Por Joana Garoupa
Não faz sentido contratar pessoas inteligentes e, depois,
dizer a elas o que devem ou não fazer. Essa elaboração, em livre tradução, é de
Steve Jobs; mas, a despeito de todo o sucesso e prestígio dele, essa frase não
ressoa entre muitos dos líderes empresariais do nosso tempo. Em Portugal, eu
tenho pedido inputs
sobre temas do universo de mercado de trabalho e de gestão de talentos para
desenvolver artigos; e, sempre que toco nessa questão, um interlocutor fala
sobre a ausência do sentimento de valorização dos profissionais. Minha caixa de
mensagens no LinkedIn está repleta de relatos com os contextos mais variados
que comprovam a tendência de contratar especialistas e não os deixar exercerem,
livremente, a expertise que possuem.
Uma
pessoa passa anos estudando determinada disciplina para se tornar um
especialista, depois dedica mais anos para aplicar o que aprendeu em diversas
empresas, organizações e diversos escritórios – ultrapassando desafios e
gerindo políticas empresariais. Em seguida, investe horas em formações e
conferências para se atualizar e continuar a ser relevante dentro do contexto
profissional. E, tudo isso, muitas vezes, é colocado de lado pelos líderes. Um
pensamento comum é: “Até que me parece interessante, mas ninguém usa isso aqui.
É melhor procurar outra solução”.
Acontece
que, algumas vezes, vemos a opinião pessoal (muitas vezes infundada)
sobrepor-se a todo o conhecimento adquirido ao longo de anos de experiências.
E, isso, sem qualquer cerimônia! Confesso que, por meu background ser na área de
Marketing, fiquei arrepiada quando esse assunto aflorou. A minha experiência
diz que de futebol e de comunicação/marketing todas as pessoas acham que
entendem; todos têm uma opinião “doutoral” sobre o assunto.
O
fato de o cargo de Chief
Marketing Officer, nos últimos anos, ter mudado de semântica várias
vezes, não ajuda a tornar tangível a importância da disciplina. Muitas
organizações adotaram novas denominações para a função – Chief Growth Officer,
Chief Customer Officer, Chief Purpose Officer, Chief Commercial Officer, Chief
Brand Officer –, demonstrando a falta de confiança no verdadeiro sentido do
Marketing. Ou seja, ao mudar o nome do cargo corre-se o risco de retirar as
competências de Marketing em posição de liderança, exatamente em um momento
crucial para os negócios.
O
que parece ser um problema da área de Marketing é, na verdade, uma questão de
respeito a várias outras áreas das empresas. Ou seja, a sensação de desrespeito
pelo conhecimento adquirido é transversal a várias funções e vários cargos. As
pessoas estão
insatisfeitas, nem sempre com o trabalho ou com a empresa em si, mas por se
sentirem pouco respeitadas ou valorizadas. Outro aspecto é a incompatibilidade
com os valores e as visões dos chefes. Sinto que, tal como em um carrossel,
andamos em círculo, chegando sempre ao mesmo local: a questão da liderança de
pessoas (ou a falta dela).
Em uma perspectiva propositiva, gostaria
de lembrar aos líderes que os profissionais precisam se sentir admirados ou
percebidos. Sem uma dessas duas variáveis pelo menos, nunca essa pessoa poderá
ser realizada no que faz. E como conseguir isso? A minha regra pessoal é, todos
os dias, tentar ser uma líder melhor; fazer melhor, sem dramas. Se hoje não fui
perfeito, amanhã tentarei novamente. Como dicas, elenco quatro atitudes
básicas.
#1
| Ouvir o outro,
em vez de darmos logo a nossa opinião.
#2
| Em vez de
apontar o erro rapidamente e dizer como é que se deve fazer, procuro levantar
questões, dando espaço para que o profissional possa explicar as suas escolhas.
Dessa forma, busco fazer com que seja ele, por meio das minhas perguntas e da
reflexão dele, a chegar à conclusão a que se pretende.
#3
| Pensar sempre
que aquele profissional faz o que acha que é melhor, por alguma razão.
#4
| Dar o feedback não sobre a pessoa
em si, mas sobre um determinado comportamento ou trabalho. É muito diferente
dizer “o que é que se passa com você?” de “você não consegue cumprir prazos nos
últimos tempos; a sua performance não está no mesmo nível costumeiro”. Embora a
mensagem seja a mesma, ela muda por conta da forma como o profissional vai
ouvir o que é dito.
Gerir
pessoas dá um enorme trabalho, mas é a base de tudo! Isso porque não se faz
nada sem as pessoas certas ao nosso lado. E para serem as certas, temos que
deixá-las ser elas mesmas. Ou seja, devemos garantir que esse profissional
tenha espaço para aplicar seus conhecimentos e, com isso, estaremos valorizando
a experiência e competência dele.
|
Joana Garoupa é
autora do livro Manual de
Sobrevivência para o Mundo Corporativo, lançado no Brasil pela
Primavera Editorial. Aos 47 anos, a portuguesa de alma alentejana – mais
propriamente de Estremoz – é apaixonada por marcas e começou o percurso
profissional em agências de publicidade e de relações-públicas, tais como a
McCann, Publicis ou DDB. Depois de uma curta incursão pelo mundo das
telecomunicações (SonaeCom), abraçou o desafio de liderar a área de Marketing e
Comunicação da Siemens, onde teve a oportunidade de trabalhar no contexto de
uma organização internacional. Na Galp, coordenou a equipe responsável por
definir a estratégia da identidade da marca e o portfólio institucional. Em
2020, foi nomeada Marketeer do
ano pelo Grupo Multipublicações, passando a integrar o Top 5 dos Marketeers mais Admirados em Portugal
(Scopen). Mentora no programa Professional
Women Network, Joana tem participado de iniciativas que promovem a
discussão da igualdade de gênero. Descobriu, recentemente, que gosta de correr
e ainda não parou. https://www.linkedin.com/in/garoupa/
SOBRE
A EDITORA | A
Primavera Editorial é uma editora que busca apresentar obras inteligentes,
instigantes e acalentadoras para a mulher que busca emancipação social e poder
sobre suas escolhas. www.primaveraeditorial.com
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