Livro “Reservas Naturais” relata a iniciativa pioneira que alia o combate às mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade a ganhos sociais e econômicos
Neste
mês, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) lança
um livro que conta sobre o seu trabalho pioneiro na restauração e conservação
do bioma Mata Atlântica: “Reservas Naturais: 20 anos de história”. A
obra apresenta informações sobre o processo de instituição das Reservas
Naturais, as técnicas utilizadas e aprimoradas, os relacionamentos e parcerias
construídos, as ações de educação para conservação da natureza, além dos
resultados no desenvolvimento social e econômico de moradores locais.
Juntas,
as Reservas Naturais – das Águas, Papagaio-de-cara-roxa e Guaricica,
localizadas em Antonina e Guaraqueçaba, litoral norte do Paraná – mantêm
preservados cerca de 19 mil hectares de Mata Atlântica. “O processo de
restauração ecológica demandou diferentes técnicas de plantio, com espécies
nativas, devido ao estágio de degradação dessas áreas, com solos muito
empobrecidos e alterados”, explica Reginaldo Ferreira, coordenador das Reservas
Naturais. “Um dos maiores ganhos das atividades de restauração ecológica desses
locais, foi o estabelecimento de uma nova cultura de desenvolvimento para a
região”, afirma.
Entre
as técnicas de restauração utilizadas, estão o plantio mecanizado, plantio
manual e regeneração natural. Todo o processo se inicia com a identificação de
plantas matrizes, coleta de sementes e a produção de mudas nos viveiros. Um dos
grandes destaques deste processo foi a estruturação de viveiros como centros de
tecnologia. Nos últimos 20 anos, foram produzidas mais de 700 mil mudas de
espécies nativas da Mata Atlântica. A capacidade anual da Reserva Natural das
Águas – principal viveiro estabelecido – aumentou de 10 mil para 180 mil
unidades no início da década de 2000, resultado da qualificação e aprimoramento
da gestão e manejo. O conhecimento destas técnicas hoje permite a SPVS
implementar ações de restauração de outras áreas e contribuir, em parceria, com
a preservação de outras regiões.
Todo
este trabalho teve início com o estabelecimento de parcerias da SPVS com a
organização não governamental The Nature Conservancy e as empresas Chevron,
General Motors e American Electric Power. O projeto pioneiro para Redução de
Emissões provenientes do Desmatamento e da Degradação Florestal (REDD+), além
de colaborar com a retirada de gases de efeito estufa da natureza e permitir a
restauração de uma grande área de Mata Atlântica foi capaz de estabelecer um
modelo sem precedentes para o desenvolvimento do potencial da região em
conservação da biodiversidade.
Imagens da Reserva
Natural da Guaricica no início das ações de restauração ecológica (2000) e no
final de 2019
Desenvolvimento científico,
cultural e econômico
Até
2018, as Reservas Naturais possibilitaram o desenvolvimento de 112 publicações
científicas e mais de 230 trabalhos de graduação, mestrado, doutorado,
pós-doutorado e projetos de pesquisas de instituições de ensino nacionais e
estrangeiras – como o Museu de História Natural de Karlsruhe, da Alemanha, e o
Earthwatch Institute, do Reino Unido. Desde o início das operações, foram
registradas 22 espécies de mamíferos de médio e grande portes, 400 espécies de
aves e mais de 1.000 espécies de plantas. Entre os registros estão descrições
de espécies novas para a ciência, como é o caso de uma cigarrinha (Guaricicana
borsegi) e de outros animais que não eram mais encontrados na região
há décadas, como a onça-pintada.
Desde
que as áreas das Reservas Naturais foram adquiridas e os trabalhos de manejo e
restauração foram estabelecidos, a educação para a conservação da natureza é
uma das principais prioridades da SPVS. A instituição desenvolveu diversas
ações para gerar compreensão sobre a importância de conservar a natureza,
envolvendo não só os funcionários, mas seus familiares e toda comunidade local.
“As histórias que o livro traz mostram que é possível capacitar e envolver uma
comunidade, demonstrando o valor do trabalho realizado nas Reservas e que a
conservação da natureza tem potencial para desenvolver uma região de diferentes
formas”, explica Monica Borges, gerente de parcerias corporativas da SPVS.
