Internacionalização: como Portugal está abrindo o mercado europeu à pequena indústria brasileira
Por Hidalgo Dal Colletto *
São Paulo, 20 de janeiro de 2021.
Portugal
está se mostrando um país disposto a apoiar a internacionalização da indústria
brasileira, em especial a desenvolvedora de tecnologia, abrindo as portas do
mercado europeu para novas operações. O projeto Portugal 2020, um acordo de
parceria adotado entre Portugal e a Comissão Europeia, que reúne a atuação dos
cinco Fundos Europeus Estruturais e de Investimento, iniciado em 2014 e que
terá seu ápice em meados de 2021, por exemplo, aceitou a candidatura de
indústrias brasileiras interessadas em levar tecnologia ao país europeu.
Para
que se entenda melhor o projeto Portugal 2020, em 2014, a Comissão Europeia
reuniu cinco fundos europeus estruturais e de investimento para promover o
crescimento de países europeus que mais necessitam de apoio para
desenvolvimento: Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, Fundo de Coesão,
Fundo Social Europeu, Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural e Fundo
Europeu dos Assuntos Marítimos e Pescas. Até o final do projeto (estimado para
meados de 2021, pelo atraso causado pela pandemia), Portugal receberá 25
bilhões de euros (o que, lá, são 25 mil milhões de euros). De forma mais
simples, o projeto consiste na estratégia de Portugal para a aplicação dos
fundos da União Europeia entre 2014 e 2020.
Para
concorrer à verba, os projetos dos pleiteantes ao financiamento precisam
obedecer determinados critérios, que demonstrem significativa especialização
científica, tecnológica e econômica e que possam gerar vantagens competitivas
ao país, recebendo notas que vão de zero a seis.
A
intenção do Portugal 2020 é gerar emprego e renda ao país europeu, de forma
inteligente, sustentável e inclusiva, atraindo inovação tecnológica e
promovendo a industrialização regional, especialmente nas regiões Norte,
Central, de Lisboa, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira.
E,
onde entram as pequenas indústrias brasileiras, neste contexto? Com um ‘quê’ de
ousadia e boa vontade para entender as necessidades mercadológicas e a forma
como os portugueses – e os europeus, de modo geral – fazem negócios, quaisquer
empresas brasileiras puderam se candidatar ao financiamento do projeto Portugal
2020, num dos 16 programas operacionais oferecidos. Podia-se, por exemplo,
pleitear financiamento para construção de unidades fabris ou investimento em
parceria com outras indústrias locais: o que Portugal precisa é de força de
trabalho, inovação tecnológica e indústrias dispostas a gerar empregos
localmente. E, uma vez que se conquiste espaço no país europeu, a comunidade
europeia se abre aos negócios com muito mais facilidade e entusiasmo.
Existem
outros atrativos locais aos empresários brasileiros. Aqui, estamos acostumados
com a eterna burocracia. Em Portugal, sua empresa é aberta, legalmente, em
cerca de uma hora – no Brasil, chega a demorar 180 dias. Os órgãos regulatórios
disponibilizam modelos de documentos aos quais o empreendedor se adapta, sem a
necessidade de criar seus próprios contratos. Em termos culturais, as relações
comerciais partem da confiança entre os envolvidos, sendo menos burocráticas e
mais ‘mãos à obra’. É importante que se saiba disso, porque o português é
literal: é preciso que se respeite sua cultura para que essa confiança não seja
maculada.
À
parte de todo esse cenário positivo, é preciso deixar claro que achismos não
têm espaço numa operação de internacionalização. Por isso, é necessário que as
pequenas indústrias brasileiras que desejam operar na Europa estudem
atentamente o mercado, identificando oportunidades e ameaças. Antes de
‘desejar’ produzir seu produto no mercado europeu, é fundamental que se entenda
a demanda que existe por ele, a logística envolvida em sua comercialização, os
impostos de cada país aplicados à atividade e tantos outros pormenores que um
industrial já conhece, obviamente, por operar no Brasil, mas que não pode
deduzir que seja exatamente igual na Europa. Por isso, muitos pleiteantes
recorreram a consultorias especializadas no Portugal 2020, que ajudaram a
formatar projetos com mais chance de aceitação.
Os
resultados das empresas beneficiadas pelo projeto Portugal 2020 estarão
disponíveis no primeiro semestre de 2021. O governo português não divulgou
estatísticas dos pleiteantes, mas é certo que outros pequenos empreendedores
brasileiros estão na expectativa de conseguir operar internacionalmente. Tomara
que todos consigam – e que representem bem o Brasil, com honestidade e
profissionalismo, no exterior.
*Hidalgo
Dal Colletto é CEO da Standard America, pequena indústria de placas eletrônicas
para as áreas de agricultura, automação industrial, automotiva, internet das
coisas, telecomunicações, segurança, iluminação, saúde, aeroespacial e
indústria naval, que está pleiteando financiamento do projeto Portugal 2020
para construção de uma fábrica no país europeu.
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