Na websérie "Pelas Quadras do Samba", do canal Papo de Música, Martinho da Vila traz o gênero musical como prisma político e cultural
Um
dos principais representantes da música popular brasileira, Martinho da Vila marca
presença no sétimo episódio da websérie “Pelas
Quadras do Samba”. Reunindo assuntos que estão bem presentes no
dia a dia nacional, como coerência política, incentivo à educação e otimismo, o
irreverente compositor da Vila
Isabel conta como reflete tudo isso em samba. Guiado pela
jornalista Fabiane Pereira,
o convidado da série documental do canal Papo
de Música faz uma viagem pelos mais de de cinquenta anos de
carreira, marcados por sambas como “Menina Moça” (1987), “Devagar, devagarinho”
(1995), “Canta Canta, Minha Gente” (1974), entre outros cuja relevância
atravessa gerações. O papo com o sambista fluminense vai ao ar no dia 23 de março e ainda
conta com as participações de Dona
Ivanizia e Thales
Nunes, no quadro fixo “A História do Samba”, que traz
lembranças afetivas resgatadas pelas canções preferidas dos dois convidados (assista aqui).
Foi
em setembro de 1967, em São Paulo, no terceiro Festival de Música Popular
Brasileira, que Martinho deu os primeiros passos de sua carreira, popularizando
o Partido-Alto. Ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Erasmo Carlos,
Martinho integrou a seletiva lista dos únicos dez nomes que, entre os quarenta
inscritos, teriam suas músicas defendidas pelo próprio autor. “O festival era
muito forte e importante, todos os artistas gostariam de participar. A direção
falou: os compositores mandam as músicas e os cantores interpretam. O [cantor]
Jamelão foi escolhido para defender a minha composição, ‘Menina Moça’. Ele era
uma grande estrela da época e viajou chegando muito próximo [do horário] da
apresentação. Como ele não sabia [a música], tiveram a ideia de eu ir com ele e
aí a gente cantou juntos. Aí, virei artista e o contador dançou”, brinca o
cantor que, na época, trabalhava com contabilidade. Apesar de sua música ter
sido eliminada na terceira chamada, Martinho acabou ganhando muito mais, um
legado no samba.
Hoje,
mesmo enfrentando os impactos da pandemia, o cantor mantém a positividade como
única saída. “Nós estamos num momento em que os negacionistas, os raivosos, os
pessimistas estão crescendo muito, mas a gente tem que resistir, porque cada
ação gera uma reação. Uma ação boa gera uma reação boa, então nós temos que ser
otimistas. Os otimistas foram os que mudaram o mundo”, afirma o artista
vascaíno – que mesmo com o time na zona de rebaixamento, também segue
esperançoso nessa área.
A
música é, justamente, por onde Martinho constrói essa esperança e leva suas
mensagens políticas e de afeto. “As escolas de samba, com suas músicas e seus
temas, [também] ajudam muito a educar o povo brasileiro. Numa época em que
desfilavam com temas da história do Brasil ensinadas no ensino primário, como a
abolição, a independência, etc., acabavam por ajudar as crianças nas escolas. O
terceiro samba-enredo que eu fiz, lá atrás, em 1980, foi sobre Machado de Assis
e eu não sabia nada dele na época, então botamos ele como enredo e foi uma
aula”, conta.
Autor
de mais de dez sambas-enredo da Vila Isabel e dois discos dedicados à escola, o
compositor dá a letra da forma como cria as composições: “É uma música para se
fazer pensando e não é para ser cantada individualmente, mas, sim,
coletivamente. Depois, tem que se pensar que é uma música para cantar em
movimento, então ela precisa movimentar as pessoas”, comenta o artista que, ao
lado de Arlindo Cruz, Tunico da Vila, Leonel e André Diniz, assina a composição
de “A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo - Água no feijão que chegou mais
um”, o último samba-enredo campeão da escola, no Carnaval de 2013. “O
samba-enredo precisa ter alegria, porque é Carnaval, mas seguido de uma dose
intensa de emoção”, complementa.
Essa
dose de emoção que Martinho destaca inclui atravessar temas políticos. “A
maioria das minhas músicas, dos meus sambas e das coisas que falo estão
envolvidas com o fator político. Se eu contar simplesmente uma história, já
entra política no meio. Os sambistas, mesmo os mais românticos, trazem ali
embutido uma mensagem. É difícil ter um samba alienado”, declara. Apesar disso,
o compositor ressalta a naturalidade com que as mensagens políticas entram em
seus versos e acredita que “o compositor não pode pensar em fazer um ‘samba
político'. Ele tem que se preocupar em fazer uma música, uma composição boa que
tenha as coisas principais: riqueza melódica e poética, e, a partir desse
parâmetro, ele pode falar que tal música pode ser de tema político”,
finaliza.
Além
de Martinho da Vila, também já passaram pela websérie os artistas Altay Veloso,
Manu da Cuíca, Dudu Nobre, Fred Camacho, Pretinho da Serrinha e Magal Clareou.
E os próximos convidados já estão confirmados, são eles Daniel Gonzaga,
Andrezinho e Mauro Diniz. O "Pelas Quadras do Samba" ainda se
desdobrará em episódios de podcast, no Spotify, e em um e-book, que estará
disponível a partir de abril.
Assista ao episódio do “Pelas Quadras do Samba” com Martinho da
Vila aqui
Acompanhe os últimos
episódios da websérie aqui
Programação
Completa:
02/03
– Altay Veloso (Viradouro)
05/03 – Manu da Cuíca (Mangueira)
09/03 – Dudu Nobre (Unidos da Tijuca)
12/03 – Fred Camacho (Salgueiro)
16/03 – Pretinho da Serrinha (Império Serrano)
19/03 – Magal (Beija Flor)
23/03 – Martinho da Vila (Vila Isabel)
26/03 – Daniel Gonzaga (Estácio)
29/03 – Andrezinho (Mocidade)
31/03 – Mauro Diniz (Portela e Monarco)
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