E agora, José?
A festa acabou, a luz apagou,
o povo sumiu, a noite esfriou,
e agora, José? e agora, você?
você que é sem nome, que zomba dos outros,
você que faz versos, que ama, protesta?
e agora, José?
(Carlos Drummond de Andrade,1942)
A leitura do
poema "José" de Carlos Drummond de Andrade, originalmente publicado
em 1942, coletânea Poesias, além de retratar o sentimento de
solidão e abandono de uma pessoa que reside na cidade grande, expressa ausência
de esperança, sensação de solidão e sentido na vida e uma incerteza de definir
que caminho tomar.
A essência do
poema ao ser remetido ao contexto de aprendizagem ao longo da vida permite uma
reflexão que se coloca em diferentes espaços do dia-a-dia.
O conceito de
“aprendizagem ao longo da vida” está associado com as formas como aprendemos
durante a nossa trajetória. Ao darmos os nossos primeiros passos, balbuciarmos
as nossas primeiras palavras, desenvolvermos a arte de comunicar e expressar
sobre a leitura de mundo, conseguimos estabelecer novas experiências e
relações, adquirir novos conhecimentos. Quando nada interrompe as conexões
cognitivas em nosso cérebro, o modo como aprendemos se torna tão essencial,
quanto o fato de respirarmos.
O aprender,
certamente perpassa a escola, a universidade, mas, podemos destacar que nas
instituições, espaços de formação e de aprendizagem formal, o que aprendemos de
essencial e relevante está diretamente relacionado às inúmeras experiências que
são construídas por nós durante as atividades informais e não formais. Essas
atividades que experimentamos advêm de inúmeras situações vividas e que nos
exigem o uso de linguagens: oral, sonora, corporal. Em meio a tudo isso, nossas
emoções e nossos sentimentos são testados quase que todos os dias, mas é na
“escola” que isso se apresenta de forma mais efetiva.
Por outro lado,
como fica o que aprendemos na “escola da vida”?
Hoje,
compreendemos que o processo de aprendizagem ao longo da vida, abarca processos
que acontecem durante as conversas com os amigos, quando assistimos à
televisão, lemos um livro, navegamos na Internet, do mesmo modo
quando refletimos e/ou imaginamos novos projetos para dias futuros. Porém, é
preciso entender que no poema “José” de Carlos Drummond de Andrade numa
perspectiva de educação ao longo da vida, está presente a pessoa de tenra idade
com sua bagagem histórica repleta de experiências que em alguns momentos foram
positivas, e em outros nem tanto assim, mas elas estão vivas esperando alguém
lhe dizer: - E, agora José? O que você tem aí na sua longa trajetória de vida
que possa me ajudar a resolver esta situação?
Atualmente é
preciso dimensionar os contextos de uma educação ao longo da vida, ampliar
nosso olhar para como as pessoas adultas e idosas são constituídas, muitas
vezes de maneira formal ou informal, e estão em constante aprendizado no longo
curso da vida.
Nesse sentido,
podemos destacar o Memorandum, um importante documento ratificado
em março de 2000 em Lisboa, pela Comissão Europeia que define a partir da
política de educação e formação, a aprendizagem ao longo da vida (lifelong
learning) como sendo “princípio diretor que garante a todos o acesso às
ofertas de educação e de formação que envolve diferentes contextos da
aprendizagem”. E, complementa que países da Europa se tornaram polos de
conhecimento e economia em virtude do acesso às informações e aos conhecimentos
mais recentes, despertaram para motivação de saberes que desencadearam resoluções
inteligentes de forma pessoal e coletiva. Muitas pessoas de tenra idade, hoje
planejam suas vidas, procuram contribuir ativa e positivamente na sociedade que
inclui diversidade cultural, étnica e linguística. Observaram que é a educação,
a chave para um novo aprender com o objetivo de superar desafios.
Por outro lado,
para descortinar o conhecimento é preciso estabelecer um “conceito novo” de
educação ao longo da vida, este que se coloque para a sociedade de forma
reveladora como um fenômeno societário, uma nova ordem educativa.
Contudo, é
preciso não caracterizar a educação ao longo da vida sob os aspectos de
“instrumentalização” e “emancipação”, pois o aprendizado de uma pessoa que
supera as fases do ciclo de vida está voltado para as novas oportunidades de
crescimento pessoal, desenvolvimento social, familiar, e principalmente,
sentir-se útil e obter estímulo e autonomia. Desta forma, oportunizar espaços
para atividades de uma educação ao longo da vida, desperta o aprender, os
sentidos, sentimentos, significados, necessidades, interesses e as expectativas
nas pessoas de terceira idade.
O aprender é uma
das capacidades e marcas essenciais dos seres humanos, ele acontece em qualquer
fase de sua vida e se expressa de formas diferentes, um outro desafio que
envolve conhecer-se e conhecer ao outro em meio ao universo de culturas que
estão nos formando.
Autora: Cristiane
Dall’ Agnol da Silva Benvenutti é mestre em Educação, professora do Curso de
Licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário Internacional Uninter.
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