De K-pop a dorama: como a cultura coreana conquistou os brasileiros

Em entrevista inédita, a autora Katherine Laura revela qual foi sua inspiração para escrever "Um Coreano em Minha Vida" e explica a paixão pelas produções asiáticas

Segundo pesquisa realizada pela Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional, após o início da pandemia da COVID-19, o Brasil se tornou o terceiro país no ranking mundial que mais consome músicas do gênero K-pop e filmes, séries e livros de drama coreano – os famosos doramas que se popularizaram entre os jovens.

Na literatura, uma das principais expoentes é a escritora do Rio Grande do Norte, Katherine Laura Leighton. Em novo livro, Um Coreano em Minha Vida, ela traz curiosidades históricas, culturais e lendas da Coreia do Sul, como a Mitologia do Ceifador. Confira abaixo a entrevista inédita, em que a escritora revela suas inspirações para construir esse romance, além de explicar a popularidade das produções asiáticas entre os brasileiros:

O que é Dorama e por que, entre tantos gêneros, você decidiu escrever este?

Katherine Laura: Dorama é a sonorização da palavra drama no idioma Japonês, ou seja, se refere à dramatização de uma história independente do gênero. No Brasil adotamos a palavra dorama para nos referirmos a todas as produções televisivas de origem do leste asiático, cujas mais apreciadas são as comédias românticas que em geral são mais ingênuas e cheias de cenas fofas que derretem os corações de quem assiste, fantasia e que envolvem os Idols (membros dos grupos de K-pop). Minha decisão de adotar o estilo “dorama” para meus romances é porque eu me identifico com esse tipo de produção, minhas histórias anteriores também retratam relacionamentos de forma mais leve, com foco no desenvolvimento dos personagens e na doçura do amor e não na sensualidade, então somei os aspectos culturais da Coreia do Sul ao meu estilo. Além disso, essas produções, durante a pandemia, têm conquistado cada vez mais o coração dos brasileiros – sejam jovens ou não!

Quando e como surgiu sua paixão pela cultura sul-coreana?

Katherine Laura: Aconteceu em 2018. Eu estava cansada de ver os mesmos filmes e séries da Netflix e sempre que abria o aplicativo o dorama “Jardim de Meteoros” era sugerido para mim. Então resolvi dar uma chance. O primeiro episódio foi confuso para mim a sonoridade do idioma chinês, mas persisti, pois o enredo me chamou a atenção. Aos poucos me acostumei ao som, as expressões e me apaixonei pela série. Após Jardim de Meteoros, comecei a assistir todas as produções asiáticas que encontrava no serviço de streaming, e a cultura coreana foi a que mais me chamou a atenção.  

Qual foi a sua maior inspiração para criar “Um Coreano em Minha Vida”?

Katherine Laura: O “ser diferente”. Uma cultura distinta, aparência, dons ou habilidades divergentes. Quando era criança eu sempre fui muito reservada, e gostava de estudar, de ler e isso de certa forma causava estranheza na maioria das outras crianças. Por um tempo eu não me sentia aceita, mas hoje vejo que o problema era mais meu do que delas. Quando eu passei a não me incomodar com meu jeito de ser tudo ficou mais fácil, então quis trazer o que difere como tema do livro. Todos nós temos nossas próprias peculiaridades, habilidades não precisamos ser iguais nem pensar igual. O que considero fundamental é olhar no espelho e se sentir confortável, com a minha imagem e com o conteúdo dentro dela. O protagonista da obra, Jae Young, tem uma forma de ver o mundo que acho muito bonita considerando e mostrando respeito a todos, até mesmo a quem lhe feriu.

Qual é a principal mensagem que a obra traz aos leitores?

Katherine Laura: Mesmo que pareça que a vida ou destino seja algo certo, podemos mudá-lo para melhor. Por isso devemos lutar pelo que amamos e usar nossos talentos, mesmo que a princípio isso não soe como um dom ou qualidade. Mas, se há algo em que é habilidoso, não tenha medo de usá-lo para tornar sua vida e do próximo melhor.

Algum personagem do livro foi inspirado em sua vivência pessoal?

Katherine Laura: Na verdade, acho que todos sempre têm algum pedacinho do autor, afinal eles nascem em nossas mentes. Elleanor, a protagonista, é determinada e persistente como eu. Já a personagem Mari tem a personalidade inspirada em uma grande amiga minha.

Quais são os desafios de ser escritora no Brasil?
Katherine Laura: Acredito que chegar até o leitor. Saber como e onde encontrar o seu público-alvo e como falar com eles. Ainda somos um país que lê pouco e convencer esse pequeno público a escolher sua história é o que considero mais difícil no mercado literário.

Você fez alguma pesquisa para escrever o livro, qual? Quanto tempo levou para escrevê-lo?

Katherine Laura: Foi um ano trabalhando na história. Fiz muitas pesquisas, desde economia, cultura, religião, os mitos mais famosos, costumes, assisti muitos dramas com um caderno do lado para anotar tudo que considerava diferente e confirmar depois, nomes e como formar os nomes. Expressões idiomáticas mais comuns, e muitos outros detalhes. E para os próximos também farei novos levantamentos.

Qual elemento da cultura sul-coreana mais chamou sua atenção para compor o livro?

Katherine Laura: Foram vários, mas vou mencionar três: o respeito que eles dedicam aos mais velhos, e quando digo mais velhos não me refiro apenas aos idosos, e sim a hierarquia. Eles têm nomes e gestos para irmãos – quem é mais velho e mais novo, colegas de trabalho, amigos, família. O quanto eles valorizam a educação, para ter uma ideia eles foram o primeiro país do mundo a disponibilizar todos os livros didáticos digitalmente. Alguns podem me tachar de antiquada, mas gosto dessa forma que eles vem os relacionamentos de conduzir passo a passo, dos gestos mais simples e doces.

Sinopse “Um Coreano em Minha Vida”: Conheça a história do coreano Park Jae Young e da Elleanor uma linda necromante. O casal se conhece ainda na infância e tornaram-se melhores amigos, mas um fato obrigou Jae Young a voltar para a Coreia. Vinte e três anos depois, ele retorna ao Brasil para ajudar seu irmão mais novo. E o reencontro entre ele e Elleanor abre a velha ferida que o atormenta desde que partiu, um sentimento que ele não pretendia despertar, entretanto, ela não está disposta a deixar se perder. Esse é um drama sobre perdas, encontros e desencontros. Será que o verdadeiro amor vai além das fronteiras da morte? 

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