Aller Editora publica livro de Isabelle Orrado e Jean-Michel Vives, renomados psicanalistas franceses, que aborda maneiras de melhorar a relação do sujeito autista com o mundo
A repetição é um mecanismo importante em
todo processo de aprendizagem. Por exemplo, quando a criança aprende a pular,
ela vai reproduzir esse movimento diversas vezes até dominá-lo – igual ao que
os atletas fazem para melhorar seus desempenhos. O jogador de basquete vai
treinar arremessos repetindo inúmeras vezes o movimento. A repetição permite
aqui aperfeiçoar o domínio do gesto. - Autismo e Mediação (Aller Editora)
Mas
e quando a repetição não gera o aprimoramento do gesto? Os psicanalistas
franceses Isabelle Orrado
e Jean-Michel Vives,
no recém-lançado Autismo e
Mediação – publicado pela Aller Editora –, refletem sobre o que
significa a repetição na clínica do autismo e como utilizá-la a favor do
tratamento do sujeito.
Segundo
os autores, a priori
repete-se com o fim de aperfeiçoar um gesto. Mas, para tanto, o processo deve
ser modificado a cada vez que é realizado, o que não ocorre com os sujeitos
autistas, para os quais repetir é encerrar-se numa teia segura de sentidos e
significados e colocar-se fora do tumulto do mundo exterior, cujos estímulos
eles não conseguem suportar. Dessa forma, como adentrar o universo particular
de cada sujeito e utilizar seus signos próprios para mediar a comunicação deste
com o mundo?
Entre
os casos clínicos analisados, está o do pequeno Leo, menino autista de 4 anos
que realiza um movimento de vaivém ininterrupto com seu carrinho de brinquedo,
sem um objetivo além da própria repetição, comportamento este designado por
Freud como “repetição coercitiva”. Quais sentidos Leo confere a esse vaivém é o
enigma que os terapeutas tiveram que decifrar.
Eles
constataram, assim, “que as pessoas autistas intensificam os seus recursos às
estereotipias em momentos em que o mundo delas é refratado”, isto é, quando o
mundo do autista é perturbado, ele se encerra mais ainda em si mesmo e em suas
repetições. O trabalho do terapeuta é, portanto, interpretar o sentido da
repetição e utilizá-lo para mediar o contato entre o autista e seu
entorno.
Sobre
a editora: A Aller
Editora oferece em seu catálogo obras que se debruçam sobre os temas cruciais
da teoria e da prática clínica, desde seus fundamentos até as repercussões dos
debates atuais sobre o sujeito contemporâneo. Inspirada pelo verbo francês
aller, que significa “ir”, a casa editorial convida leitores, atuantes na área
de psicanálise ou não, a percorrer caminhos que cruzam fronteiras e a embarcar
nesse desafio que é ler como movimento.
Sobre
o autor:
Jean-Michel Vives é psicanalista e professor de Psicopatologia Clínica na
Universidade Côte d’Azur (França). É membro do movimento Insistance em Paris e
do Corpo Freudiano – RJ (Brasil). No Brasil, Vives publicou os livros A voz no divã, A voz na clínica psicanalítica e Variações psicanalíticas sobre a voz e a
pulsão invocante.
Sobre
a autora: Isabelle
Orrado pratica a psicanálise em Nice, é membra da Escola da Causa Freudiana e
da Associação Mundial de Psicanálise. Ensina Psicologia Clínica e Patológica na
Universidade Côte d’Azur.
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