Uma nova Era da Educação: peça-chave para o desenvolvimento pessoal e o futuro das sociedades

A educação ficou visível; a sala de aula rompeu as fronteiras da escola; os pais estão questionando, e nada será como antes. Mas, como será o futuro da educação? A Organização das Nações Unidas aponta que estamos diante de uma oportunidade geracional de redesenhar a maneira como estudamos e aprendemos.

Por Claudio Sassaki

Estamos diante de uma nova Era da Educação. A frase pode parecer demasiada, mas o que vivenciamos nos últimos meses comprova que não há exagero em refletir sobre a enorme mudança no modo de vida da humanidade. A pandemia nos trouxe muita dor e transformação. Por outra ótica, devemos reconhecer que momentos extremos funcionam como um acelerador da evolução. Acredito que isso aconteça, porque é da natureza humana se adaptar; mudar para estar à altura do desafio que tem de enfrentar. Nunca na história da humanidade tivemos um desenvolvimento de vacinas em um tempo tão curto. Para se ter uma ideia, a vacina que foi produzida mais rapidamente – contra a caxumba, na década de 1960 – levou quatro anos para sua conclusão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 140 estudos estão sendo desenvolvidos ao redor do mundo contra a Covid-19; desses, mais de 16 estão em fase de testes clínicos humanos. No entanto, mesmo com a vacina acessível, em um prazo que desconhecemos ainda, devemos estar preparados para as mudanças que foram aceleradas pelo contexto sanitário. Na educação, esse rápido avanço também ocorreu, e a atenção com os desdobramentos desse novo cenário será fundamental. 

O uso da tecnologia para manter a educação em um cenário adverso e inédito – pela impossibilidade de aulas presenciais – impulsionou o aprimoramento dos professores, que tiveram de se capacitar em tempo recorde. Os pais e responsáveis, por sua vez, nunca foram tão participativos; os alunos estão animados por poder usar nos estudos a tecnologia que está tão presente no cotidiano deles, mas que estava fora da escola. O fato é que quando trazemos a tecnologia com intencionalidade pedagógica para os estudos, ela se torna uma grande aliada ao potencializar e otimizar o trabalho do professor, e, assim, a educação convencional sofre mudanças. Como pai, tenho acompanhado de perto os desafios de aprendizagem e engajamento dos meus quatro filhos; essa experiência me trouxe a certeza da premissa de que a tecnologia é parte de um processo que trouxe essa nova Era da Educação.

Que fique claro que não estou dizendo que existem somente ganhos na educação em tempos de aulas remotas. Há críticas, inclusive, que apontam que o ensino on-line não funciona; que os estudantes estão ansiosos para voltar às aulas presenciais; que o aprendizado não está sendo o mesmo de condições regulares; que há múltiplas plataformas sem integração ou conteúdo adequado; que o tempo e esforço gastos para a produção de aulas e atividades comprometeram a rotina do professor; que os profissionais estão exaustos, lidando com horários alternativos. Há baixo controle e baixa visibilidade do engajamento do aluno e da eficiência dos professores; e as famílias estão sobrecarregadas e com fraca percepção da qualidade das aulas.

Entendo a validade das colocações e percebo que muitas das soluções adotadas no momento de urgência não são sustentáveis e não atendem às necessidades educacionais. Porém, ressalto que essa nova Era da Educação trabalha na perspectiva do ensino híbrido – modalidade que integra as melhores práticas educacionais off-line e on-line; nesta metodologia, há momentos em que o aluno estuda sozinho, aproveitando ferramentas on-line e, em outros, a aprendizagem acontece de forma presencial, valorizando a interação entre alunos e professores. Essa, aliás, é a visão de futuro do Fórum Econômico Mundial e da Organização das Nações Unidas (ONU).

O grande desafio será a habilidade de adaptação. Infelizmente, temos um cenário complexo e que requer extrema atenção para lidar com um momento para o qual nunca nos preparamos. A decisão do retorno às aulas presenciais deve ser objeto de um amplo debate propositivo entre toda a comunidade escolar. Independentemente da decisão, a escola terá que ser rápida nessa alternância entre o ensino remoto e o presencial; deverá atender a critérios de como educar de forma individualizada e, também, em grupo. Neste futuro próximo, é muito provável que tenhamos alunos em casa e nas escolas – cada grupo com necessidades próprias e demandando atenção específica para os contextos presencial e remoto. Um exemplo, um mesmo estudante terá momentos na residência e, outros, na sala de aula – cenário que demanda duas escolas rodando ao mesmo tempo. Se, hipoteticamente, um aluno que estava tendo aulas presenciais apresentar sintomas da Covid-19 ou tiver algum familiar nessa situação, esse colégio terá de estruturar aulas remotas para a sala inteira. O que quero dizer? O cenário traz a urgência de que os gestores sejam flexíveis e ágeis para conseguirem intercambiar formatos não apenas para salas, mas para pequenos grupos e até para indivíduos, sobretudo quando os pais não se sentirem confortáveis para liberar o filho para ir à escola.

De acordo com o report Policy brief: Education during Covid-19 and beyond, conduzido pela ONU, em meio à maior crise na educação global – que atingiu escolas de mais de 160 países, afetando mais de 1 bilhão de estudantes no mundo –, temos uma oportunidade geracional de redesenhar a forma como ensinamos. Em uma mensagem bastante propositiva, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, afirmou que a educação é peça-chave para o desenvolvimento pessoal e o futuro das sociedades por desbloquear oportunidades e reduzir desigualdades. Mais do que isso, é o alicerce para nos tornarmos mais informados e tolerantes, sendo o principal impulsionador do desenvolvimento sustentável. Ele chama a atenção para todo o esforço que tem sido feito para manter o ensino a distância com o apoio da tecnologia; na importância de investir na alfabetização digital e em infraestrutura.


Na minha análise, pensar nessas alternativas para redesenhar a educação é refletir sobre o papel da tecnologia que, nessa nova era, surge como uma aliada do professor, do aluno e da escola. Vamos usufruir o melhor dela e conseguir usar de forma mais racional o tempo presencial dentro da escola. A pandemia trouxe, sobretudo para os alunos, a percepção do quanto é precioso o tempo no colégio; a troca que esses momentos propiciam. Na prática, todos os atores da comunidade escolar passaram a valorizar o estar juntos. Nesse sentido, a tecnologia passou a ser um elemento que auxilia a qualificação desse novo olhar para a educação. E esse é, aliás, um fenômeno global – não é uma exclusividade do Brasil.

 Estávamos, antes da pandemia, diante de uma mudança inevitável. Muitas escolas já tinham começado o processo de trazer mais tecnologia para dentro das salas de aula – como resposta à forte demanda de preparar os estudantes para o século XXI –, mas muitas ainda relutavam em abandonar o modelo tradicional. Com a necessidade do distanciamento social, percebemos as possibilidades trazidas pela tecnologia. E como vai ficar o futuro? Em um artigo assinado por Sandy Mackenzie, diretora da Copenhagen International School (Dinamarca), e Poornima Luthra, consultora externa da Copenhagen Business, as autoras especulam que há quatro maneiras de a Covid-19 mudar a forma como educamos as gerações futuras. Vamos ter que educar cidadãos em um mundo interconectado; redefinir o papel do educador; ensinar competências necessárias para a vida no futuro – estamos falando de habilidades socioemocionais e da capacidade de resolver problemas jamais vistos –; e integrar tecnologia a processos educacionais. Mas, essa é apenas uma parte dessa nova Era da Educação; muito mais está por vir.


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