Exposição investiga narrativas da diáspora
japonesa na América Latina
Abertura: 19 de agosto, das 11h às 19h – até 11 de novembro
de 2023
Em
2023, coincidindo com o período da 35º Bienal Internacional de São Paulo, a
Gomide&Co, ao completar 10 anos, apresenta a exposição coletiva O curso do sol. Com
curadoria de Yudi Rafael e consultoria de Roberto Okinaka, a mostra dá
continuidade a um novo capítulo de uma série de exposições produzidas pela
Gomide&Co dedicadas à discussão de temas relacionados à América Latina em
paralelo a um dos maiores eventos artísticos globais. Em 2018, foi apresentada
a mostra Estratégias
Conceituais, cujo recorte exibia uma seleção de obras afiliadas a
arte conceitual produzidas no continente sul-americano durante regimes
ditatoriais. Já em 2021, foi realizada a mostra Nosso Norte é Sul, onde foi exposta uma coleção
de peças têxteis ancestrais do período pré-colombiano em conversa com obras
concretas, neoconcretas e contemporâneas provenientes do território
latino-americano.
“O curso do sol vem ao mundo
em um momento histórico no qual os movimentos diaspóricos se tornam centrais
para a compreensão do nosso turbulento presente. Ao mesmo tempo em que vemos as
fronteiras borradas por fluxos financeiros que desconhecem limites, os
nacionalismos de cunho xenófobo se espraiam ao redor do globo, resultando em
uma atualidade marcada pelo desejo regressivo de separação. Uma miríade de
paisagens feitas de muros, grades, fronteiras vigiadas, engendram um corte
obtuso que diz: aqui, nós, lá, os outros (...) É nesse contexto que a
Gomide&Co devota especial atenção para o que as dinâmicas diaspóricas nos
endereçam.” ressalta Luisa Duarte, diretora artística da galeria.
Para
o título da mostra, O curso do
sol, Yudi Rafael tomou emprestado o primeiro verso de um poema de
Matsuo Bashō, poeta peregrino que viajava ao “sentir-se possuído pelos
espíritos, sensível ao aceno dos deuses protetores das estradas”. Segundo o
curador, a exposição propõe um olhar sobre a arte na diáspora japonesa por meio
do trânsito como
tema, contexto e estratégia de construção de trajetórias artísticas.
A
exposição, com mais de 40 artistas, busca apresentar narrativas da arte na
diáspora japonesa da América Latina a partir das viagens de artistas
nipo-brasileiros pela região e dos diálogos culturais que marcam o
abstracionismo informal, lírico e caligráfico do período do pós-guerra,
expandindo-se, ainda, para outras trajetórias ligadas a vertentes artísticas
modernas e contemporâneas. Para isso, a mostra se debruça sobre a produção
pictórica e escultórica, com um destaque para a cerâmica, de artistas
nipo-diaspóricos do Brasil, Argentina, México e Japão, além de
latino-americanos cujas obras entrelaçam-se com a cultura visual japonesa a
partir de referências culturais e políticas locais.
Segundo
Yudi Rafael, a produção do abstracionismo informal “incorporou à arte das
Américas novas referências da cultura visual do leste da Ásia, imprimindo na
arte moderna brasileira um "sotaque" próprio aos imigrantes japoneses
aqui radicados”. "Se Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Flávio Shiró e Tikashi
Fukushima tornaram-se aqui sua maior referência, um artista como Kazuya Sakai,
na Argentina, contribuiu a seu modo para esses diálogos transnacionais",
completa.
Para
Luisa Duarte, se é a existência de cada um que será modificada pelo corte
diaspórico, toda possibilidade de restauro dos elos se dará
coletivamente. Conforme a diretora da galeria ressalta, a história dos
artistas nipo-diaspóricos por aqui foi marcada por um exemplo dessa força
solidária. Esse é o caso do Seibi-Kai, conhecido como Grupo Seibi, um eixo
fundamental de O curso do sol.
Trata-se de uma associação artística fundada por Tomoo Handa em São Paulo, em
1935, pelo qual passaram nomes como Manabu Mabe, Tomie Ohtake e Massao Okinaka.
Assim, “O curso do sol apresenta
uma narrativa nipo-diaspórica estruturada a partir de dois eixos irradiadores:
um eixo vertical, estabelecido em torno de artistas que integraram as
atividades associativas do Seibi-Kai e construíram um espaço de trocas e
fomento da arte no meio brasileiro; e um eixo horizontal, pelo qual se esboça
uma constelação diaspórica e transnacional da arte abstrata no pós-guerra. A
noção de trânsito abarca aqui não só a circulação de pessoas, mas também de
imagens e ideias que alimentaram a arte na região – e a exposição discute
situações marcadas pela sua restrição”, conclui Rafael.
