Paulo por meio de projeções em grande escala em
empenas cegas de edifícios da cidade. A iniciativa surgia como resposta às
dinâmicas sociais impostas pela pandemia de covid-19 e buscava democratizar o
acesso à arte. Já em 2021, em parceria com Microsoft e a Africa Creative, o
museu lançou um projeto educativo inédito no jogo Minecraft: "MAM no
Minecraft", uma combinação de arte, educação e games, com reproduções do
espaço do museu e de obras do acervo, jogos pedagógicos, atividades lúdicas e
propostas de aulas.
Realidades e Simulacros
integra a programação comemorativa dos 75 anos do MAM e 30 anos do Jardim de
Esculturas. No decorrer do período expositivo, serão anunciadas ativações na
exposição realizadas pelo Educativo do museu, como visitas mediadas, oficinas a
partir dos temas e obras, e outros.
Serviço:
Realidades e Simulacros
Mostra coletiva com Coletivo
Coletores, Daniel Lima, Dudu Tsuda, Eder Santos, Fernando Velazquez,
Giselle Beiguelman, Katia Maciel, Lucas Bambozzi, Regina Silveira e Paola Barreto.
Curadoria: Cauê Alves e Marcus Bastos
Período expositivo: 23
de julho a 28 de janeiro de 2024
Local: entorno do
Jardim de Esculturas, Praça da Paz e região dos Lagos do Ibirapuera
Endereço: Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº - Entrada pelos portões 1 e 3
Entrada gratuita
Mais informações: mam.org.br/realidades
MAM São Paulo
www.instagram.com/mamsaopaulo/
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