Inspirado na peregrinação do "Caminho de
Santiago de Compostela" e nas lendas e histórias de assombração que ouvia
de sua mãe, o escritor Jose Nelson Freitas escreveu o livro "O
Chamado", primeiro volume da trilogia "O Segredo do Caminho"
Ao
chegar em Saint-Jean-Pied-de-Port, pequena cidade francesa, ponto inicial do
“Caminho de Santigo de Compostela”, o escritor piauiense Jose Nelson Freitas
Farias sentiu um chamado. Embevecido pela paisagem medieval, foi transportado
em memórias para as histórias que ouvia na infância e adolescência. Soube
naquele momento que precisava colocar todas as experiências que viveu e viveria
na peregrinação em um livro. Começava a nascer naquele momento a trilogia “O
Segredo do Caminho”, da Coleção os Guardiões do Caminho – O Colar Universal,
cujo primeiro volume “O Chamado” foi recentemente publicado.
No
segundo dia após sua inspiração, antes de chegar a Roncesvales, na Espanha,
admirando o vale, do alto dos Pirineus, Jose Nelson já estava com o enredo e os
primeiros personagens construídos. Pedras no caminho com nomes de pessoas; uma
cruz no céu feita por uma nuvem; o céu vermelho-sangue como obra de Salvador
Dalí, tudo foi armazenado na mente do escritor e na memória de seu celular,
servindo como material para compor o livro. As pessoas que conheceu durante a
peregrinação também serviram de inspiração. “Quase todos os personagens
contidos na história esteve conosco nesta epopeia humana. Foi assim que vi cada
um deles”, conta.
A
obra, contudo, não se resume aos acontecidos no “Caminho de Santiago de
Compostela”. O autor também buscou referências em sua época de menino vivida em
Parnaíba, Piauí, e em Araioses, no Maranhão: nas brincadeiras de herói e
bandido e esconde-esconde com os amigos; nos cantadores de cordel e os
repentistas que ouvia no Mercado Municipal e nas histórias de assombração e
lendas (Mula Sem Cabeça, Bumba-Meu-Boi, Castigo do Castelo de Pedra, entre
outras), que eram contadas por sua mãe, sua irmã e tia.
As
múltiplas, diversas e ricas fontes de inspiração de Jose Nelson só poderiam
desembocar em um enredo audacioso e inusitado. Nele, lendas medievais europeias
e indígenas desfilam em um universo fantástico, apresentado com muita
capacidade de imaginação e senso de criatividade. Se, no começo, o leitor não
pode deixar de sentir certa estranheza com essa mistura inesperada, assim que
adentra as matas fechadas da trama, aprofundando-se em suas saborosas
histórias, é arrebatado por um deleite e por uma curiosidade, que deixa a ele
uma única opção: seguir a leitura e terminá-la, mesmo sabendo que sentirá
saudades da trama e dos personagens.
O
enredo
Em
“O Chamado”, o primeiro volume da trilogia “O Segredo do Caminho”, os leitores
são apresentados aos personagens e iniciados na trama. “Em tempos imemoriais,
antes do início de uma nova era, quando todas as galáxias já estavam povoadas e
vivia-se em plena luz e harmonia, havia um terrível segredo compartilhado pelos
Magos e pela Ordem dos Cavaleiros, uma legião de homens e mulheres dotados de
sabedoria singular e profundo conhecimento de magia e das leis da natureza”,
conta o autor. Este segredo, baseado na Teoria do Colapso Total, complementa:
diz que certo dia e hora ocorrerá o alinhamento das galáxias, provocando o
desequilíbrio e a destruição do universo.
A
fim de evitar que o destino catastrófico do universo se cumpra, o líder dos
magos, Anacom, “o homem mais sábio e poderoso de seu tempo”, reúne todo o
conhecimento possível sobre o tema e com a ajuda dos demais magos elabora um
plano: ungir 33 pedras com poderes mágicos e lançá-las no espaço, para que
fiquem vagando, absorvendo a energia do cosmo, de tal maneira que angariem
força suficiente para evitar o alinhamento das galáxias. A dificuldade do plano
é que essas pedras deverão cair todas, aleatoriamente, em um único planeta e
precisarão ser resgatadas e reunidas na forma de um Colar Universal, objeto
poderoso que permitirá que o caos continue em equilíbrio.
E
mais ainda: a missão de resgate caberá apenas a um ser oriundo do planeta em
que as pedras caíram. Este deverá ser íntegro, dotado de uma coragem incomum e
espírito de aventura, para ser “capaz de comandar uma legião de guerreiros,
vindos de todas as galáxias e vencer os desafios mortais que encontrará pelo
caminho”. A ele se unirá um ser feminino, com a exclusiva função de carregar o
colar depois de formado. Este ser, por ter o dom da vida, “será o único com
força o suficiente para carregar o objeto mais importante e poderoso do
universo e defendê-lo com a própria vida”.
Por
artimanha de um mago chamado Trentoi, que não acredita na iminência da
destruição do universo, as pedras se desviam de sua trajetória original e
acabam caindo em um planeta longínquo chamado Terra. Dele, os responsáveis pelo
plano sabem pouquíssimo. “As poucas informações disponíveis a respeito desse
planeta citam criaturas terríveis, sem nome, conhecidas em lendas e histórias
contadas pelos antigos para assustar crianças”, relata o autor.
