O clássico
ensaio, que tem tradução da escritora Adriana Lisboa, é uma reflexão poderosa e
atemporal sobre as barreiras enfrentadas pelas mulheres no mundo profissional e
intelectual
A Editora
Maralto apresenta uma edição singular do ensaio Profissões para mulheres, de Virginia Woolf,
enriquecida pelas ilustrações da premiada artista Marilda Castanha e com
tradução de Adriana Lisboa. Publicado postumamente, o texto lido por Woolf em
1931 durante uma palestra é uma reflexão poderosa e atemporal sobre as
barreiras enfrentadas pelas mulheres no mundo profissional e intelectual, bem
como a necessidade de desafiar o ideal opressor da feminilidade consagrada no Anjo do Lar, expressão
cunhada por Coventry Patmore em seu poema The
Angel in the House.
Para ilustrar
o texto, Marilda Castanha fez uma profunda imersão na obra e na vida de
Virginia Woolf. Suas pesquisas abrangeram desde citações do próprio ensaio –
incluindo autoras mencionadas por Woolf – até elementos biográficos e culturais
que pudessem ampliar o entendimento visual e simbólico da narrativa. Marilda
explorou fotos de uma das casas onde Woolf viveu, seu estilo de vestir e as
pessoas com quem convivia, registrando até mesmo seus gostos literários.
“Foi
especialmente inspirador descobrir que Woolf amava Alice no País das Maravilhas e que, certa vez,
em um baile à fantasia, vestiu-se como a Lebre de Março”, explica Marilda.
“Essa descoberta resultou em uma das imagens do livro. A leitura de Orlando – cuja personagem
desafia o tempo, vivendo trezentos anos e passando pela experiência de mudar de
gênero, também teve um impacto significativo, inclusive para minha decisão de
usar imagens de relógios”.
Todas as
referências coletadas por Marilda a orientaram na escolha de elementos que
compõem as ilustrações, como pedras, xícaras, gaiolas, sapatos, etc., todos
cuidadosamente integrados à técnica mista empregada por ela. Utilizando
colagens, tinta acrílica, aquarela, gesso, estêncil e lápis, a artista criou
uma paleta restrita e simbólica: cinzas, azuis-escuros, preto e sépia, com
toques de ocre e vermelho para acentuar elementos específicos.
Entre as
representações mais marcantes está a figura surreal de uma mulher com rosto de
relógio, segurando um guarda-chuva para proteger um peixe – uma metáfora para a
constante necessidade de inventar formas de resistência e sobrevivência. Rostos
masculinos vendados em grupos de três, como uma muralha, aparecem como outra
maneira de ilustrar a opressão, dominação e sujeição histórica a que as
mulheres foram (e infelizmente ainda são) submetidas.
“Traduzir
Virginia Woolf é um desafio, porque seu texto é tão sofisticado quanto
preciso”, reflete a escritora e tradutora Adriana Lisboa. “Como mulher, é
comovente encontrar ali um texto que inclui, que não se vale da autoridade da
oradora que foi convidada a dar uma palestra sobre o papel da mulher na
sociedade, mas que propõe que as próprias mulheres tenham curiosidade,
criatividade e ousadia para fazer a si mesmas essa pergunta. Seria fácil, para
a autora, abraçar esse lugar de poder, o que em suma não questionaria nenhuma
estrutura, mas o que ela faz é se irmanar às outras mulheres, suas ouvintes e
hoje leitoras, desbancando assim do modo mais cabal a hierarquização do mundo
proposta e sustentada pela ordem patriarcal”.
Virginia
Woolf escreveu sobre o árduo processo de libertar-se do “Anjo do Lar”, ao mesmo
tempo que reconhecia como esse ideal vitoriano estava profundamente arraigado
na mente das mulheres e na cultura de sua época. Apesar de escrito há quase um
século, Profissões para
mulheres permanece assustadoramente atual. O ensaio é uma reflexão
não apenas sobre as desigualdades enfrentadas pelas mulheres – incluindo
questões como misoginia e disparidade salarial –, mas também sobre o poder de
quem se posiciona como detentor do saber e impõe sua visão ao outro.
“É triste
concluir que, sim, ainda andamos, esbarramos e tropeçamos em ‘anjos do lar’”,
explica a ilustradora. “Fomos, somos cercadas por avós, mães e tias, muito
abnegadas, que encarnavam o anjo do lar. Mas, ao mesmo tempo, em algum momento
de suas vidas, essas mulheres também reagiram, e deram testemunhos de extrema
coragem. Acho que as últimas frases do ensaio ‘eu ficaria aqui de bom grado
para discutir essas perguntas e respostas, mas não hoje. Meu tempo acabou, e
devo parar por aqui’ finalizam de uma forma genial o livro, pois ela afirma que
o tempo – dela e de certa forma de cada uma de nós (de pensar, de questionar,
de refletir) – uma hora termina. Mas virão outras. Outras mulheres que
continuarão essa tarefa de questionar, criticar e enfrentar todos esses
fantasmas. Uma forma, também, de afirmar que há sempre esperança!”, finaliza
Marilda Castanha.
