Produção associada simplifica acesso a
financiamento e gera mais valor para empresas
Encontrar
patrocinadores para o audiovisual não tem sido tarefa fácil para produtoras
independentes. E isso não é só uma implicação da pandemia do coronavírus. Em
2019, o governo federal anunciou um corte de 43% do fundo para o setor,
colocando barreiras para financiamento público e leis de incentivo. Ao mesmo
tempo, marcas de diversos portes e segmentos nunca estiveram tão preocupadas em
cruzar suas campanhas de marketing com entretenimento.
Diante
deste cenário, segundo André Sobral, fundador e produtor da Abrolhos Filmes, a
tendência é que produtoras busquem marcas, e vice-versa, para co-produção de
filmes e séries, passando a serem também exibidoras de conteúdo. O formato é
uma alternativa ao patrocínio e product
placement. “Ao invés de apenas colocar uma verba e esperar seu nome
aparecer nos créditos, as empresas participam mais ativamente das produções e
envolvem-se no roteiro. O resultado é a geração de valor muito mais
significativo para seus produtos e audiência”, afirma.
Durante
a produção do documentário “Chico Rei Entre Nós” (2020) - sobre um rei congolês
que comprou sua própria liberdade e de seus súditos durante o ciclo do ouro em
Minas Gerais, tornando-se símbolo de resistência - a Abrolhos teve como
produtora associada a loja virtual de camisetas Chico Rei. Sediada em Juiz de
Fora (MG), a marca homenageia o herói africano em seu nome e adota o slogan
“Camisetas mudam vidas”, acumulando diversas ações sociais em um bairro
periférico da cidade.
Na
parceira, que aconteceu por acaso, a Abrolhos adaptou o curta “Chico Rei Em
Movimento” (2020), vídeo-dança feito em paralelo ao documentário, a fim de
produzir uma websérie de teor didático para a marca mineira. “Caiu como uma
luva, já que essa temática está intrinsecamente ligada ao nosso DNA de busca
das raízes históricas de Minas Gerais e porque sempre promovemos alguma ação no
Mês da Consciência Negra”, declara Vitor Vizeu, Diretor de Marketing do
e-commerce.
A
websérie foi exibida nas redes sociais da marca e gerou, nas palavras de Vizeu,
“resultados fantásticos no sentido tangível e intangível”. Foram quase 45 mil
de alcance, mais de 11 mil views e mais 1 mil interações, além do aumento do
engajamento da audiência. O envolvimento da Chico Rei não parou nos resultados
digitais.
A
loja exibiu o documentário para presos da Penitenciária Ariosvaldo de Campos
Pires, em Juiz de Fora (MG), onde mantém um projeto social. “Eles não arredaram
o pé antes dos créditos e ficaram muito comovidos com a história, que é a de
muitos deles como população negra oprimida. Gerou também uma discussão em torno
de outras questões citadas no filme, como as ocupações do MTST”, conta
Vizeu.
O
Diretor de Marketing reforça que a co-produção do longa gerou um valor
relevante para a Chico Rei e concorda com Sobral, que esta é uma tendência
interessante. “É um caminho vantajoso para as produtoras independentes, que têm
mais opções de acesso a incentivos, e também gera benefícios para nós, que
tivemos muitas trocas com a equipe da Abrolhos, criamos um relacionamento com
os entrevistados do documentário e entregamos um conteúdo de qualidade aos
consumidores”.
Ainda,
para Sobral, a co-produção funciona como uma estratégia de marketing de longo
prazo. “Para além da websérie, a Chico Rei associa seu nome a um
documentário que foi premiado [Melhor
Documentário Brasileiro e Menção Honrosa do Júri da 44ª Mostra Internacional de
Cinema de São Paulo] e, conforme projetamos, estará presente em
outros festivais nacionais e internacionais, salas de cinema e serviços de
streaming em 2021”, declara.
O
e-commerce também produziu camisetas com as temáticas do longa-metragem e uma
parcela das vendas será revertida para a Associação Amigos do Rei (Amirei), que
organiza a festa do Reinado, a celebração da memória de Chico Rei, anualmente
em Ouro Preto (MG).
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