"O Brasil está à frente da Europa na área de energia", diz professor da USP e ex-ministro José Goldemberg
Para o especialista, que também foi secretário
do Meio Ambiente, o principal desafio do país é não retroceder. Confira 5
oportunidades elencadas por Goldemberg para o Brasil nos próximos anos
Tendo
em vista o cenário geopolítico preocupante na Europa, onde a guerra entre
Rússia e Ucrânia desencadeou uma crise de petróleo e gás em outros países do
continente, José Goldemberg, ex-ministro da Educação e professor do Instituto
de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), afirma que essa não é
uma questão que afete muito o Brasil, já que o país depende pouco de gás como
fonte energética, é autossuficiente - com 50% da matriz energética renovável
(hidrelétrica, eólica e solar) – e lidera a geração de energia limpa entre os
países do BRICS, segundo o Ministério de Minas e Energia.
Para
o especialista, as incertezas com o fornecimento de petróleo e gás e a
flutuação dos preços estão levando os países a um novo ‘nacionalismo
energético’ na tentativa de reduzir sua dependência das importações. “É nesse
contexto que as energias renováveis contribuem, tendência da qual o Brasil está
à frente da Europa. Uma das soluções para mantermos o avanço no país é expandir
as fontes renováveis como hidrelétricas, eólicas e solares, além de exportar
produtos da biomassa”, finaliza Goldemberg.
Hoje
Goldemberg atua como curador de conteúdo e consultor da +A Educação, maior edtech para o ensino
superior do país, e assina o prefácio de “O Novo Mapa”, novo livro de Daniel
Yergin, o maior especialista sobre o tema no mundo, que terá sua tradução
lançada no Brasil no início de fevereiro, pela Editora Bookman, que integra a
+A Educação. O ex-ministro, que foi citado como precursor do etanol no Brasil
como alternativa à crise do petróleo da década de 1970 no livro “O Petróleo”,
de Yergin, explica que trazer o tema para discussões no momento é crucial para
que não haja retrocesso no país, já que existem grupos econômicos nacionais
interessados em expandir o gás como fonte de energia, o que aumentaria a
dependência do exterior. “Yergin foi quem deixou claro que a década de 1970 não
seria o fim do petróleo. Nessa nova obra, o especialista aborda efeitos da
guerra da Ucrânia e as energias alternativas, uma contribuição essencial para a
adoção de políticas energéticas corretas”.
Confira
5 tendências elencadas por Goldemberg para o Brasil nos próximos anos:
1
– Investir em fontes solares e eólicas é primordial: Tendo em vista que as fontes de
energias renováveis representarão 60% até 2050 no mundo, segundo relatório da
BP sobre perspectiva energética, e terão capacidade de abastecer 80% da demanda
mundial, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), investir nessas
matrizes deve ser prioridade. A desvantagem das fontes solares e eólicas é
serem intermitentes (não havendo sol à noite e vento o tempo inteiro, por
exemplo). Por esse motivo, é preciso que elas sejam complementadas com outra
fonte de energia renovável: as hidrelétricas, o melhor dos reservatórios de
energia, muito superior ao uso de baterias.
2
– Expansão das hidrelétricas:
a energia vinda desta fonte continuará a dominar a geração de eletricidade no
Brasil, com o equivalente a 58% da matriz do país até 2030, segundo último
relatório GolbalData, de 2021. Além de ser uma fonte viável e renovável de
energia, tem potencial de expansão no Brasil se os cuidados com o meio ambiente
forem tomados, evitando problemas como em Belo Monte.
3
– Inversão da lógica do petróleo:
o país não utiliza petróleo, gás e carvão para gerar eletricidade como os
países da Europa, mas um dos principais problemas se dá em relação ao uso do
petróleo como matéria-prima para a produção de óleo diesel e gasolina. Apesar
ser autossuficiente na produção de petróleo, o país não investe como deveria em
refinarias, o que gera a necessidade de exportar o produto bruto e importar a
gasolina, deixando os preços dependentes do dólar. Com mais refinarias, o país
teria autonomia no controle dos preços, o que impactaria drasticamente nos
valores dos produtos que dependem do transporte rodoviário, incluindo
alimentos.
4
– Exportação de etanol:
como fonte de combustível renovável, o etanol continua sendo uma boa opção para
substituir a gasolina. Como sua matéria-prima é a cana-de-açúcar, que não pode
ser cultivada em muitos lugares do mundo, seria uma boa oportunidade de
exportação para o Brasil.
5 – Implementação eficaz de ferrovias: como somos totalmente dependentes do petróleo para o transporte, via o uso de automóveis e caminhões, seria importante que houvesse um plano de implementação e expansão de ferrovias no país para diminuir o consumo de gasolina e diesel para baratear o custo de transporte de pessoas e mercadorias, sobretudo “commodities” como soja.
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