Fórum das Letras, Camões - Centro Cultural Português e Câmara Brasileira do Livro discutem propostas para a integração entre os países lusófonos
Cooperação e interlocução entre escritores e
leitores estiveram em foco na celebração da Semana da Língua Portuguesa
De 5 a 7 de maio de 2021, juntamente com o
Camões – Centro Cultural Português em Brasília e a Câmara Brasileira do Livro,
o Fórum das Letras celebrou o Dia Mundial da Língua Portuguesa com uma
programação riquíssima, voltada para a discussão de propostas para a integração
entre os países de língua portuguesa.
Para a coordenadora Geral do Fórum das Letras,
Guiomar de Grammont, professora da Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP, “os
debates foram extremamente bem-sucedidos, assistidos por pessoas quem falam a
nossa língua na África, no Brasil e em Portugal. Inúmeras propostas de
cooperação foram enunciadas no encontro e a sinergia entre os convidados gerou
uma agenda de ações a serem realizadas, para abrir caminhos de cooperação e
interlocução entre escritores e leitores dos países de língua portuguesa.”
Diálogo em tempos de pandemia
Na mesa de abertura, no dia 5 de maio, Dia
Mundial da Língua Portuguesa, o jornalista Paulo Markun, o historiador
português Rui Tavares e Jorge Ferrão, reitor da Universidade de Moçambique,
debateram as dificuldades de articulação entre os países de língua portuguesa,
nesse contexto agravado pela pandemia, sob a mediação de Francis Manzoni,
Coordenador da Comissão para Promoção de Conteúdo em Língua Portuguesa da
Câmara Brasileira do Livro. Os autores procuraram responder à pergunta: “Até
que ponto a pandemia pode ter afetado o diálogo entre os países de língua portuguesa?
Que medidas poderiam ser tomadas para uma maior aproximação entre esses países,
em um contexto tão dramático?”
Os autores lembraram a imperiosa necessidade,
primeiro, de promover a livre circulação entre os falantes de Língua
Portuguesa, criando um território comum, para além das fronteiras do
Estado-Nação. Depois, “outros direitos serão paulatinamente conquistados, uma
vez que somos, hoje 256 milhões de falantes de Língua Portuguesa, e no final do
século estaremos perto de 500 milhões”, lembrou Jorge Ferrão. Dentre esses
direitos, como reforçou Rui Tavares, urge criar um novo espaço geográfico que
facilite as trocas econômicas, com integração aduaneira, possibilitando um
mercado comum a todos esses países. Além da livre circulação, os convidados propuseram
uma integração de direitos cívicos e políticos, de forma a que os falantes de
Língua Portuguesa tenham a possibilidade de votar e ser eleitos nos países da
comunidade. Essa integração já acontece ao nível das universidades, no
reconhecimento dos graus acadêmicos obtidos em outras universidades, mas é
preciso fazer mais. Rui Tavares levantou a proposta de criação de um Parlamento
de escritores e intelectuais para a defesa dos direitos humanos em todos os
países de Língua Portuguesa.
Rui Tavares levantou ainda a necessidade de uma
mídia e um organismo supranacional para a promoção da difusão da Língua
Portuguesa, financiados e geridos por todos os países, para fortalecer essa
união. Paulo Markun lançou o desafio de que o Fórum das Letras assuma a tarefa
de realizar conversas mais frequentes entre os autores e intelectuais dos
países de Língua Portuguesa, de forma a abrir caminho no sentido dessa
integração.
Intercâmbio entre livros e literaturas
A segunda mesa, no dia 6 de maio, com a poeta e
performer Elisa Lucinda, o poeta cabo-verdiano Filinto Eliseo e Tito Couto, da
agência Booktailors, de Portugal, mediada por Mônica Gama, professora da
Universidade Federal de Ouro Preto, procurou responder às seguintes questões:
“Por que o intercâmbio entre livros e literaturas de Língua Portuguesa nem
sempre acontece, sendo tão mais fácil a publicação de autores que falam a mesma
língua? Quais políticas culturais poderiam ser implementadas para ampliar essas
relações?”
