*Larissa Priscila Bredow Hilgemberg
Rita Lee cantou sobre esse tal de rock and roll, sentiu
prazer de ser quem era e estar onde estava, nos lembrou que nem toda feiticeira
é corcunda, falou para todas as mulheres do mundo, falou para a humanidade,
pois toda arte fala sobre e para a humanidade. As artes, sejam elas literárias,
musicais, visuais ou tantas outras, nos convidam a ver o mundo de outra forma.
Elas existem para serem sentidas, para dar sentido às nossas vidas.
Quando um artista se expressa, ele também expressa as
verdades e mentiras de sua sociedade, de sua geração, de seu mundo! Quando um
artista fala, a sua língua é também a do outro. Ele fala sobre si e para si,
ele fala para os outros e sobre os outros! As artes contam a história da sua
época: dos medos, das relações, das superações, das perdas e das conquistas!
A filósofa Simone de Beauvoir relata em seu livro O Segundo Sexo que a mulher da sua época (e de antes de sua época) era
vista sobre o prisma do masculino. A existência da mulher se dava na sua
relação com o masculino – com o pai, marido, namorado, irmão, filho etc.
Essa afirmação pode ser verificada a partir do mundo das
artes, como num espelho da sociedade: a Capitu de Dom Casmurro é vista pelos
olhos de Bentinho. A Garota de Ipanema não passa de uma moça bonita, “cheia de
graça” aos olhos do compositor. Da Monalisa sabemos muito pouco, além do que o
pintor quis transmitir.
Aliás, a mulher foi e ainda é objeto de inspiração, musa e
mote para canções, pinturas, poemas, versos. E, embora a questão levantada por
Beauvoir em 1949, de sermos o segundo sexo, continue atual, muito conquistamos
e já não somos apenas musas, mas somos também as artistas! Aquelas que falam de
sua realidade e o mundo! Pois, a cada dia temos mais mulheres trazendo suas
vozes e seus olhares de mundo para o campo artístico. E as artes têm a força e
a perspectiva de dar voz a esse feminino.
A literatura escrita, a música composta, as artes visuais
criadas por mulheres, enfim, as artes feitas por mulheres não falam apenas do
individual, não é uma voz solitária, mas é coletiva. Ao darmos voz para uma
artista mulher, damos voz para todas as mulheres. Pois, uma artista fala de si
e para si, fala do outro e para o outro! Afinal, quantos de nós em algum
momento, não nos reconhecemos nas músicas de Rita Lee? Nos vimos como a ovelha
negra da família; nos identificamos nos jardins da Babilônia e avisamos: Não
provoque! É cor de rosa choque!
Mas, não é que não queremos que os homens cantem ou pintem
sobre nós mulheres. Queremos, nós também, dar a nossa perspectiva sobre esses
muitos femininos que temos no mundo! E queremos ser ouvidas, lidas, vistas!
Queremos que mais mulheres e mais homens leiam Jarid
Arraes, Conceição Evaristo, Amara Moira e tantas outras escritoras que têm
tanto a nos falar...
... que ouçam Rita Lee, Roberta Campos, Tulipa Ruiz, Linn
da Quebrada e tantas outras vozes femininas...
... que apreciem Criola, Bianca Foratori, Daiara Tukano e
ainda mais tantas artistas visuais que nos falam com suas imagens!
E que as artes falem sobre todos nós e para todos nós! Que
dê sentido a todas as vidas! Que pelas muitas vozes e muitos olhares nós
possamos descobrir a multiplicidade de vozes e olhares que nos têm tanto a
dizer!
*Larissa Priscila Bredow Hilgemberg,
pedagoga, especialista em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade e Pedagogia
Empresarial e Educação Corporativa, professora da área de Linguagens Cultural e
Corporal do Centro Universitário Internacional UNINTER.
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