Com
esse objetivo, a SPVS pesquisa e estimula o desenvolvimento de atividades
econômicas que sejam compatíveis com a conservação da natureza. Cultivo de
banana orgânica, produção de mel com abelhas nativas e incentivo ao turismo
ecológico são alguns exemplos de iniciativas que resultaram no desenvolvimento
econômico nas cidades abrangidas pelas Reservas Naturais.
João
Amadeo é um dos parceiros locais que começaram a praticar o turismo de forma
cooperada. Dono da Pousada Chauá, João relata que a organização da Cooperguará
ofereceu maior segurança e motivação para turistas. Para Francelino Cogrossi,
outro exemplo de empreendedorismo na região, as mudanças e benefícios oriundos
das Reservas também são claros. “Antes, a população era muito menor e, mesmo
assim, percebemos que algumas espécies estavam desaparecendo, a caça e
exploração das áreas eram muito intensas. Hoje, vemos os resultados da
conservação da natureza”, conta Francelino na obra.
Grande Reserva Mata
Atlântica
Vista do Mirante da
Bandeira, em Reserva mantida pela SPVS no litoral do Paraná (Foto: Reginaldo
Ferreira)
A experiência de promover em conjunto conservação
da biodiversidade e economia regional inspirou a iniciativa Grande Reserva Mata
Atlântica, idealizada pela SPVS e que conquistou o apoio de centenas de
parceiros. A iniciativa busca promover o maior remanescente contínuo deste
bioma em todo o mundo com base nas suas riquezas locais, garantindo a geração
de empregos e renda a partir de atividades voltadas ao turismo de natureza e ao
turismo histórico-cultural.
A Grande Reserva Mata Atlântica é o principal
refúgio de espécies ameaçadas de extinção, abrigando uma enorme diversidade da
vida selvagem, com mais de 15 mil espécies de plantas e mais de duas mil
espécies de animais vertebrados. A iniciativa também é palco de uma grande
diversidade cultural, abrangendo 50 municípios que contém comunidades tradicionais
de diferentes grupos culturais, representados por caiçaras, indígenas e
quilombolas.
O diretor executivo da SPVS, Clóvis Borges
defende que iniciativas como essa podem estimular ações similares com apoio de
empresas privadas e a maior valorização das áreas protegidas e, por
consequência, levar a avanços sem precedentes no desenvolvimento regional, por
meio do conceito chamado Produção de Natureza. “As áreas naturais bem
conservadas garantem a provisão de inúmeros serviços ecossistêmicos, como o fornecimento
de água para comunidades e o equilíbrio climático pelo potencial de estoque de
carbono das florestas. Além disso, esta grande área contínua de Mata Atlântica
deve ser consolidada como um destino turístico. O turismo de natureza é um dos
setores promissores para a economia nos próximos anos, com oportunidades de
negócios e empregos para as comunidades locais. Além de promover o lazer,
aventura e bem-estar, essas atividades têm potencial de gerar conhecimento
sobre a conservação da natureza”, descreve. “Já para o próximo ano trabalhamos
para que as Reservas Naturais possam receber visitantes e serem reconhecidas
como um verdadeiro destino turístico”, acrescenta.
Evento
de Lançamento
A obra será lançada em evento online que se
realizará no dia 03 de dezembro, das 13h30 às 14h30, com transmissão online
pelo canal do YouTube da SPVS (/SPVSBrasil). Ao término do evento, o livro
estará disponível para download no website da instituição (www.spvs.org.br).
Ficha técnica
SPVS
lança livro que conta a história de 20 anos de manutenção de três Reservas
Naturais no litoral do Paraná (Foto: Reginaldo Ferreira)
Autoria:
Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – SPVS
Editora:
InVerso
Número de páginas:
224
Prefácios:
Carlos Manoel Amaral Soares e Miguel Serediuk Milano
Pesquisa e redação:
Claudia Guadagnin e Ricardo Gomes Luiz
Coordenação de
conteúdo: Adriani Baldini, Marina Pranke Cioato e Ricardo Gomes
Luiz.
ISBN:
978-85-5540-160-2
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