Pandemia cancela maior feira de ciências do Brasil


Pela primeira vez em 18 anos, Febrace será realizada a distância. Trabalhos serão apresentados e julgados de forma on-line entre os dias 23 de março e 3 de abril
Promovida pela Universidade de São Paulo (USP), a 18ª edição da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia 2020) foi cancelada pela primeira vez em 18 anos e os trabalhos serão julgados a distância. Entre os finalistas da maior feira científica pré-universitária do Brasil estão dois projetos paranaenses. A democratização do acesso ao absorvente por mulheres de baixa renda e a substituição de agrotóxicos por composto orgânico são os trabalhos que serão apresentados e julgados de forma on-line entre os dias 23 de março e 3 de abril.
O evento é considerado um “vestibular das feiras científicas pré-universitárias”, segundo explica a coordenadora de Pesquisa Científica e Empreendedorismo do Colégio Positivo, Irinéia Inês Scota. Para a 18ª edição da feira, 66 mil estudantes desenvolveram trabalhos de pesquisa científica e tecnológica, que foram submetidos diretamente ou se destacaram em uma das 123 feiras regionais promovidas pelas instituições afiliadas. Toda a crescente agenda de eventos valorizando a produção científica pré-universitária demonstra o impacto positivo de oportunizar o contato com a pesquisa aos estudantes desde os primeiros anos do ensino, a fim de criar um ambiente favorável à inovação. “Quem participa e toma gosto pela pesquisa no Ensino Básico se empodera, rompe os limites da sala de aula para interferir no mundo. Aprende muito cedo a lidar com dados, a trabalhar com metodologia, a analisar resultados e a persistir com o estudo quando algo dá errado até chegar a uma conclusão. Isso muda a mentalidade e faz toda diferença na vida”, defende a coordenadora.
Distribuição de itens para saúde íntima via unidades de saúde e presídios
Os três anos de Ensino Médio no Colégio Positivo Internacional serviram para que o estudante João Henrique Hofmeister, hoje calouro do curso de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, aprimorasse seu projeto de Distribuição de itens para a saúde íntima feminina nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e de presídios femininos no município de Curitiba. A pesquisa na área de Ciências Sociais, segundo ele, veio do interesse por olhar para todos os lados da sociedade, em especial, “aqueles sem condições mínimas de vida no mundo”. “Lembro bem de ver a propaganda do governo durante o carnaval sobre distribuição gratuita de preservativos e foi aí que surgiu a ideia de desenvolver o projeto, inspirado nessa distribuição já existente”, afirma.
Ele conta que, ao pesquisar sobre o tema, se deparou com o fato de as pessoas nunca terem cogitado esse tipo de distribuição simplesmente por ignorarem a diferença que isso faz na vida de uma mulher. “Diversas pessoas nem sequer imaginam como é a situação vivida pela mulher que não tem condições de bancar itens básicos de higiene. Meninas em idade escolar perdem dias de aula por conta disso. E as improvisações geram diversas infecções e doenças que custam mais caro aos governos do que distribuir o absorvente”, explica. Tais dados ele comprovou na pesquisa, com a orientação do professor Eduardo Berkenbrock Lopes. 
Também foi na insistência de melhorar o projeto que João chegou ao modelo de absorvente reutilizável para a viabilidade financeira da sua solução. “Hoje em dia, no mercado, está na faixa dos R$ 30 reais, porém, como pode ser usado por até 5 anos, torna o produto bem mais barato do que os descartáveis”, explica. A implementação da produção desses absorventes nos presídios também passa pelos caminhos apontados na pesquisa de João. Para ele, chegar à Febrace pode servir como meio de “abrir portas para uma mudança de pensamento da população sobre esse tema e também uma mudança na atual política social adotada pelo governo brasileiro”.
AgroAtóxico
As estudantes Sarah Bernard Guttman e Luiza Fontes Bonardi começaram em 2018, quando estavam no 9º ano do Ensino Fundamental, a pesquisa de um produto orgânico que fosse capaz de substituir os agrotóxicos. “Nossa motivação veio de um cartaz alertando para o fato do Brasil ser o país que mais consome agrotóxicos no mundo. Na hora, veio a ideia de fazer algo para mudar isso”, recorda Sarah, hoje estudante do 2º ano do Ensino Médio. Dentre as preocupações das estudantes envolvendo o meio ambiente e a saúde, elas também levaram em conta o prejuízo para os agricultores que têm contato direto com todos os pesticidas.
Até chegar ao AgroAtóxico, a orientadora Suellyn Homan conta que houve uma série de pesquisas com plantas medicinais que desempenhassem o mesmo papel de um agrotóxico. “Para nossa surpresa, nos testes iniciais, o produto foi tão bom que estimulou o crescimento das plantas. Mas decidimos mudar a formulação, pois utilizamos própolis, um ingrediente que acabava encarecendo o produto”, revela.
Segundo Sarah, o AgroAtóxico consegue suprir o uso de agrotóxicos em pequenas e médias propriedades, mas ainda falta testar em larga escala. “Com os resultados que temos hoje, indicamos para pequenas plantações e hortas caseiras”, detalha. O objetivo da equipe é patentear a fórmula para entregar a solução para cooperativas e agricultores familiares. “Queremos distribuir esse conhecimento. Apresentar o projeto na Febrace vai ajudar a conseguir uma bolsa para darmos continuidade à pesquisa”, revela Sarah. 
Mais informações no site febrace.org.br

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