*Por Samanta
Lopes
Ser parte de um coletivo protege, inspira e fortalece, mas
isso é bom para quem?
Os sistemas de gestão governamental ao redor do mundo
priorizam metas, eles não geram renda. Sua responsabilidade é garantir que os
valores arrecadados por meio de impostos, taxas, entre outros tributos, sejam
manejados de forma a promover uma sociedade mais humanizada, equânime e
sustentável. Assim deveria ser, atender todas as pessoas, mas infelizmente os
dados dizem o contrário, como veremos a seguir.
Observando o ranking dos países com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ao redor do mundo, temos o Brasil em 79º, se considerado o
PIB per
capita; e em 84º no desenvolvimento humano
(IDH), em 2021. A gestão de recursos deveria ser feita com transparência,
seriedade, priorizando
as pessoas e seu bem-estar, que é algo além de apenas não estarem adoentadas.
Desta forma, seriam garantidos às pessoas os seus direitos mais
básicos, tais como: moradia digna, alimentação, saneamento básico, acesso à
educação de qualidade, entre outras premissas. Infelizmente, voltamos ao
ranking da miséria e da fome, do qual estávamos fora desde 2020.
É importante lembrar que, de outro lado, em muitas
culturas, ainda
hoje, pessoas consideradas “in”capazes são assassinadas ou deixadas para
morrer logo após nascerem ou são trancafiadas e isoladas do mundo. Nesses atos,
culturalmente, não há nenhuma maldade, porque elas são consideradas
despreparadas para sobreviver em ambientes hostis.
As escolhas de incluir um grupo, ou simplesmente invisibilizá-lo e
aniquilá-lo, vêm dessa estrutura social na qual estamos inseridos. Os
preconceitos estruturais acontecem ao redor do mundo e por razões diversas:
destacam-se a diferença entre classes sociais, culturas, genótipos e
fenótipos diferenciados, pessoas com deficiência e pessoas da comunidade
LGBTQIA+. Todos, em algum ponto, são alvo de tratamentos sociais que os excluem
de vários ambientes e de várias oportunidades apenas por não se encaixarem nos
padrões normalizados e aceitos por uma sociedade.
Desta forma, para incluir, temos de respeitar e aceitar. A aceitação é a primeira
atitude que precisamos mudar, de forma consciente, para promover a inclusão. Aqui cabe uma premissa do
respeito humano: não faça ao outro o que não quer para si mesmo. Podemos ter
códigos de conduta que organizam a sociedade, precisamos deles para não
vivermos em um mundo caótico, onde cada um age como bem entender, sem
considerar que seu limite termina onde começa o de outras pessoas. No entanto,
as condutas de convivência precisam pautar que vivemos em grupos, temos de exercitar
a solidariedade, a compreensão, a colaboração, e aprender a construir um
ambiente humanizado para todas as pessoas – que merecem ter a liberdade de serem quem são, sem medo de
vivenciar a convivência, que é fundamental para humanizar as pessoas.
O incluir começa cedo, quando a criança ainda pequena é
apresentada ao mundo em sua diversidade e ensinada a aceitar cada um por quem é. Nessa
fase, ela aprende a respeitar pessoas, ambientes, alimentos, vestimentas,
expressões de gênero, entre tantas outras características para além de seu
mundo familiar. Enfim, quanto mais a criança experimentar conviver com o
diverso e se sentir acolhida, mais aberta ela será para a pluralidade do mundo
a sua volta.
Trazer conversas sobre estranhamento e como lidar com essas
sensações e emoções é importante. Afinal, todos temos um alerta de segurança
natural que nos faz dar um passo atrás quando encontramos algo novo ou
diferente. Entender essa ação fisiológica de preservação é importante para
sabermos o que fazer a seguir, de forma consciente: vou explorar, vou fugir,
vou lutar ou vou me defender? Em segundos, nossa mente une senso de preservação
às nossas crenças, valores, e os condensa em uma ação – aqui é
fundamental sermos capazes de escolher conscientemente que atitude adotaremos a
seguir.
Incluir não é apenas abrir um espaço e dizer: entra! Temos
de criar diálogos, promover trocas, estar perto, conhecer e acolher. Não basta
divulgar uma vaga para pessoas com deficiência se, quando elas chegam à empresa, são colocadas
em funções repetitivas, isoladas e sem nenhuma participação em ações que
influenciam as estratégias da corporação. Desde a mudança estrutural para
recebê-las, como teclados de computador adaptados, até a recepção com
sinalização adequada, ou ainda a sensibilização de colegas para que saibam
perguntar o que podem ou não fazer pela pessoa sem medo de serem ofensivas,
tudo deve ser pensado para criar acolhimento e um ambiente seguro.
As oportunidades de mudar o mundo estão no cotidiano, e a inclusão não deve
ser uma atividade apenas para cumprir leis ou colocar um selo na empresa. Ela
precisa surgir de decisões conscientes, voltadas à gestão do capital humano,
porque quanto mais diversos os times, melhores as chances de sua empresa
falar com mais pessoas, no tom certo e com o respeito que cada
uma merece. Isso, sim, é bom para todos!
*Samanta Lopes é coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa,
agência de live marketing – uma@nbpress.com
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