Campanha mostra os caminhos para mudança oficial de nome das pessoas trans

Curta de animação dá o passo a passo para que transexuais mudem prenome

O tema está bombando no reality show de maior audiência no Brasil. Depois de ser chamada de “amigo” e pelo pronome “ele” numa festa do programa, a travesti Linn da Quebrada, que tem o pronome “ela” tatuado acima da sobrancelha esquerda teve de explicar: “no começo da minha transição, minha mãe ainda errava e me tratava no pronome masculino. Eu falei que ia tatuar ‘ela’ na testa que é pra ver se ela não errava mais. E acho que assim é uma indicação pra todas as outras pessoas. Ficou na dúvida? Lê e daí vocês lembram que eu quero ser tratada no pronome feminino”.


Nesta semana do Dia da Visibilidade Trans, estreia nas redes sociais o curta “Nome - #RespeitaMeuNome”, projeto do Programa USP Diversidade em parceria com o Instituto
Cultural Barong, com apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS). “Nome” é um vídeo de animação que dá o passo a passo para que pessoas trans possam acessar a mudança de nome no registro civil. Ao acessar o QR Code do vídeo, uma relação de ONGs que podem ajudar no processo burocrático, bem como a lista de formulários, e a legislação estará disponível sobre o tema.


O Programa USP Diversidade, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo (PRCEU-USP), tem realizado diversas ações de fortalecimento da inclusão e respeito à diversidade. A coordenadora do Programa, Ana Paula Morais Fernandes, afirma que “em uma época tão tecnológica que nossa sociedade vive, as matérias de consumo rápido possuem preferências nas redes por aqueles que buscam informação compacta e eficiente. Dessa forma os curtas-metragens detêm grande potencial como alternativa para gerar impacto social e apresentar ideias que promovam a inclusão e a diversidade, com reflexões para sensibilizar a sociedade”.


“No País que mais mata pessoas trans no mundo é fundamental o esforço conjunto entre ONGs, gestores, academia e sociedade civil para reforçar a visibilidade trans, seus direitos e promovendo um debate educacional didático, ensinando o passo a passo de como retificar o nome”, afirma a artista plástica Adriana Bertini, diretora de projetos do Instituto Cultural Barong.


O curta promove a #RespeitaMeuNome com uma linguagem lúdica e se propõe a orientar o passo a passo de como retificar seu nome. Produzido com técnicas de animação e ilustração com um time de acadêmicos e parceiros, o curta “Nome” consumiu meses de reuniões, planejamento, criação e desenvolvimento. A representatividade da população LGBTQIA+ se torna essencial para que, em geral, a população aceite e entenda a presença de pessoas trans para que seus direitos sejam assegurados por toda a sociedade.


“A maior dificuldade que tivemos no projeto foi identificar dados, como o número de pessoas trans no Brasil e o número de pessoas que fizeram a retificação social”, argumenta Bertini. Mas, o Barong tem alguns números: o “SOS Dignidade”, um dos projetos de maior relevância da ONG, fez a retificação do nome de mais de 2500 pessoas trans.


A pesquisa “Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/aids no Brasil”, do UNAIDS não trata especificamente do nome social, mas traz dados que denunciam a exclusão pela qual passam pessoas travestis e transexuais no País. Mais de 80% das travestis e trans entrevistadas sentiram que membros de suas próprias famílias fizeram comentários discriminatórios sobre a identidade de gênero delas; mais de 70% já foram assediadas e quase 70% se sentiram excluídas de atividades familiares por causa da identidade de gênero.


“O respeito ao nome e aos pronomes das pessoas trans é a maneira mais simples e mais adequada de demonstrar o respeito e acolhimento ao qual todas as pessoas têm o direito”, afirma Ariadne Ribeiro, assessora de apoio comunitário do UNAIDS no Brasil. “Para grande parte da população trans não letrada ainda é muito difícil retificar seu nome devido a todos os passos burocráticos para se tornar acessível tanto financeiramente quanto educacionalmente”, lamenta Bertini.


“Os problemas enfrentados é que ainda há resistência por parte de servidores públicos em chamar a pessoa trans pelo nome social, que é um direito. Mas, ainda há servidores que só chamam a pessoa pelo nome que ela quer ser chamada se o registro civil estiver retificado”, afirma Jacqueline Rocha Côrtes, que participou do curta de animação e coordena o projeto TransRespeito.


“O curta “Nome - #RespeitaMeuNome” é mais um canal de educação que promove a multiplicação de informações, saberes, práticas de solidariedade com base no respeito aos direitos humanos e à diversidade, incluindo as questões específicas da população trans e travesti. Garantindo a inclusão, o curta terá legendas em português, inglês e espanhol”, reforça a professora Ana Paula.


Neste contexto, o curta “Nome - #RespeitaMeuNome” surge como uma forma de promover a diversidade e corroborar para uma sociedade mais igualitária e justa, por meio da disseminação de informações simples, fidedignas e com linguagem acessível.

Curta de animação “Nome - #RespeitaMeuNome”

Lançamento: 28 de janeiro de 2022, nas mídias sociais do USP Diversidade e do Barong


Ficha técnica:

Coordenação geral: Ana Paula Morais Fernandes – Programa USP Diversidade
Direção de arte e produção executiva: Adriana Bertini – Instituto Cultural Barong
Vozes e avatares: Ariadne Ribeiro Ferreira, Dan Kaio Lemos e Jacqueline Rocha Côrtes

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