Com
expografia de Anna Ferrari, a exposição reúne obras, entre as quais, dos
artistas: Adriana Varejão, Akinori Nakatani, Alina Okinaka, Flávio Shiró,
Ioitiro Akaba, Kazuya Sakai, Léonard Tsuguharu Foujita, León Ferrari, Luis
Nishizawa, Manabu Mabe, Masayo Seta, Massao Okinaka, Megumi Yuasa, Sachiko
Koshikoku, Shoko Suzuki, Soko Ishikawa, Tikashi Fukushima, Tomie Ohtake, Tomoo
Handa, Ubirajara Ferreira Braga, Waichi Tsutaka, Yoshiya Takaoka, Yuji Tamaki e
Yuli Yamagata.
Catálogo
trilíngue
Na
ocasião da exposição O curso
do sol, será publicado um catálogo assinado pela designer Elaine
Ramos em conjunto com a Gomide&Co. A publicação será trilíngue, com textos
originais em português traduzidos para o inglês e para o japonês, ilustrado com
reprodução das obras da exposição, contendo um texto curatorial de Yudi Rafael,
uma entrevista de Yudi Rafael com Roberto Okinaka e uma apresentação de Luisa
Duarte, somando cerca de 150 páginas. A publicação estará a venda na galeria.
Sobre
Yudi Rafael
Yudi
Rafael é pesquisador e curador, mestre em culturas latino-americanas e ibéricas
pela Columbia University. Foi curador adjunto de A parábola do Progresso (Sesc
Pompéia, 2022), co-curador de Imagens
entrelaçadas: Ásia-Brasil pelas lentes do fotoclubismo (Almeida
& Dale, SP-Arte: Rotas Brasileiras, 2022), do projeto Residência Artística Cambridge (Ocupação
Hotel Cambridge, 2016) e co-tradutor para o português de O cogumelo no fim do mundo (n-1,
2022), de Anna Tsing.
Sobre
Luisa Duarte
Luisa
Duarte, diretora artística da Gomide&Co, é mestre em filosofia pela PUC-SP
(2011) e doutora pelo Instituto de Arte da UERJ (2019). Atuou como crítica de
arte do jornal O Globo (2009-2017) e membro do Conselho Consultivo do MAM-SP
(2009-2013). Entre seus trabalhos como curadora, fez parte da equipe curatorial
do programa Rumos Artes Visuais no Itaú Cultural (2005/2006); assinou a mostra
coletiva um outro lugar
no MAM-SP (2011); e as mostras Adriana
Varejão – por uma retórica canibal no Museu de Arte Moderna da
Bahia (2019) e José Resende –
Na membrana do mundo na Fundação Iberê Camargo (2021). Junto com
Evandro Salles, Luisa foi curadora da exposição Tunga – o rigor da distração no Museu de Arte
do Rio de Janeiro (2018). Fez parte da equipe curatorial da 21 a Bienal Sesc
Vídeo Brasil – Comunidades
Imaginadas, sendo responsável também pela curadoria dos Programas
Públicos desta edição no Sesc 24 de Maio. Organizou os livros ABC – Arte Brasileira Contemporânea
pela Cosac & Naify (2014), em colaboração com Adriano Pedrosa e No tremor do mundo – ensaios e
entrevistas à luz da pandemia pela Editora Cobogó (2020), em
colaboração com e Victor Gorgulho.
Sobre
Roberto Okinaka
Roberto
Okinaka (São
Paulo, 1956) é artista, curador, pesquisador das culturas nipo-brasileira e
japonesa e museógrafo. Foi diretor cultural da Sociedade Brasileira de Cultura
Japonesa, curador do Museu de Arte Nipo-Brasileira e presidente da Comissão de
Artes Plásticas do Salão Bunkyo. Foi museógrafo do Museu Afro-Brasil
(2004-2023) e trabalha como consultor e agente da formação dos acervos de
artistas nipo-brasileiros em museus como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o
Museu de Arte Contemporânea da USP, o Museu de Arte do Rio, o Museu de Belas
Artes do Rio de Janeiro e o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil.
Exposição:
O Curso do
Sol
Abertura:
19.08.2023 - das
11h–19h
Visitação: Até 11.11.2023 / Seg–Sex: 10h–19h; Sáb: 11h–17h
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