A literatura do escritor aborda em toda a sua extensão o racismo e a desigualdade social durante o século XX
Durante
o mês de novembro, comemora-se o Dia da Consciência Negra, em 20/11, além do
aniversário de morte de um dos escritores mais renomados do Brasil, Lima
Barreto, em 01/11. Tido como um dos maiores autores negros da literatura
brasileira – ao lado de nomes como Machado de Assis, Carolina Maria de Jesus e
João da Cruz e Sousa –, os temas das obras de Lima Barreto continuam bastante
presentes na atualidade.
Pela
primeira vez em São Paulo, o Dia da Consciência Negra é feriado estadual, de
acordo com a Lei Nº 17.746 de setembro deste ano. Antes disso, a data já era
considerada feriado estadual no Amazonas, Amapá, Alagoas, Rio de Janeiro e Mato
Grosso.
O
autor é filho de pais pobres, tendo nascido livre sete anos antes da Abolição
da Escravatura em 1888. Trabalhou a vida toda como escriturário no Ministério
da Guerra, ao mesmo tempo em que começou a escrever para o jornal “Correio da
Manhã” e várias revistas da época. Estreou na literatura em 1909, com a
publicação do romance “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”. A obra
pré-modernista do escritor é marcada pelo protesto e denúncia, apresentando
muitas vezes um tom autobiográfico caracterizado como um brado de
revolta.
A
forma de escrever de Lima Barreto traz um tom de sátira para os assuntos
abordados pelo autor, como o apego da sociedade aos títulos, a burocracia e
inoperância das instituições políticas da época, além de forte crítica social
ao retratar os subúrbios cariocas na virada do século. Barreto também utilizava
a linguagem coloquial e simples, na busca de trazer mais acessibilidade para
sua escrita.
“Ao
produzir uma literatura inteiramente desvinculada dos padrões e do gosto
vigente, recebeu severas críticas dos círculos tradicionais da literatura:
marcado por um espírito inquieto e rebelde, revelou o seu inconformismo com a
mediocridade social e com o racismo vigentes”, explica Fábio Pedro-Cyrino,
diretor editorial da Editora Landmark, especializada em literatura clássica e
livros bilíngues.
A
vida do autor também foi marcada pelo apagamento tanto pelo racismo como por
fugir do estilo literário comum da época. Por duas vezes se candidatou a
Academia Brasileira de Letras, sem sucesso, e na terceira tentativa acabou
desistindo antes mesmo da realização das eleições. Sua "posição
combativa" e sua "crítica contundente" custaram-lhe a
marginalidade e a indiferença da elite cultural de então.
Lima
Barreto faleceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 1 de novembro de 1922,
vítima de um colapso cardíaco. O acervo de mais de mil documentos e textos de
Lima Barreto, encontra-se preservado na Divisão de Manuscritos da Biblioteca
Nacional e foi incluído no Programa de Memória do Mundo, organizado pela
Unesco.
Dois
livros imprescindíveis de Lima Barreto
Em
uma produção literária composta por dezessete volumes, entre romances,
crônicas – que publicou em dezenas de jornais e revistas do Rio de Janeiro –,
contos, memórias e críticas literárias, o autor trouxe críticas sociais
essenciais para a época. Conheça duas obras que retratam a luta de Lima
Barreto.
Triste
Fim de Policarpo Quaresma
A
obra narra a história de Policarpo Quaresma, um funcionário público apaixonado
pelo Brasil e pelas tradições nacionais. Por meio da trajetória de Policarpo
Quaresma, Lima Barreto faz uma crítica contundente à alienação, à falta de
senso crítico e à dificuldade de adaptação de um indivíduo em um contexto
social. O livro é um dos ícones do movimento pré-modernista, transição de
escolas como realismo e naturalismo para o modernismo.
O
livro é considerado uma sátira sobre os ideais patrióticos e as noções
românticas da cultura nacional. Por meio da trajetória trágica de Policarpo
Quaresma, Lima Barreto faz uma crítica contundente à alienação, à falta de
senso crítico e à dificuldade de adaptação de um indivíduo em um contexto
social marcado pela inércia e pela falta de abertura para o novo.
O
Homem que Sabia Javanês e Outros Contos Selecionados
Os
treze contos apresentados neste livro focam na luta de Lima Barreto para romper
as barreiras sociais, políticas e do vazio intelectual da sua época. Demonstram
também como ele buscava instigar o senso crítico dos seus leitores como, por
exemplo, com relação ao fascínio pela falsa erudição em “O homem que sabia
javanês”.
A
obra também traz o preconceito racial, principalmente no conto “Clara dos
Anjos” e o uso da sátira ao falar sobre a alma gananciosa do ser humano em “A
nova Califórnia”, “Numa e a ninfa” e “Sua excelência”. Outros contos como “Um e
outro”, “Miss Edith e seu tio” abordam o materialismo vazio e os desejos
espúrios da sociedade carioca.
Os livros estão disponíveis na Amazon, as principais livrarias do Brasil e no site oficial da Editora Landmark, clicando aqui.
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