Através
de um chamado que vai até eles por meio de sonhos, o homem e a mulher
escolhidos pelos magos para encontrar as pedras e carregar o colar são os
indígenas Yakekan e sua mulher Anahi, ambos da nação Tupi Guarani, “que vivem
nos confins da Floresta Amazônica”. Na companhia de outros 12 guerreiros, ambos
partem para uma terra que Yakekan vislumbrou apenas em devaneios e para uma
missão que têm a certeza de que devem aceitar, mas sem saber o porquê e nem
como a cumprirão. Na trajetória para salvar o universo terão que cruzar sete
portais e enfrentar os mais difíceis desafios.
Após
caminharem alguns dias pela floresta, os guerreiros constroem uma embarcação, a
igapeba, e cruzam o rio em direção ao mar, enfrentando o sol, a fome e a sede e
uma gigantesca onda, antes de aportarem em uma terra estranha. Este lugar não é
nominado, mas, por sua descrição, percebemos que é inspirado na Europa
medieval. Em uma grande construção encravada na rocha, situada em uma
cidadezinha protegida por uma muralha, com castelos e torres, os indígenas se
reúnem com representantes dos magos. Eles explicam aos heróis a missão para o
qual foram designados, concedendo-lhes um mapa (que marca a proximidade dos
portais) e alguns poderes mágicos, para os ajudarem a se livrar de enrascadas.
Yakekan,
Anahi e os 12 guerreiros indígenas seguem em busca das pedras e no meio do
caminho encontram aliados e inimigos. Entre os que se juntam para ajudá-los a
completar a missão estão: guerreiros de diversos rincões do planeta, animais
gigantescos e exóticos e figuras mitológicas. Entre os que engrossam as
fileiras inimigas estão: monstros de pedra, um gigante ciclópico e seres com
olhos flamejantes.
A
batalha derradeira do livro acontece ante um cruzeiro e duas colunas
gigantescas de onde emanam fachos de luz azuis que transformam em pó todos que
tentam ultrapassá-las. A situação piora quando um exército comandado por um rei
com ganas de dominar o mundo deixa como única alternativa aos heróis uma
guerra, onde as chances de serem dizimados é muito grande. A salvação vem do
céu. Os hoatizns, grandes pássaros com penas multicoloridas, de longas asas e
longas pernas acodem Yakekan, Anahi e seus demais companheiros, levando-os para
outras aventuras, que serão contadas nos outros livros da saga.
Projeto
ambicioso
Além
de uma engenhosa trama, repleta de aventuras de tirar o fôlego, o primeiro
volume da trilogia “O Segredo do Caminho”, destaca-se pela minúcia de detalhes
com que são descritos paisagens e personagens acessórios. No início da trama,
quando Anacom promove um encontro com seres dos mais variados planetas e
galáxias para confabular sobre os planos para impedir o domínio do caos, somos
premiados com retratos vívidos de diversos povos ilustres do universo. Ainda
nessa parte, Jose Nelson encanta o leitor ao descrever as diversas espécies de
plantas e animais que compõem o lago de cristal, obra portentosa especialmente
construída para o encontro.
No
núcleo indígena, também, antes e depois da travessia começar, não faltam
explicações sobre os costumes do povo ao qual pertencem Yakekan e Anahi. Feitas
sempre com muito cuidado, descrições de suas formas de habitação, do Kuarup,
ritual em homenagem aos mortos, e de torneios esportivos, cumprem uma dupla
função: contextualizar a história dos heróis, tornando-a mais rica, e educar os
leitores a respeito da cultura dos povos originários, algo sempre muito
importante.
Jose
Nelson pretende e alcança com este livro um projeto ambicioso. Une diversos
mundos e culturas, a partir de experiências recentes e remotas, mas que nunca
foram esquecidas. “O 'Segredo do Caminho' sempre esteve em mim, de alguma
forma, e agora ele nasce como um filho já adulto. Os encantos da infância, em
Parnaíba, no Piauí, e no Paicaetano, em Araioses, no Maranhão, foram a pedra de
toque para construir essa história de lutas, guerras, batalhas individuais,
envolvendo misticismo, magias, crenças, feitiçaria, ciência e um pouco de
criatividade”, diz o autor, que há muito foi encantado por histórias variadas e
agora nos encanta com seu livro.
Ficha
Técnica:
O
Segredo do Caminho - O Chamado/ José Nelson Freitas Farias. Curitiba:
CRV, 2023.
286
p. (Coleção: Os Guardiões do Caminho - O Colar Universal, v. 1).
Bibliografia
ISBN
Coleção Digital 978-65-251-4259-3
ISBN
Coleção Físico 978-65-251-4261-6
ISBN
Volume Digital 978-65-251-4264-7
ISBN Volume Físico 978-65-251-4263-0
DOI
10.24824/978652514263.0
- Literatura Brasileira 2. Ficção I. Título II. Série.
CDDB869.93
Índice
para catálogo sistemático
- Literatura Brasileira - B869.93
Comentários
Postar um comentário