*Marilusa Rossari
Neste
mês de março o mundo completa 365 dias do anúncio da pandemia da covid-19,
realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde aquele dia 11 de março
mudamos rotinas, nos distanciamos socialmente e conhecemos novos recursos e
tecnologias em todos os setores. Mas é na educação e no impacto das escolas
fechadas, que esses meses transformaram a rotina de mais de 47,8 milhões
de alunos brasileiros.
A
adaptação da rotina familiar passou pelo tempo em frente às telas, livros ou
atividades sugeridas. Mas qual será o verdadeiro impacto desses doze meses na
educação das crianças e adolescentes?
A
pandemia atingiu todas as escolas, contudo nos contextos mais
empobrecidos é que os estudantes foram mais prejudicados. Segundo a
pesquisa Pnad Contínua 2019, mais de 20% dos brasileiros entre 14 e 29 anos
estão fora da escola. Isso representa mais de 10 milhões de crianças e
adolescentes que têm seus objetivos interrompidos. Entre as causas da evasão
escolar estão a necessidade de trabalhar, desinteresse pelas aulas e gravidez
na adolescência. Cerca de 70% desse grupo é formado por jovens negros ou
pardos. É certo que a pandemia acentuará esse número, sobretudo nas áreas mais
vulneráveis, onde a covid-19 impactou trabalhos formais e informais, diminuindo
ainda mais rendas e aumentando as desigualdades sociais.
Mesmo
diante de tantos desafios, é preciso lembrar que, diariamente, centenas de
professores, educadores e coordenadores pensam em estratégias e desenvolvem
iniciativas, projetos e intensificam o seu dom levando educação para todos, dos
locais mais acessíveis aos mais distantes. Durante esse ano, pensar em um
aluno, não era somente pensar naquela carga horária da sala de aula, mas
significava conversar por meio de um celular ou uma tela, era entender,
compreender e oferecer apoio socioemocional para os estudantes e todos os seus
familiares. Nunca antes a escuta foi tão necessária, e fortalecer os vínculos é
essencial para que todos possam aprender juntos.
O
interesse pelo bem estar da comunidade escolar, as necessidades diárias, a
entrega de atividades impressas, o plantão de dúvidas via celular ou redes
sociais foram atividades que proporcionaram que conhecêssemos os alunos
durante esse ano. No Marista Escolas Sociais, as 20 unidades atendem
gratuitamente mais de 7 mil crianças e adolescentes dentro das áreas
vulneráveis de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. As barreiras e muros foram
todas ainda mais quebradas, foi necessário fornecer uma ação conjunta com a
distribuição de materiais, desde lápis e giz de cera para educação
infantil,livros em sacolas literárias que serviram de aprendizado para o
estudante e suas famílias, assim como campanhas de doação de alimentos e
higiene pessoal. Os perfis nas redes sociais das escolas se transformaram em
ferramentas pedagógicas, junto com os aplicativos de mensagem de celular que
permitiram que os estudantes ouvissem conteúdos por meio de áudios e podcasts.
Em uma realidade em que cerca de 40% dos alunos não têm acesso a internet banda
larga, esses últimos 365 dias serão para sempre lembrados como o período em que
a educação precisou chegar até onde a internet não chega.
*Marilusa
Rossari é doutora em educação e gerente da área de cuidado integral do Marista
Escolas Sociais.
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