Convidada para participar do IX CBUC, a
palestrante Maria Isabel Amando de Barros, defende as áreas protegidas como
lugar de encontro entre a criança e a natureza
É
com quatro passos simples de contato com a natureza que Maria Isabel (Bebel)
Amando de Barros, engenharia florestal e pesquisadora do programa Criança e
Natureza do Instituto Alana, deve iniciar sua palestra no IX Congresso
Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), marcado para acontecer entre os
dias 31 de julho e 2 de agosto, em Florianópolis (SC).
Bebel
é uma defensora da conexão das crianças com a natureza e ressalta a importância
do papel das áreas protegidas nas experiências da infância. Em seu trabalho
como pesquisadora, a palestrante defende a importância do contato diário entre
as crianças e os espaços abertos desde o início da vida - prática que vem sendo
abandonada há muitos anos e, por consequência, trazendo sérios problemas para
as crianças. “Espaços naturais e abertos estimulam o desenvolvimento e a
socialização. Se privamos as crianças e os jovens dessas oportunidades uma
parte significativa de sua experiência de vida é perdida”, revela a
pesquisadora.
Especialistas
na área têm verificado que as crianças estão passando muito tempo confinadas
dentro de casa, mostrando que está cada vez mais difícil encontrá-las brincando
ao ar livre nas ruas das cidades brasileiras. “Diante deste cenário, é papel de
toda sociedade encontrar formas de estimular a autonomia e a liberdade de
movimento e exploração das crianças e jovens”, analisa Bebel.
As
pesquisas sistematizadas pelo programa Criança e Natureza, do Instituto Alana,
elencam diversos benefícios para aquelas crianças que brincam ao ar livre. São
eles: o estímulo de todos os sentidos, o aprendizado mais ativo e explorador, o
favorecimento de vínculos, a inspiração a momentos de concentração, o estímulo
da atividade física e a redução da violência. Esses benefícios extrapolam a
saúde física e contribuem para o desenvolvimento integral da criança, ao mesmo
tempo que favorecem o desenvolvimento de sentimentos de pertencimento e cuidado
com a Terra.
Muitos
desafios
Atualmente,
as cidades contam com cada vez menos espaços para as áreas verdes. Além disso,
por causa da insegurança que permeia toda vida urbana as crianças tendem a
ficar longe de espaços abertos e estão sempre sendo supervisionadas em tudo o
que fazem. Dessa forma, são poucas as oportunidades que elas têm de brincarem
soltas e de experimentarem a sensação de liberdade e vínculo estreito com as
áreas naturais.
Os
quatro passos simples citados pela pesquisadora fazem parte de uma progressão
que inicia com o contato diário com a natureza próxima e vai progredindo para
contatos mais prolongados em áreas maiores e mais conservadas. A base da
pirâmide instiga o brincar livre à céu aberto todos os dias, quando a criança
tem a chance de ficar descalça, manipular a terra, subir em uma árvore etc.
Acima dela há atividades como jardinagem e observação de pássaros quando a
criança têm a oportunidade de ficar mais tempo ao ar livre em uma área um pouco
maior, geralmente no final de semana.
O próximo passo pode ser um passeio
mensal a um parque urbano onde é possível fazer trilhas, andar de bicicleta ou
fazer um piquenique; e, no topo da pirâmide estão as atividades anuais, quando
o desafio é buscar áreas mais remotas e selvagens na natureza, como os parques
nacionais.
“O
maior obstáculo está na inclusão da natureza na rotina das famílias. As
dificuldades são muitas e passam pela falta de tempo ao custo alto para ir a
determinado local, seja um parque, com trilhas e cachoeiras, ou uma praia. Mas,
na verdade, o que precisa ser entendido é que é fundamental incluir tempo na
natureza na vida das crianças e para isso não é preciso viajar para longe. Um
passeio na rua no final do dia ou um piquenique no parque no final de semana
fazem muita diferença.”, define a pesquisadora.
No
entanto, Bebel explica que o papel das unidades de conservação nesse contexto é
muito importante também, ao promover experiências únicas e transformadoras.
“Essas áreas protegidas oferecem vivências mais profundas, quando a criança
entra em contato com áreas mais conservadas e livres das interferências
humanas. A experiência nesse caso é um pouco mais grandiosa. Ver bichos que não
encontramos nas cidades, paisagens impressionantes, cavernas e cachoeiras
enchem os olhos de qualquer criança, e até mesmo dos adultos”, brinca.
Discussão
aberta ao público
O IX
Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), realizado pela Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza, periodicamente desde 1997, é um dos
mais importantes fóruns da América Latina sobre áreas protegidas, seus desafios
e sua importância para a sociedade. Neste ano, em sua nona edição, o evento
acontece em Florianópolis (SC), entre 31 de julho e 2 de agosto de 2018. “Em
2018, O CBUC terá uma programação abrangente, que inclui conferências,
palestras, simpósios, Mostra e Arena que possibilitam ao público presente ter
contato com iniciativas e projetos inovadores”, destaca a diretora executiva da
Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.
Bebel
falará na tarde do dia 2 agosto, dentro do Simpósio “Ecoturismo como estratégia
para a conservação de áreas protegidas”, sobre o tema “O papel das unidades de
conservação nas experiências das crianças com - e na – natureza”. Na manhã do
mesmo dia, dentro da programação da Arena Haroldo Palo Jr., a pesquisadora do
Instituto Alana também lidera uma discussão sobre a conexão das crianças com a
natureza, que será aberta ao público e terá a participação de Cheryl Charles,
Ph.D., fundadora e CEO emérita da Children
& Nature Network, nos EUA.
“Neste
segundo encontro, o debate será sobre mesmo assunto, mas Cheryl trará sua
experiência de como esse movimento tem acontecido no mundo, enquanto eu focarei
mais na relação do tema com as UCs. Serão duas visões distintas sobre o mesmo
assunto, mas que se complementam”, analisa Bebel.
A
discussão trará exemplos de ações e estratégias concretas aplicadas em
diferentes lugares onde a criança vive, aprende e brinca, mostrando
experiências positivas e transformadoras que contribuem para o desenvolvimento
físico, cognitivo, emocional, social e simbólico da criança, bem como para seu
vínculo com a Terra. “Nesta edição de 2018, o CBUC tem como tema ‘Futuros
Possíveis: Economia e Natureza’, e a discussão sobre a relação das crianças e
jovens com a natureza vem para complementar os assuntos tratados durante os
três dias de Congresso, principalmente mostrando que, com o envolvimento delas
na conservação da natureza, o futuro é muito mais promissor”, destaca a
diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.
As
inscrições para o IX CBUC continuam abertas e os valores são R$ 800 (inteira) e
R$ 400 (meia-entrada) até 19 de julho. No dia do evento serão R$ 1.000
(inteira) e R$ 500 (meia-entrada), mediante disponibilidade de vagas. As
categorias válidas para meia-entrada são: estudantes, idosos, portadores de
deficiência, jovens carentes de 15 a 29 anos, doadores de sangue; funcionários
públicos de órgãos ambientais; profissionais de ONGs; e proprietários de
Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).
A
programação do IX CBUC está disponível no site
www.fundacaogrupoboticario.org.br/cbuc.
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