O tema se desdobrou em um debate sobre os espaços
e mecanismos de exclusão no mundo do livro. Foram levantadas tanto as
dificuldades encontradas pelos autores negros para serem publicados, como
também pelos países africanos de Língua Portuguesa, para apresentarem seus
autores em um contexto internacional. Tito Couto lançou, por exemplo, a
proposta de que os países que se dispõem a financiar suas participações como
homenageados em grandes feiras internacionais, como as de Frankfurt e
Guadalajara, estendam esses investimentos para levar também autores dos países
mais pobres de Língua Portuguesa.
Os convidados levantaram que as literaturas se
enriqueceriam mais, e o mercado de livros de forma geral se beneficiaria muito
de um maior intercâmbio de livros e autores entre os países de Língua
Portuguesa. Contudo, muitas vezes, o desconhecimento sobre como estabelecer
essas pontes dificulta esse fluxo que seria tão positivo para esses países,
mesmo em termos econômicos.
Festivais Literários na era digital
A última mesa, do dia 7 de maio, sobre a
mutação dos Festivais Literários na era digital, foi protagonizada por José
Pinho, do FOLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos, Portugal; Amosse
Mucavele, da Festa Literária Templos de Escrita, de Moçambique e Guiomar de
Grammont, do Fórum das Letras da Universidade Federal de Ouro Preto, com
mediação de Leonardo Neto, jornalista do Publishnews.
A mesa lembrou a história recente dos festivais
literários de curta duração e a aceleração da virtualização de suas atividades
provocada pelo advento da pandemia. Hoje, a maior parte dos Festivais
literários migrou para a internet, o que acarretou dificuldades e perdas, mas
também vantagens. Dentre estas, foram citadas a possibilidade de realização dos
eventos com menos recursos e o seu alcance para públicos que não teriam a
possibilidade de vir presencialmente.
“A principal
contribuição desta mesa, contudo”, segundo Guiomar de Grammont, “foi a
proposta, que nasceu já nos bastidores, antes do debate começar, de uma
federação de eventos de Língua Portuguesa, ou seja, uma união e interlocução
entre as festas literárias, de forma a partilhar convidados, ideias e até mesmo
soluções logísticas”. Amosse Mucavele foi o porta-voz da proposta discutida
pelos três organizadores de eventos literários, do Brasil, Portugal e África,
que participaram desta mesa.
Guiomar lembrou que chegou a lançar a proposta
de uma federação de eventos literários nacionais em mesa do Publishnews, na
FLIP, em 2017, com propósitos semelhantes, tendo em vista sobretudo otimizar
recursos, na partilha do convite a autores internacionais.
“Precisamos reforçar os
valores que originaram os nossos eventos”, disse Guiomar, “o propósito comum a
todos nós é formar leitores, quanto mais conseguirmos ampliar o alcance de
nossas ações, mais atingiremos esse objetivo”, conclamou a idealizadora do
Fórum das Letras de Ouro Preto e da Semana da Língua Portuguesa.
Fórum das Letras de Ouro Preto
Promovido pela Universidade Federal de Ouro
Preto (UFOP), o Fórum das Letras de Ouro Preto, que celebrou sua 15a edição
em 2020, foi concebido com a intenção de promover o diálogo entre os autores e
leitores de literaturas de Língua Portuguesa, além de promover o
desenvolvimento sustentável das cidades históricas, em especial, Ouro Preto,
Patrimônio Cultural da Humanidade.
Desde sua primeira edição, em 2005, o Fórum das
Letras vem recebendo os mais importantes autores da literatura contemporânea do
Brasil e do mundo. A seleção, que reflete o cuidadoso trabalho de curadoria
exercido, oferece uma amostra significativa da produção literária da
atualidade, sempre enfatizando a diversidade cultural e étnica e a liberdade de
expressão.
O principal objetivo do evento é promover a
valorização da identidade, da diversidade e da literatura produzida,
principalmente, pelos países de língua portuguesa. Esta proposta sempre foi
realizada por meio de ações que buscam a cooperação mútua entre Brasil,
Portugal e demais nações da África onde se fala a Língua Portuguesa,
fundamentais para a formação da cultura brasileira.
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