“No caso de Profissões para mulheres,
seria interessante ressaltar ainda que a estratégia retórica de Virginia Woolf
é, de certa maneira, abdicar de seu lugar de poder como oradora e entregar a
autoridade sobre o assunto em questão a suas ouvintes – aquelas mulheres que
darão a resposta final às próprias perguntas. O que ela faz, em última
instância, é questionar o lugar da mulher na sociedade moderna”, conclui
Adriana Lisboa.
Essa edição,
com estrutura luxuosa e em capa dura, com texto e ilustrações que se
complementam de forma visceral, é mais do que um livro: é um convite à reflexão
e ao debate sobre os desafios que as mulheres ainda enfrentam no século XXI. A
obra já está disponível nas livrarias parceiras e faz parte do Programa de
Formação Leitora Maralto, uma iniciativa voltada para escolas de todo o país.
Sobre a autora
VIRGINIA
WOOLF (1882-1941) é considerada uma das mais importantes escritoras do século
XX, reconhecida tanto por sua ficção inovadora quanto por sua vasta produção
ensaística. Nascida em Londres, enfrentou uma adolescência marcada por perdas
familiares, incluindo a morte de sua mãe, Julia, e de sua meia-irmã, Stella.
Educada em casa, Virginia teve acesso à rica biblioteca de seu pai, o crítico
Leslie Stephen, o que influenciou profundamente sua formação literária.
Após a morte
de seu pai, em 1904, mudou-se para o centro de Londres com seus irmãos e se
integrou ao grupo Bloomsbury, formado por artistas e intelectuais. Em 1912,
casou-se com Leonard Woolf, com quem fundou a Hogarth Press, editora
responsável pela publicação de autores como T.S. Eliot e E.M. Forster, além das
primeiras traduções de Freud para o inglês.
Woolf
publicou romances emblemáticos como Mrs.
Dalloway (1925), Ao
farol (1927) e Orlando
(1928), explorando técnicas narrativas inovadoras e temas como identidade,
memória e a experiência feminina. Sua produção ensaística também foi notável,
com obras como Um teto todo
seu (1929) e Três
guinéus (1938), em que reflete sobre literatura, história e os
desafios enfrentados pelas mulheres.
Ao longo de sua vida, Woolf buscou novas formas de relacionar a vida íntima às forças coletivas da sociedade. Apesar de sua trajetória literária brilhante, enfrentou problemas de saúde mental e faleceu em 1941, aos 59 anos. Suas obras permanecem relevantes, inspirando leitores e estudiosos em todo o mundo.
Sobre
a ilustradora
MARILDA
CASTANHA nasceu em Belo Horizonte e cresceu desenhando. Cursou Belas Artes na
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde atualmente desenvolve
pesquisa de mestrado sobre livros ilustrados. Em 1992, lançou seu primeiro
livro ilustrado, Pula, gato!,
que venceu o prêmio Encouragement do Concurso Noma, no Japão, e foi indicado
pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para a Lista de
Honra do IBBY (International Board on Books for Young People). No Brasil, entre
outros prêmios, recebeu, por duas vezes, o Jabuti de Ilustração, com os livros Pindorama: terra das palmeiras
e Mil e uma estrelas.
Em 2017, com o livro Sem fim,
publicado pela Maralto, Marilda foi premiada na categoria Purple Island do
prêmio Nami, na Coreia do Sul. Hoje vive e trabalha na sua
"casa-ateliê", em Santa Luzia, Minas Gerais.
Sobre
a tradutora
ADRIANA
LISBOA nasceu no Rio de Janeiro em 1970. Ficcionista, poeta, ensaísta e
tradutora, publicou, entre outros livros: os romances Sinfonia em branco (Prêmio
José Saramago), Azul corvo (um
dos livros do ano do jornal inglês The Independent), Hanói (um dos livros do ano
de O Globo) e Os grandes
carnívoros; os poemas de
Pequena música (menção honrosa no Prêmio Casa de las Américas) e O vivo; o ensaio Todo o tempo que existe (um
dos livros do ano da Folha de S.Paulo). Também é autora de obras para crianças e
jovens, entre as quais Língua
de trapos (prêmio de Autor Revelação da FNLIJ) e O coração às vezes para de bater
(selo Cátedra 10 Unesco, categoria Distinção), esta publicada pela Maralto em
2022. Seus livros foram traduzidos em mais de vinte países. É tradutora da
poesia de Margaret Atwood e Anne Carson, e da prosa de Emily Brontë, Charlotte
Brontë, Marguerite Duras e Maurice Blanchot, entre outros autores.
Profissões
para mulheres
Autora:
Virginia Woolf
Ilustrações:
Marilda Castanha
Tradução:
Adriana Lisboa
Editora:
Maralto Edições
Preço: R$
79,90
Páginas: 92
Vendas: https://loja.maralto.com.br
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