Emidoinã - Alma de Fogo
Em
2020, o multiartista André Abujamra criou Emidoinã
- Alma de Fogo, como sequência de seu projeto de lançamento de
quatro álbuns, onde cada um dialoga com um elemento da natureza (Água, Fogo, Ar
e Terra), iniciado com Omindá
- a união das almas do mundo pelas águas (2018) – também
disponível em versão audiovisual.
Inicialmente pensado como um álbum –
indicado ao Grammy Latino 2021como
Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa –, transformou-se num
projeto audiovisual, em parceria com o estúdio Openthedoor e codireção de Luciano Lagares e André
Abujamra, que pode ser assistido nas plataformas Apple
TV, Now, Looke, Google
Play e Vivo
Play – aqui, o trailer.
O
processo teve início em setembro de 2019, quando a Openthedoor estava
produzindo um curta-metragem em live
action de ficção científica e precisava de uma boa trilha sonora.
Aí entra André Abujamra, que foi levado à Openthedoor por seu produtor,
Aguinaldo Rocca, chamado para produzir a trilha. Ao ver o filme, Abujamra topou
a empreitada, propondo uma troca: a Openthedoor produziria uma animação para
fazer parte do show de Emidoinã.
“No
primeiro momento, eu ouvia a música e acabava confuso. É muito sadio e
produtivo ter um norte no processo criativo, mas a música me guiava pra
diferentes lados ao mesmo tempo”, diz Lagares. Para inspirá-lo, Abujamra o
convidou para ver o show de Omindá.
“Depois do show, eu corri pra onde o Abu estava e disse, cara, agora eu compreendi”.
André
Abujmara finalizou a trilha do filme de Luciano, que entregou a animação de Emidoinã – até então, um
clipe de 4 minutos. Então veio a pandemia, o que impossibilitou a turnê, e
surgiu a ideia de fazer animação para as outras 8 músicas, que se tornaram 12
ao final do processo.
“No
processo, eu ouvia as músicas, fazia um storyboard
bem rascunhado, rabiscava umas ideias e mostrava pro Abu. Se alguém ouvisse a
gente conversando iria achar que era uma conversa entre alienígenas. As músicas
do André já são malucas, no bom sentido. As imagens e cenas não poderiam ser
convencionais”, conta o diretor.
Para
a primeira música, Matar o que
não morre, as imagens criadas eram mais literais. Para as outras
faixas, o diretor desafiou sua equipe para que trouxesse novas ideias, em
desenho, ilustração, arte, recorte. Os personagens foram criados a partir das
características dos artistas convidados: Criolo, Russo Passapusso, BNegão,
Chico César, Camila Pitanga, Júlia Lemmertz, Fernanda Takai, Giuliana Maria,
Zélia Duncan, Marisa Brito, Virginie, Pedro Luís, os portugueses Maria de
Medeiros e António Capelo. Por fim, Abujamra compôs uma música que seria
o fechamento de tudo, que prometia esperança e paz, e convidou Rodrigo Santoro
para participar como o profeta. “Foi um dos grandes desafios porque já
estávamos no final da entrega e uma demanda com o nome do Santoro mudou tudo.
Tivemos que reembarcar na produção de um outro modo, até então com um visual
tenso e dramático. E dessa vez tivemos feedback
do próprio Santoro. Enfim, deu tudo certo e agora vem o lançamento dessa obra
incrível”, conta Lagares.
O
filme traduz a visão de André na criação de Emidoinã,
que fala de renovação, algo que geralmente acontece após turbulências. “Minha
falecida avó (e acho que muitas outras avós) costumavam dizer que ‘depois da
tempestade vem a bonança’. Não era uma expressão vaga. E é por isso que
tínhamos que falar do tipo de fogo que Emidoinã
não é. O fogo que vem da ambição, do descaso, da falta de identificação com a
própria terra. O fogo em si é nobre, é um elemento que transforma. Ele surge,
se alimenta e se dissipa. Mas ele foi e está sendo utilizado com intenções de
dizimar áreas de floresta e regiões virgens. Emidoinã
não aborda esse tipo de fogo ateado por interesse. Fala de uma
mudança geral, física e de pensamento. A mensagem quer mostrar que nada é
imediato e nem definitivo”, afirma Lagares, que conclui: “O período de desenvolvimento
da humanidade não terminou, está no meio. Estamos ainda em percurso e muita
gente acredita que tudo que existe é para ser usufruído, como se estivesse num
supermercado. A consequência do consumo desenfreado, da ambição sem limites e
da exploração de tudo que nos rodeia traz consequências. É quando a natureza
exige uma transformação. Emidoinã
não espera por essa manifestação da natureza de forma passiva. Ele envia
Iskandar (André Abujamra) em busca de algo que dê à humanidade uma chance de sobreviver.
Uma virtude que resista à transformação, pois o restante será tornado em
cinzas. Iskandar enfrenta lava, deuses, demônios, guerras e a solidão para
encontrar o amor, considerado por ele ‘aquilo que não morre’.”
Referências
e influências
A
Openthedoor traz muitas referências de ilustração em seus trabalhos, tanto os
autorais quanto os comerciais. Alguns nomes, no entanto, marcaram e definiram o
caminho da produtora e de seu CEO e diretor Luciano Lagares: o filme Planeta
Fantástico, de 1973, a National
Film Board do Canadá, Akira
e outras várias produções japonesas nas décadas de 1990-2000, Winsor McCay,
o estúdio Ghibli, as
animações russas da década de 1970, os curtas exibidos no Anima Mundi, a Pixar. Na música, cada um colocava suas
músicas favoritas para todos ouvirem. Luciano, particularmente, gosta de música
clássica, entre outros estilos –
“queria entender mesmo tudo o que acontecia numa orquestra, ou até num trio ou
quarteto, pra ter uma música como aquela”, explica. O envolvimento e a
curiosidade, tanto na música quanto na animação, certamente foram decisivos
para a realização de Emidoinã
e também para dar uma linguagem diferente para o projeto: “Não sei se foi a
linguagem certa ou errada, mas foi a que sabíamos comunicar e a que pudemos
transmitir a mesma emoção que sentimos ao ouvir as músicas do Abu pela primeira
vez”.
Um
país onde a história é conturbada e algumas vezes violenta não impediu que
gerasse pessoas criativas, bem-humoradas, esperançosas, que querem se divertir
e trabalhar. Uma população cercada de culturas misturadas - pretos, indígenas,
europeus, árabes, orientais - se reflete na música, na comida, no
comportamento, na língua. “E o habitat desse povo magnífico é uma terra
invejável, com florestas, cerrados, rios, lagos, montanhas, etc. Vou parecer um
alucinado falando, mas coloca tudo isso num projeto audacioso para ver o que
sai. Os criativos brasileiros concorrem com os outros do restante do mundo, e
todos competentes. Nossa melhor parte é ser brasileiro, o que significa estar
inserido na cultura do país, e não ser apenas aquele que nasceu no Brasil. O
resto se aprende com dedicação”.
A Openthedoor, produtora de audiovisual especializada
em ilustração e animação e considerada uma das mais importantes
no mercado da publicidade, atua também na criação, desenvolvimento e produção de conteúdos originais
para filmes de longa-metragem, séries, curtas, branded content, dedicando-se a estabelecer uma
poderosa voz para contar histórias relevantes.
Emidoinã
- Alma de Fogo
Filme
em animação
Álbum:
André Abujamra
Filme:
Direção de Luciano Lagares e André Abujamra
Produção:
Openthedoor Studios
Em cartaz nas plataformas digitais Apple TV, Now, Looke, Google Play e Vivo Play
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