Obra de estreia de Chico Fonseca traz a força
de um amor proibido em contraste com os costumes conservadores na São Luís dos
anos 1960 e retrata importância da ancestralidade negra na cultura do Maranhão
Esta é uma história de amores. De
marés. De fluxos e do movimento que a própria vida cria, e nos leva a encontrar
com o nosso verdadeiro eu. A trama se desenrola ao longo do ano de 1963. Tem
como pano de fundo a cidade de São Luís do Maranhão. Impregnada de história,
ilhada em si mesma e nos seus costumes, no seu entorno acontece uma das maiores
variações de marés do mundo. A força renovadora dessa correnteza, em contraste
com a vida pacata e conservadora dos moradores, é a perfeita metáfora para o
turbilhão de sentimentos e desejos envolvidos numa relação proibida entre duas
mulheres numa época e lugar de extremos preconceitos com qualquer tipo de
relação fora das normas vigentes. É com essa premissa romântica e poética que o
escritor estreante Chico
Fonseca lança o livro Amores,
Marias, Marés pelo selo Jangada, do Grupo Editorial Pensamento.
A
obra nos traz, por meio de sua narrativa empática, um diálogo com temáticas
atuais, como questões raciais e diversidade sexual, e apresenta ao leitor Maria
Ellena, uma jovem professora de História de 26 anos, bonita, branca e
recém-casada com Arthur, um aristocrata dominado pela mãe. Ellena deixou de dar
aulas para se dedicar à sua nova condição de dona de casa. Não ficava bem,
pelos padrões da época, trabalhar fora, já que o marido, um homem de posses,
podia sustentá-la.
Na
trama, a professora, apaixonada pelo magistério, obtém licença do marido para
dar aulas em casa, sem remuneração, para a neta da costureira da sua mãe, que
se preparava para o vestibular de História. A aluna é Mariana, de 19 anos.
Interessada na importante participação dos negros na construção da cidade,
Mariana convence a professora a acompanhá-la nas pesquisas sobre a saga de um
ancestral escravizado do qual ela tem pouquíssimas informações, as quais deseja
resgatar em arquivos históricos, além de resgatar a história dos negros
escravizados que ajudaram a construir São Luís do Maranhão.
Entre
pesquisas, passeios de bonde e conversas descontraídas, saboreando sorvetes de
frutas da terra, Maria Ellena e Mariana descobrem afinidades, tornam-se amigas,
confidentes, até se descobrirem enredadas em uma inesperada paixão, que mudará
radicalmente seus destinos. Ao costurar retalhos de histórias de vidas reais
com outras que, por descuido do destino, não chegaram a existir, o autor relata
uma história com emoção e poesia, em um romance cheio de detalhes sobre a vida
da São Luís histórica, e que em seu final traz uma reviravolta que promete
surpreender o leitor.
E
agora, com pouco mais de um ano de casada, sou surpreendida por
essa epifania, essa revelação,
essa loucura, esse sentimento
transgressor, que não respeita
costumes nem regras,
que desconhece barreiras,
que virou a minha vida de pernas
para o ar e me mostrou o
que eu me recusava a ver. Tinha medo de ver.
A expectativa pela
chegada da pessoa amada eu sinto agora.
O coração batendo forte a
cada encontro, é o que eu sinto hoje.
E, mais forte que tudo, o
arrepio dos amantes, a brasa
ardente que mequeima quando tu
te aproximas demim.
(Amores, Marias, Marés, p. 109)
Ao
longo das páginas de Amores,
Marias, Marés, a escrita de Chico Fonseca conquistará os leitores e
fará com que eles acompanhem os questionamentos e os dramas de suas personagens
principais: de que forma essas mulheres irão lidar com esse turbilhão de
sentimentos em um tempo de recato, religiosidade e preconceito? Qual seria a
solução para poderem dar vazão aos seus reais sentimentos? Enfrentar as
convenções e encontrar uma maneira de viver essa relação?
Ficha
técnica:
Título: Amores, Marias, Marés,
Autor:
Chico Fonseca
Editora:
Jangada
Páginas:
288
Preço: R$
56.90 (versão impressa). E-book: R$ 39,80
Onde encontrar:
Grupo
Pensamento, Amazon
Sobre o autor: Francisco Fonseca Neto é arquiteto e
urbanista. Nasceu em São Luís, Maranhão, em 1949. Aos quinze anos, mudou-se com
os pais para o Rio de Janeiro, onde se formou pela UFRJ, em 1976. É casado e
tem dois filhos, Renato e Carolina.
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