Artista Brasileira Paula Parisot é convidada da 3ª Edição da Bienalsur com a mostra "Literatura Do Eu"
A mostra acontece de 8 de setembro a 8 de
dezembro, na Embaixada do Brasil em Buenos Aires, a "casa" da artista
na capital argentina
A
artista visual e escritora carioca Paula Parisot foi convidada para participar
da 3ª edição da BienalSur, que acontece simultaneamente em diversos museus e
instituições culturais pelo mundo. A mostra, denominada Literatura do Eu, uma
exposição-narrativa, em primeira pessoa, apresenta uma série de obras nas quais
ela vem trabalhando desde 2016.
“O
que é a Literatura do Eu?
A ânsia do escritor de falar de si próprio? A necessidade de falar da própria
infância, das próprias memórias, dos próprios desejos e frustações? Por
que tanto apego as próprias vidas? Por que a recusa da fantasia, da invenção?
Por que, hoje, a ficção parece criar ojeriza? Algo se rompeu? A imaginação caiu
em descrédito?”, questiona Parisot, criadora da série para TV A Crucigramista – exibida no Brasil
pelo canal Arte 1.
Em 8
de setembro, dia do aniversário de seu pai, Parisot inaugura a mostra, que
ocupa a Embaixada do Brasil em Buenos Aires, local que representa “seu
território”, “sua casa” naquele país.
A
mostra é dividida em “capítulos”, como nos livros. Na primeira sala está
representada a infância da
artista, sua família e o pai dos seus filhos, que morreu. O corredor de circulação
recebe desenhos abstratos
que representam os seus pais e avós e esculturas em espuma e pintura acrílica de
inegáveis alusões fálicas, que representam os homens
importantes de sua vida. Esse corredor conduz à grande sala e à instalação A jovem senhora finalmente
compreendeu que não há garantias nem almoços grátis, que resume a visão ligeiramente pessimista,
embora realista, da artista, onde palavras juradas, o ego
satisfeito e a eficácia da sedução não duram. Outros fatores entram em jogo,
sendo a fatalidade um deles.
As duas salas subsequentes
são dedicadas à videoarte:
uma vídeo-performance inédita, captada ao meio-dia de 24 de outubro de 2013 –
quando, com seu celular escondido, moveu-se como um lagarto rastejante pelas
ruas em ebulição do centro de São Paulo, registrando tudo o que acontecia no
nível do solo; o segundo vídeo abre com uma citação de Hilda Hilst – “Se você é
coerente consigo mesmo, o resto é suportável. Eu suporto" – e é ambientado
na Buenos Aires da quarentena, em 2020, como um "diário visual da
pandemia".
"E
a minha liberdade de expressão, não tenho direito a uma autobiografia? Afinal
de contas, não dizem que toda autobiografia é auto ficção? Famílias, relações
humanas, estados, religiões, governos, tudo permeado pela censura, pelo não
dito. Sobre o que não se pode falar, é melhor calar?”, questiona-se. Como os
limites entre o público e o privado vem sendo embaraçados pelas redes sociais e
as tecnologias de vigilância, Parisot lança o desafio sobre esta falsa
liberdade construída sobre a espetacularização da vida privada. "Uma nova
era começa: Eu sou Paula Parisot", conclui a artista num gesto de
autorreferência típico da Literatura
do Eu.
“Aqueles
que nos precedem, o caminho desde a infância quando ainda não falamos, até à
livre expressão das angústias, desejos, sucessos e fracassos da vida adulta”,
explica a curadora Maria José Herrera, que completa: “A pandemia do Covid-19
foi e segue sendo um longo processo traumático, onde Parisot voltou a escrever
os seus diários, que tinham sido interrompidos durante muitos anos. Voltar a
deixar os vestígios de seu cotidiano no papel, o único suporte que realmente
ouve a voz interior sem a julgar. Falar da própria vida como uma sucessão de
páginas de uma literatura visual carregada de símbolos. A distopia das relações
humanas marcam os corpos como cicatrizes indeleveis. De onde venho? Para onde
vou? Perguntas eternas para respostas provisórias”, como explica a curadora
Maria Jose Herrera. “Ontem Rio de Janeiro e São Paulo, Nova York e Paris e hoje
Buenos Aires. Em cada cidade a artista abandona o passado e refaz presentes.
A condição de estrangeira, que vem atada a língua, da voz de uma artista
marcada por sua identidade de mulher.”
