A
obra, intitulada "Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô", propõe ao leitor
um mergulho nas complexidades do orixá e do matriarcado nas tradições
afro-brasileiras
Explorando as
profundezas e representações das religiões afro-brasileiras, em seu novo livro,
a jornalista Claudia
Alexandre lança luz sobre um aspecto pouco explorado da cultura
religiosa: o orixá Exu. Em "Exu-Mulher
e o Matriarcado Nagô", a também especialista em Ciência da
Religião apresenta um debate inovador, questionando as representações femininas
de Exu deixadas de lado ao chegarem ao Brasil, sendo essa uma das tentativas de
demonizar as tradições de matrizes africanas.
O
livro, publicado pela Editora Aruanda/Fundamentos de Axé em 2023, mergulha na
dualidade de Exu, figura complexa que, na iorubalândia, é cultuada tanto em sua
forma masculina quanto feminina. No entanto, essa dualidade não se popularizou
no Brasil, levando a uma masculinização e demonização do orixá ao longo da
história. Ao abordar sobre demonização, a leitura também aponta o racismo
religioso como uma das opressões sociais que atravessa a ambiguidade do orixá
Exu, principalmente quando reivindica o lado feminino do orixá. Algo pouco
explorado na literatura sobre a formação dos candomblés de tradição
yorubá-nagô, que cultuam Exu-Legba-Legbara-Elegbara.
Durante sua pesquisa, Claudia Alexandre
visitou os terreiros matriarcais de Salvador, onde mulheres lideram, e
descobriu tensões em relação a Exu, exigindo negociações sutis para preservar
as práticas ancestrais diante da dominação patriarcal. O livro também destaca a
importância das mulheres negras na resistência e preservação das tradições
afro-brasileiras, revelando fragmentos de violências e resistências presentes
na diáspora negra.
“Sabe-se que no início havia
resistência, por parte de antigas lideranças, em iniciar ‘filhos’ e ‘“filhas”’
deste orixá, ocorrendo muitos casos de troca pelo orixá Ogum, o grande
guerreiro dos metais. As justificativas para tal barganha acabavam por reforçar
o imaginário demoníaco imposto à divindade. Esses constrangimentos e tensões
podem ter levado ao ocultamento e o silenciamento sobre qualquer assunto
referente a existência do feminino de Exu, mas acima de tudo atestam outras
consequências das opressões da sociedade hegemônica contra práticas
negro-africanas no período escravista", disse Claudia.
Segundo
a autora, a obra é essencial para quem deseja compreender as raízes e as
tensões de gênero nas tradições afro-brasileiras. Por via de uma narrativa
envolvente e informativa, o livro desafia conceitos estabelecidos e amplia o
conhecimento sobre esse aspecto fundamental da cultura brasileira.
Claudia
Alexandre também possui uma vasta produção sobre sambas e escolas de samba de
São Paulo e é autora do livro-dissertação “Orixás no Terreiro Sagrado do Samba:
Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai”, também pela Editora Aruanda/Fundamentos de
Axé.
Exu
Mulher e o Matriarcado Nagô
Claudia Alexandre; Editora Aruanda
464 páginas; R$55,90
Sobre Claudia Alexandre
Mulher
negra, paulistana, sambista e mãe da Rubiah. Claudia Alexandre é
jornalista, comunicadora de Rádio e TV. Doutora, Mestre e Especialista em
Ciência da Religião (PUC-SP) e atua com interesse na questão de raça, gênero,
classe e religiosidades de matrizes africanas, em diálogo com sambas e escolas
de samba, onde tem importante atuação. É sacerdotisa umbandista e iniciada com
cargo de Ebomí de Oxum, no candomblé da nação nagô-vodunsi, na cidade de
Cachoeira no Reconcavo da Bahia
Comentários
Postar um comentário