*Gabriel Rosario
Com a popularização dos modelos de
Inteligência Artificial (IA) Generativa, como o ChatGPT, as pessoas passaram a
ter acesso a uma vasta gama de conhecimento sintetizado. Tarefas como
sumarização de textos, tradução, resolução de problemas matemáticos e geração
de imagens foram simplificadas ao ato de digitar palavras e apertar
"enter".
Esses modelos generativos passaram, inclusive, a permitir
que qualquer pessoa crie peças de arte. Por exemplo, ao solicitar "Tigres
voadores no estilo de Tarsila do Amaral" a uma IA, uma imagem dos animais
alados imitando a arte da artista é exibida em segundos. Então, será que a IA
tornará os artistas uma espécie em extinção?
Um ponto a se considerar é que esses modelos generativos
não existem sem os artistas reais. Todo texto ou imagem gerado artificialmente
se baseia nos milhões de exemplos usados em seu treinamento. Nada é criado
"do zero". Se o modelo sabe emular a escrita de Shakespeare, é porque
ele teve acesso aos textos do poeta. Além disso, estudos mostram que modelos
sucessivamente treinados com conteúdo gerado por IA tendem a produzir
resultados menos diversos. Por isso, a originalidade dos artistas continua
crucial para os modelos terem bons resultados.
E isso leva a outro ponto desse debate: direitos autorais.
As bases de dados usadas para treinar os modelos generativos incluem material
encontrado publicamente na internet e em outras fontes. Mas aparentemente
material proprietário está sendo utilizado sem consentimento, como no caso da
escritora Sarah Silverman, que abriu processo contra a OpenAI, criadora do
ChatGPT, e a Meta (Facebook). Ela alega que seus textos foram obtidos de forma
ilegal e usados sem seu consentimento, o que configuraria violação da lei de
propriedade intelectual.
É crescente o movimento de artistas contra o uso de suas
obras em treinamento de modelos de IA. Após protestos, a Stability AI, criadora
do Stable Diffusion, permitiu que artistas optassem por não ter suas obras
utilizadas na versão mais recente da ferramenta; isso removeu 80 milhões de
imagens da base. Por um lado, reduz a diversidade da IA, mas, por outro, é um
movimento positivo em direção ao consentimento e justa compensação pelo
trabalho dos artistas. Esse embate traz à tona a necessidade de uma revisão das
leis, afinal, empresas estão faturando milhões de dólares com o trabalho de
pessoas que não recebem um centavo em retorno.
Por fim, os modelos generativos apenas replicam o que
aprenderam. Não há processo de criação, muito menos uma mensagem ou um posicionamento
do artista por trás da obra. É somente matemática. Até o dia em que a IA gere
mentes (ou almas) genuinamente parecidas com a humana, nossos artistas terão um
longo reinado criativo pela frente.
*Gabriel Rosario é head de dados, mestre
em Ciência da Computação pela UFRJ e especialista em Inteligência Artificial.
Também é autor do sci-fi Rapina: Não confie
em androides
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