Por Marcelo Paciolo,
especialista em varejo da AGR Consultores
Ao longo dos últimos anos temos escutado a expressão “Dark
Store”, principalmente após o início da pandemia. Mas afinal de contas, o que
significa isso? Se fossemos traduzir literalmente do inglês para o português a
expressão seria chamada de “Loja Escura”. Isso porque, conceitualmente, essas
lojas são fechadas ao público, com atividades específicas de um centro de
distribuição – armazenar, separar e entregar pedidos para os clientes.
O ponto de diferenciação em relação aos centros de
distribuição tradicionais está em dois aspectos: o espaço físico e a
localização. É muito comum termos estruturas de CD’s enormes e localizadas em
áreas mais distantes dos centros urbanos com maior densidade populacional. Em
contrapartida, as Dark Stores são áreas que possuem praticamente as mesmas
dimensões de uma loja tradicional e estão situadas em áreas urbanas bem
próximas de seus consumidores. Importante ressaltar que a Dark Store não anula
a função do CD, muito pelo contrário, ela agrega valor na cadeia logística,
funcionando como o último estágio - e mais próximo - na entrega de um pedido
para o consumidor final.
Esse modelo vem ganhando cada vez mais força em função do
crescimento exponencial de compras online dos últimos anos. Sobre esses
compradores, temos a estatística que mais de dois terços estão dispostos a
pagar um valor de frete mais alto para que a entrega seja feita o mais rápido
possível, de preferência no mesmo dia. Nesse cenário, entramos com as Dark
Stores. Por terem layouts muito semelhantes à de uma operação de centro de
distribuição e estarem mais próximas de consumidores de hábitos já conhecidos,
elas permitem que as entregas sejam feitas em um prazo muito mais ágil que o
modelo tradicional, agregando valor na experiência de compra dos consumidores.
Além do crescimento de compras pela internet, temos o
conceito de omnicanalidade. Independente do canal onde a compra foi realizada
(online ou offline), a experiência para o cliente sempre deve ser a mesma.
Pensando nisso, as Dark Stores estão deixando de atender apenas o e-commerce e
expandindo também para pedidos de retiradas físicas ou até mesmo abrindo as
portas para que consumidores possam fazer compras presenciais. Essa função
híbrida começou a ser utilizada por redes de supermercado e está ganhando força
entre varejistas de produtos domésticos, vestuário e outros bens de consumo.
O modelo de operação possui outras vantagens além da
possibilidade de entrega mais rápida. Lojas físicas com pouco movimento ou
pouca rentabilidade podem ser transformadas de maneira simples em Dark Stores,
com baixo custo de implantação e manutenção da operação, conseguindo atender
tanto o público online quanto o offline de maneira eficaz. Por estarem mais
próximas do consumidor final, trazem consigo uma redução considerável no custo
de transporte e consequentemente nos danos ambientais relacionados à emissão de
carbono. Além disso, na malha de distribuição dos varejistas, pulverizam a
distribuição que antes estavam 100% concentradas nos CD’s, aumentando a
capacidade de escoamento com menores prazos e menores custos.
Baseado nesses pontos, gigantes do varejo como o Walmart, o
Carrefour e a Target estão inaugurando cada vez mais Dark Stores em
diferentes regiões do mundo, incluindo na América Latina. A utilização delas
como teste vale a pena para avaliar a atuação de um novo ponto em uma região,
ao invés do modelo de expansão baseado em abertura tradicional de uma
loja.
Para implementar uma Dark Store é fundamental conhecer o
público e suas respectivas preferências. Através dessas análises é possível
determinar o mix ideal para essa loja, sempre buscando o equilíbrio entre o
produto e sua profundidade. Como ponto de partida, o ideal é começar pelos
produtos mais vendidos e procurados para que a partir deles essa mixagem seja
calibrada. Tão importante quanto a definição do mix é a definição do modus operandi da
loja. Utilizando o “know how” dos centros de distribuição, é fundamental que os
processos de recebimento, armazenagem, picking e expedição estejam muito bem
definidos e, se possível, suportados com a utilização de software de
gerenciamento de estoques – WMS.
Durante a pandemia do Coronavírus, com as lojas físicas
fechadas por meses, muitos empresários tiveram que readequar seus negócios para
o comércio virtual com a utilização de lojas físicas apenas como pontos de
distribuição. As empresas que migraram para o modelo de Dark Stores estão
percebendo suas vantagens e oportunidades e pretendem mantê-lo como parte de
sua estratégia de distribuição. Por isso, podemos dizer que as dark stores não é
mais um conceito do futuro do varejo, mas sim uma realidade.
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