“Original
e criativa, Paula Parisot encontrou uma nova maneira de apresentar os seus
livros, acrescentando a eles elementos da arte performática. Dessa maneira, ela
está na vanguarda da abertura de novas possibilidades para escritores e
artistas em geral. Para encontrar novas formas de expressão, ela corajosamente
cruzou as fronteiras entre a arte de escrever e a arte da performance.”
Marina
Abramovic
Tour
descritivo
Sala
1- São telas de grandes proporções,
como Inpensável e A capacidade
de emitir sons – “onde as pinturas se assemelham às imagens
desfocadas de um caos primordial habitado por fragmentos”, diz Maria José – e
esculturas onde vemos que as mulheres vêm primeiro na sua história familiar: Eu, uma escultura pendurada
do teto diante da sua Infância, como que confrontando-a com um gesto ativo e
questionador. Parisot, sua mãe e avós partilham o mesmo material suave com
poucas diferenças entre elas, partem da mesma matriz formal, esferas cobertas
por veludo vermelho, entrelaçadas, atadas entre si e feitas de fuxico.
Sala
2 - O mito não morre, O artista marroquino
morto em Paris, O nova-iorquino, Minha mais longa one night stand.
“Totens inquietantes que, devido ao seu material poroso e macio, parecem ter
sido esculpidos a dentadas, a arranhões”, revela Maria Helena, “as esculturas escondem o
que a literatura teria encarnado em vermelho vivo.”
Sala
3 - 8 painéis coloridos que,
como cabelos compridos, se arrastam pelo chão, expressando diferentes estados
emocionais, as dores e os prazeres do passar do tempo, o ciclo da vida da
mulher, a maturidade. Coloridos, intrincados e sempre bonitos, representam o
mundo estético de Parisot.
Vídeo
1 - revelando as
reações das pessoas, tendo como espectadores um pregador evangélico e os jovens
"cultos". Ambos os espectadores da performance de Parisot são testemunhos
muito valiosos para compreender os mecanismos de recepção de arte. Como propôs
Umberto Eco, cada leitor
tem sua própria enciclopédia e a aplicam à compreensão da ambiguidade da
mensagem estética.
Vídeo
2 - “apresenta
imagens vertiginosas que incluem flashbacks,
um dispositivo narrativo que justapõe o tempo, construindo uma narrativa
tridimensional” – como bem define Herrera –, trazendo reflexões sobre sua história pessoal e a
pandemia.
"A
vida é mudança, eu, você, as moléculas, os vírus, os planetas, as estrelas, os
seres. Tudo muda o tempo todo”, diz a artista no último vídeo da mostra. Em um
jogo entre imagens e palavras, Parisot revela as mudanças que a pandemia
produziu, e ainda produz, num reflexo do padrão que governou sua vida.
Diferentes amores, países e sonhos eram a regra de uma existência em que ela
diz sentir-se ‘estrangeira em todas as partes’”, conclui a curadora.
Sobre
Paula Parisot
Paula
Parisot nasceu no Rio de Janeiro e vive em Buenos Aires. Mestre em Fine Artes
da The New School University, Nova York. Artista visual e escritora, seu
trabalho é fundamentalmente interdisciplinar, uma vez que reúne literatura,
pintura, desenho, performance e vídeo. Ela teve uma série exposições
individuais relacionadas à sua obra literária, incluindo uma exposição
individual na EAV Parque Lage (RJ, 2014) e em Guadalajara (México, 2014). Expôs
em instituições como o SESC em São Paulo. Cocriadora com Jessica Mitrani de A Crucigramista (Arte1,
Brasil, canal 180, Portugal e 22, México), um programa de TV sobre arte na
América Latina. A
Crucigramista participou da DOCLisboa, 2018 e da Bienal do
Mercosul, 2020. É autora dos livros A
dama da Solidão (Companhia das Letras, 2007), finalista do Prêmio
Jabuti, (Cal y Arena, 2008 e Dalkey Aclive Press 2010); Gonzos e Parafusos (Léa,
2010, Cal y Arena, 2011) e Partir
(Tordesilhas 2013, Cal y Arena, 2013). Parisot trabalhou internacionalmente na
divulgação da literatura brasileira na organização de antologias como La Invenciono De La Realidad
(Cal y Arena, México, 2014).
Literatura
do Eu
Mostra
de Paula Parisot na BienalSur
Data:
de 8 de setembro a 10 de dezembro de 2021
Local:
Embaixada do Brasil em Buenos Aires
End.:
Arroyo 1142 CABA - Buenos Aires
Visitação:
de segunda a sexta-feira, das 11h às 19h
Entrada
gratuita
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